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Alice Costa é uma das últimas rosqueiras monçanenses

As roscas são um doce típico do concelho raiano. Com muitos anos de existência há ainda alguns exemplos de monçanenses que preservam a tradição de as confeccionar. Maria Alice Costa é das últimas rosqueiras do concelho. É da freguesia de Ceivães, onde nasceram os rosquilhos. Ainda hoje faz questão de participar em todas as festas e feiras típicas do concelho e dos concelhos vizinhos A tradição poderá estar ameaçada. Pedem uma ajuda do Município para a preservação de uma tradição.
Maria Alice Costa é de Ceivães e aprendeu com a avó. Actualmente conta com vários ajudantes para a confecção das roscas e dos rosquilhos. Quando se iniciam as festas e romarias não tem descanso. Seja na confecção seja na venda, Maria Alice não consegue ficar afastada daquela que é uma das sobremesas típicas do concelho raiano.
Com 66 anos aprendeu ainda nova e cedo gostou. Apesar de ter tido várias profissões, quando chegava o verão e as festas eram uma constante pelo concelho, Maria Alice percorria terra a terra com os cestos das roscas.


“Aos rosquilhos introduzi algumas alterações, porque antigamente eram mais magrinhos e eram mais duros. Fiz a mudança porque antigamente os rosquilhos eram mais baratos do que as roscas e estar a fazer rosquilhos, perder o mesmo tempo e vender por metade do preço não compensa. Aumentei ao tamanho e pus ao mesmo preço das roscas. Antigamente havia também menos produtos”, explicava Maria Alice Costa.
Com várias rosqueiras naquela freguesia do Vale do Mouro, Maria Alice mantém-se no ativo e não imagina o futuro. “Eu gostava que alguém seguisse. Tenho netos e pode ser que alguém se interesse. Acredito que um neto será pasteleiro. Vai ao livro da mãe e já escolhe. É uma tradição que se deve manter, mas precisam de ajuda”.
A emoção é visível quando se fala do futuro, e o marido também confidencia, que “nós já não precisamos disto, mas se lhe acabo com isto ela morre”. Com alguns problemas de saúde já não pode pôr mãos à massa, mas mesmo assim faz questão de acompanhar o processo todo.

Roscas e rosquilhos tem massas diferentes

A massa das roscas e dos rosquilhos não é igual. Uma pode ser feita com dois dias de antecedência e a outra na véspera. “A massa das roscas é uma. Até porque esta pode ser amassada no dia anterior e começar a cozer de manhã cedo. E os rosquilhos não. Temos de os amassar e esperar que levede”, pormenoriza. Acrescentando que os ingredientes são semelhantes com a excepção do fermento. “A massa dos rosquilhos quase que leva os mesmos ingredientes. A diferença está no fermento. Enquanto os rosquilhos levam fermento de padeiro, as roscas levam amoníaco, e menos manteiga. Quanto ao açúcar, enquanto as roscas absorvem menos, os rosquilhos mais, porque o paladar deles é o açúcar. Eu não lhes deito funcho, mas sim incenso de anis. De funcho não lhes deito, porque há muitas pessoas que não gostam. Esta é a receita tradicional da minha avó”.
No passado as roscas eram vendidas nas festas e os rosquilhos nas feiras. A diferença devia-se ao peso de cada um. “Para as festas só se levavam as roscas. Antigamente ia-se a pé e os rosquilhos são mais pesados”, refere. Numa festa da Senhora da Vista não tinha roscas suficientes e decide confeccionar rosquilhos. O sucesso foi tal, que ainda antes do final da cerimónia religiosa já não tinha nada na cesta. A partir daí “não havia festa nenhuma que não levasse rosquilhos”.
Agora a venda é feita pelo concelho, mas também em festas das freguesias dos Arcos de Valdevez e Melgaço. “Até tenho clientes de Vila do Conde. Uma nora minha dá aulas lá em baixo e quando vêm cá compram-me roscas e rosquilhos”, revela, com orgulho.
A quebra na venda foi inevitável, mas para contornar isso mantém o preço desde a introdução do euro. “O preço ainda está igual desde a entrada do euro. Eu não gostava de estar agora a aumentar no meio do ano. Agora também se gasta em sacos. E agora também tenho de os dar. Mais vale ganhar menos um bocadinho e vender sempre”, explica.
Confiante que a Câmara dará apoio para manter esta actividade, Maria Alice deposita esperança no neto, que mostra gosto pela área. “Se a Câmara ajudar acho que não acabará. Eu só quando não poder mesmo é que deixo de fazer. É uma tradição antiga e não se devem acabar”, esclarece.
De Março a Outubro, perto do fim-de-semana reúne algumas amigas e começa a confecção do doce típico local, que já alguém solicitou que fosse património gastronómico monçanense. Amassar, enrolar, colocar na torteira e levar ao forno são alguns dos rituais repetidos semanalmente.
80 quilos de farinha são trabalhados e dão origem a muitas roscas e rosquilhos vendidos pelas festas e feiras típicas. Levantando-se às 04h00 da manhã para preparar a massa, o trabalho poderá terminar às 19h00m, mas não há reclamações. O trabalho é feito com gosto.

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