Fui cumprimentada, desta forma simpática, num destes dias em Barcelos.
Já não me lembrava de ouvir esta expressão. Era comummente, usada pelas pessoas de mais idade, quando se referiam aos nossos pais ou familiares, cuja idade era superior à destas pessoas.
O Senhor Duarte actualmente com 85 anos, conheceu o meu pai.
A última vez que o encontrou, tinha o meu pai cinquenta e três anos, tendo falecido três anos depois.
O meu interlocutor estaria nessa altura, quase na casa dos trinta anos, e já estava casado e com filhos.
Nesse dia encontraram-se em Barcelos, almoçaram juntos, e recordaram as muitas vezes que foram pescar juntos, e pôr a conversa em dia.
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Confirmei de facto, que tinha conhecimento deste gosto de meu pai.
Entre as longas viagens de navio, entre Portugal e o Brasil, quando chegava a casa, adorava passear pelos bosques, de cana de pesca ao ombro e experimentar riachos e ribeiras de água límpida para pescar.
Obviamente, quando era acompanhado por algum amigo de longa data, a conversa fluía e sempre sobre assuntos diversos.
O meu pai sentia um fascínio especial, por animais exóticos ou impossíveis de domesticar.
Refiro-me aos jacarés (dos quais tenho dois exemplares pendurados), empalhados e bem cuidados. De uma pele de cobra, que mantenho guardada. De inúmeras serigrafias de pássaros brasileiros, de penas coloridas e espectaculares.
Livros sobre estes e outros assuntos, assim como, livros e revistas sobre política, no período da segunda guerra mundial.
O caçula Duarte como o meu lhe chamava, vivia também no concelho de Ponte de Lima e coincidiram, no mesmo tempo e espaço. Havendo no entanto mais de trinta anos de diferença. O tal caçula convidou- me para um café e referiu que ficava encantado a ouvir o meu pai falar sobre a viagens e negócios que tinha feito. Mas sobretudo vibrava com a narrativa. O conhecimento das praias do Rio de Janeiro, a vida “burguesa” em S.Paulo, as senhoras brasileiras nos jardins, e a desfilarem à beira mar.
Era um mundo fantástico que lhe era apresentado.
De repente lá picava um peixe, e o meu pai tirava- o do anzol e atirava-o ao rio ou lago, se não tivesse o tamanho adequado.
Nas traseiras da bouça de “monte além”, propriedade do meu pai, existia uma lagoa natural, onde eles por vezes pescavam trutas, lúcios, carpas etc. A água era fresca e sempre renovada, pela nascente do monte. As rãs e os girinos saltavam e mergulhavam na água. Eram momentos mágicos, para este caçula, pescador de meio metro.
Súbitamente este senhor octogenário, olhou para mim, e com os olhos marejados de lágrimas, disse-me calmamente que o senhor meu pai, era de facto um Senhor. Admirado por muitos conterrâneos, e um convidado sempre presente nas festas, sempre que estava em Portugal. As senhoras solteiras, não o largavam. Queriam saber das modas, dos sapatos, da cor do batom etc. E depois queriam sempre dançar com ele.
Nunca nenhum convívio acabava, sem antes o meu pai contar, a última incursão por terras mais agrestes, que fazia na companhia de um amigo, que tinha uma fazenda em Minas Gerais, cuja capital agora é Belo Horizonte.
Esse amigo também empresário, casado e com filhos, divertia-se fazendo excursões com a família até à Mata Atlântica que era uma das mais ricas do Brasil. Sobretudo pela enorme variedade de fauna e flora.
Entendi que iria ouvir uma sequência de acontecimentos interessantes.
Assim foi, o meu pai falou de aves, peixes e répteis que ninguém conhecia. Da enorme cobra que viram, dos jacarés, das aves, das árvores altíssimas, dos rios, lagos e peixes diferentes dos nossos.
E por fim dos grandes riscos que, eles os homens, corriam quando faziam pequenas explorações a pé.
Era esta vida mágica, de sonho, quase de filme, que as pessoas adoravam ouvir. Sem televisão, sem documentários, sobre a natureza dos diversos países. Estes registos, contados na primeira pessoa, estando aquelas plateias familiares, ávidas de novidades de outros mundos, devia ser de facto fascinante.
Único para mim, foi de facto encontrar alguém vivo, que ainda se lembrava do meu pai. De como era um grande comunicador, amante da beleza, artes e apreciador e respeitador da natureza.
É que eu posso contar pelos dedos de uma mão, as pessoas que ainda se lembram do meu pai.
Por isso, meu amigo/a aproveite, a presença do senhor seu pai, e da senhora sua mãe, para os conhecer bem, se ainda tem essa oportunidade.
Curiosidades:
“”Esse local de Minas Gerais, devido aos seus três biomas – Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga – era uma das mais ricas do Brasil. Sabe-se que graças à fartura de rios, lagos, lagoas, há uma vasta diversidade de peixes: das 3 mil espécies brasileiras, 380 ocorrem em Minas (12,5%). E das 1.678 espécies de aves brasileiras, 46,5% (780 delas) foram verificadas no Estado de Minas Gerais, várias endémicas, como o joão-cipó (Asthenes luizae) que habita os campos rupestres da Serra do Espinhaço. Há em Minas Gerais 190 espécies de mamíferos não-aquáticos – o que representa 40% dos catalogados no Brasil; 180 espécies de répteis entre serpentes, lagartos e jacarés, com destaque para as 120 de serpentes – quase metade das catalogadas no país; 200 espécies de anfíbios – um terço das que ocorrem no país – sendo vários os gêneros endêmicos de anuros (sapos, rãs e pererecas) da Mata Atlântica e das serras do Cipó e da Canastra.””
4 comentários
Bonito homenaje a su Senhor pai.
Vida espectacular de esos hombres que emigraron hace tantos años, y de los amantes de la inmensa diversidad de la naturaleza y fauna brasileira.
Parabens!!
Ah! Conocí in situ la cocina mineira.
Muito obrigada, pela sua apreciação.
É bom saber que ainda há portugueses que se identificam com estas realidades.
Arlinda Rego Magalhães.
Gostei de tudo o que li.
Gosto de estar informada
Obrigada
É BOOOM DEEEMAAAIIISSS…quando encontramos alguém que conheceu um dos nossos progenitores…relembramos o convívio, as festas com os amigos e familiares…