A origem da palavra “obsceno” é nebulosa, mas algumas fontes apontam o seu significado para algo como “aquilo que está fora de cena”.
Vamos mais longe e digamos que obsceno é aquilo que deve estar fora de cena, que não deve ser exibido.
A palavra “dever” implica necessariamente uma ordem moral, e é aqui que a nossa conversa se torna custosa. O culto que existe hoje ao relativismo opera como um agente entrópico na evolução da comunidade humana, causando bloqueios e fracturas em qualquer tentativa de discussão sobre temas elementares.
A primeira questão que surge na mente contemporânea é “mas quem tem o direito ou o privilégio de decidir o que deve ser exibido ou não?” Daqui se partiria facilmente para argumentos sobre liberdade de expressão, hegemonia, opressão, censura, patriarcado, capitalismo, fascismo, e por aí fora, sem que se chegasse a ter uma verdadeira e salutar dialéctica. Mas antes de cairmos em abstrações, olhemos para a realidade: este é o primeiro momento na história em que qualquer pessoa pode assistir a obscenidades (pela indústria de entretenimento ou pela comunicação social), desde a violência bélica à pornografia, durante TODOS os dias da sua vida.
Pensemos no seguinte: nem um guerreiro medieval via sangue, tripas, enfim, cenários grotescos, durante TODOS os dias da sua vida. Mas o mais simples Zé Manel que vive na aldeiazinha, tendo acesso a uma televisão ou a um computador, pode, se quiser, alimentar-se de tragédia, desgraça e despudor, transformando isso até em vício. Não é preciso muito, basta assistir o telejornal e algumas séries várias vezes na semana. Nos meios urbanos o risco de entrar nesse círculo vicioso é incomensuravelmente maior.
O homem comum contemporâneo tem contacto com a desgraça, a tragédia e o despudor a um nível que o enlouquece. Psicologicamente ele é forçado a produzir uma dessensibilização que pode tocar a neurose, cuja consequência, não raro, vem a ser a total descrença no Bem, ou então, a crença de que o Bem deverá ser construído por meio de aparelhos burocráticos, ou até da força. Em qualquer dos casos, ele já perdeu a noção do que é, objectivamente, o Bem.
Não se trata agora de censurar ou esconder a parte grotesca da realidade, mas sim de entender de que modo a exposição persistente a ela avilta o ser humano e, por consequência, a humanidade inteira. Este vício de imediatez, que nasce da preferência pela emoção em detrimento do intelecto, produz uma ilusão de realidade. A vida, na sua universalidade, não é como diz o conjunto dos conteúdos mediáticos. E sem uma visão metafísica coerente e assente na realidade, a pessoa desfragmenta-se perante a falta de sentido.
Faz falta, então, recuperar algum pudor por amor à nossa sanidade mental. Faz falta reconstruir a base moral que mantém a humanidade num caminho evolutivo (e não decadente e revolucionário). Para tal, não basta determinar um conjunto de regras arbitrárias, não basta lutar pela preservação de costumes por si só, mas é preciso alcançar a compreensão de que o Amor é uma Pessoa, e só mergulhando Nele nos tornamos capazes de produzir, com Ele, os bons frutos. E essa Pessoa é Deus.