Agosto, Férias e Depressão

O mês de Agosto, em Portugal, é rei no que a férias diz respeito. O gozo de férias é um direito consagrado na Constituição da República artigo 59.º b) e pode ser gozado em diferentes meses do ano. 

Porém, enquanto uns fogem deste mês, porque há uma maior afluência e concentração de pessoas e mais dificuldade no trânsito- fora das grandes cidades- ou maior dificuldade em aceder a restaurantes, supermercados, ou a praias e a eventos, outros não dispensam a magia que Agosto tem. Muito semelhante àquela que o mês de Dezembro.

As pessoas estão muito mais sorridentes e quiçá tolerantes para com terceiros. O ambiente é de festa, porque o mês e o clima, assim o proporciona.

Reveem-se amigos e familiares ou simplesmente conhecidos num ambiente de descontração próprio do momento. As tardes prolongam-se noite dentro em magníficos por de sóis, agora chamados de sunsets, numa esplanada qualquer, espremendo até à ultima gota recordações de outros anos ou da juventude bem ou mal passada, mas que todos reportam como heróica e inigualável.

Naqueles momentos há um nivelamento muito igualitário e concordatário. Mesmo com diferenças de idades, de dez ou vinte anos, ali, falam todos de uma passado comum, como se fosse vivido nas mesmas circunstâncias e no mesmo tempo. Estão dispensadas as fúteis teimosias.

Actualiza-se a árvore da vida, no que concerne à família, aos amigos e à sociedade, porque, passados uns anos, os mais novos já nos fugiram de vista, estão irreconhecíveis, já são Pais ou Mães, e outros Avôs ou Avós.

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Mas a árvore continua a aumentar os seus ramos embora, pelo meio, outras pernadas significadamente importantes definharam podados pela ceifa, justa ou injusta, da implacável morte mas deixaram gravadas, como ferro em brasa, recordações inapagáveis.

Até nestas coisas o mês de Agosto tem o condão de aproximar as pessoas e de as pôr a convergir, sem discussões, apenas desfrutando da benevolência do momento.

No mais recôndito lugar de uma aldeia, em que durante os restantes onze meses vive na quietude que a despovoação confere, Agosto traz-lhe uma alma nova, vozes novas onde antes imperava o silêncio do vazio.

Há lugares na aldeia que se renovam, casas que abrem portas e novos sons que se fazem sentir. Há motores a roncar ou gargalhadas vindas de convívios familiares, por entre acordes musicais alegres.

Nas ruas da aldeia, o movimento não é o de sempre, é outro e tem outra dinâmica trazida, também, por forasteiros mirando-nos como se fossemos extra-terrestres, que nos visitam, e dos quais nada saberemos.

E, como é evidente, há as festas que, orgulhosamente, todas as aldeias promovem numa fartura sem comparação.

Subjacente a tudo isto, está a ansiedade e a depressão daqueles que têm que partir, de rumar aos seus locais de trabalho, mas também de enfrentar o temível mês de Setembro que tem o condão de nos levar, de novo, ao planeta Terra e a todos os problemas que a partir daí advirão.

O primeiro são as muitas despesas do início de uma novo ano escolar ou universitário, com todas as despesas inerentes e esquecidas no mês de Agosto. É o primeiro e violento abanão de eventuais excessos de Agosto.

 

(José Venade não segue o actual acordo ortográfico em vigor).

* O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

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