2025 acaba de sair da fotocopiadora

2025 acaba de sair da fotocopiador

Entramos em 2025, mas podíamos estar em 1925. Ou talvez em 1825. A diferença? Agora temos Wi-Fi e fast-food a cada esquina, mas o cheiro podre da velha ordem nunca desapareceu. Portugal, o país dos brandos costumes e das grandes ilusões, continua a navegar à deriva num barco que já nem madeira tem. Chamamos-lhe democracia, mas é só uma jangada cheia de buracos onde os ratos se multiplicam e ninguém parece ter forças para remendar.
Os políticos? São fantoches com fatos caros, marionetas de um sistema que apenas recicla o mesmo lixo. Trocam-se cadeiras, mudam-se as cores, mas o jogo permanece. É um teatro onde a plateia já nem aplaude; apenas boceja e suspira de frustração. Todos prometem revoluções em tons pastel, mas quando a tinta seca, só fica o cinzento da burocracia, da inércia, da corrupção embalada em discurso técnico.
E o povo? O povo continua de joelhos, mas já não reza. Não há mais santos a quem clamar, nem messias por vir. A única coisa que resta é o peso de uma vida onde a sobrevivência é a prioridade, e a esperança é um luxo para os tolos. Nietzsche tinha razão: Deus está morto. Mas esquecemo-nos de enterrar a ideia de que o Estado o substitui. Continuamos à espera de salvação, como se o próximo orçamento de Estado ou a próxima eleição fosse mudar alguma coisa.

Olhamos para a Assembleia da República e vemos profetas travestidos de novas promessas . Olhamos para as ruas e vemos o proletariado domesticado, com as costas dobradas, mas as bocas caladas. Já não há barricadas nem gritos de revolta. A polícia é o novo Leviatã, pronta a esmagar qualquer faísca de insurreição. E o que resta de luta política é um carnaval de hashtags e selfies, um desfile de egos onde a palavra “resistência” se perdeu entre os filtros do Instagram.
Portugal tornou-se numa metáfora de si mesmo. Um país que se diz livre, mas onde a liberdade é uma piada amarga. Somos como aquele prisioneiro que já nem sonha com a fuga porque a cela se tornou confortável. E, afinal, para quê lutar? O pão continua a chegar à mesa, mesmo que cada fatia esteja mais fina. E o vinho ainda corre nos copos, mesmo que já não embriague.
Os sonhadores avisaram-nos, mas ninguém quis ouvir. O Estado não é o salvador; é o carcereiro. E enquanto continuarmos a colocar a nossa fé em líderes, partidos, e instituições podres, seremos cúmplices do nosso próprio fracasso. Rousseau falava do “contrato social”, mas já é hora de rasgar essa porcaria. Não há contrato que valha quando as regras do jogo são feitas para nos manter submissos.
2025 não será o ano da mudança. Será mais um capítulo desta longa história de apatia e submissão. Mas talvez, no fundo do fundo, essa desesperança seja o que nos resta de mais honesto. Porque só quando aceitarmos o vazio, só quando deixarmos de acreditar na mentira coletiva, poderemos começar a sonhar com algo diferente. Não com mais partidos ou reformas, mas com a demolição completa deste circo chamado política.
E quem sabe? Talvez, no meio das ruínas, possamos finalmente encontrar um significado para tudo isto. Ou talvez não. Afinal, como diria Camus, a única questão filosófica realmente séria é se devemos ou não acabar com tudo. E em Portugal, essa pergunta ecoa em cada esquina.

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