Sem entrar na polémica dos elevados níveis de testosterona das atletas que, supostamente, lhes conferem superioridade competitiva, preocupa-me que a “marginalidade” e a “ideologia” mundana se apodere do espírito olímpico, porque a política já deles se tinha ocupado.
É o caso das modalidades do skate, do basquetebol 3×3 e do surf, que se estrearam nos jogos de Tóquio em 2021, e do breakdancing, que surge em Paris pela primeira vez. O hóquei em patins (ao contrário do hóquei de campo), modalidade coletiva e altamente competitiva, apenas foi incluída como desporto de demonstração nos jogos olímpicos de Barcelona em 1992.
Os jogos da XXXIII Olimpíada decorrem em França (em Paris e mais 16 cidades da metrópole francesa) e no Taiti, a maior ilha da Polinésia francesa, que era parte do reino do Taiti até à sua anexação pela França, em 1880, quando foi proclamada colónia francesa. Afinal nem todos os povos tiveram direito à sua autodeterminação e, muito menos à prosaica “reparação” que alguns políticos da nossa praça agora convocam nos seus discursos de ocasião.
Após a invasão russa da Ucrânia, o comité olímpico internacional suspendeu os comités olímpicos da Rússia e da Bielorrússia por violarem a chamada trégua olímpica. No entanto, atletas russos e bielorrussos puderam competir como “atletas individuais neutros”, portanto sem identificação nacional e sem serem considerados uma delegação nacional, desde que não apoiem “ativamente” a guerra. Curiosa dualidade de critérios, uma vez que o estado sionista de Israel invadiu Gaza e aquela discriminação não foi aplicada aos seus atletas, como os Estados Unidos já tinham invadido o Iraque na segunda guerra do golfo (2003) e puderam participar enquanto país nos jogos olímpicos, como aconteceu em Atenas (2004) e Pequim (2008). Após esta invasão nenhuma evidência substancial foi encontrada para apoiar as acusações de que o Iraque possuía armas de destruição em massa, enquanto a hipótese de que Saddam Hussein tinha laços com a al Qaeda se provou falsa.
Estes jogos olímpicos de verão provam, mais uma vez, que a análise isenta e livre dos problemas não tem hoje lugar e que o “wokismo” (na sua aceção do politicamente correto) é hoje a matriz ideológica da esquerda, que não mais os direitos laborais e sociais dos trabalhadores e as condições de subsistência das populações, num mundo em que o fosso entre ricos e pobres se agrava a olhos vistos e ninguém se parece importar.