Alexandra Vieira de Almeida: Carlos Drummond de Andrade, a força enigmática das palavras

Alexandra Vieira de Almeida

Escritora e Doutora em Literatura Comparada

Um dos livros de que mais gosto do imenso poeta Carlos Drummond de Andrade é Claro enigma (1951) e já, no título, indico minha preferência.

Tenho uma paixão pelos enigmas, a profundidade e complexidade das questões que não se resolvem, mas que se abrem como numa profusão poética, que permanece no ar, em sua dinâmica etérea. Se há um enigma, por que claro? Já explico a pergunta, mas sem uma resposta definitiva, mas que leva a outro questionamento. Eis o desdobramento que percebo neste livro excepcional, na sua dinâmica de claridade/escuridão. Aprendi com um professor de filosofia, na época em que cursava minha graduação em Letras, que a poesia deve mostrar imagens inusitadas.

Drummond tem esta maestria a partir do seu dom paradoxal, que ao mesmo tempo em que somos levados para dimensões cotidianas, da crônica, trazer a crônica para a poesia e desta, para a crônica, carrega seus textos neste livro, por ora aqui apresentado, para elevações da sublimidade, da filosofia e da universalidade. Enigma, porque não responde, claro, porque ilumina as questões para os leitores, não no sentido de explicar facilmente, mas de vivificar sua força reflexiva, portanto enigmática.

Somos levados a caminhar num labirinto de vozes vivificantes que percorrem trilhas que nos põem em dúvida, que se bifurcam e os caminhos nos podem fazer pensar na aurora da escolha, mas também no fraquejar, no duvidar, que nos mostra o ponto de interrogação. Talvez, numa floresta infinita, o que só seja válido é o seu caminho e não o atingir uma conclusão, a meta final, a saída tranquilizadora. Porque seu objetivo não é nos tranquilizar, mas nos impactar com sua força de tempestade, de terremoto, que nos agita, açula, movimenta. E para escolher o poema mais representativo deste belo livro, temos “A máquina do mundo”, importantíssimo para nossas letras, para o mistério do mundo.