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Alto Minho Lava Mais Branco: A ascenção e queda do maior contrabandista de tabaco apanhado nas ‘malhas da coca’

Quinta do Feital

Depois da reportagem da semana passada, fomos novamente visitar as propriedades do narcotraficante. Enquanto em Melgaço não havia sinais de vida, em Seixas, ao fim de poucos minutos, fomos surpreendidos pelos filhos de Marcial acompanhados de um enorme cão e de uma máquina fotográfica que disparou em nossa direcção antes de, calmamente, nos virar as costas. O hábito faz o monge!…






Marcial Dorado Baúlde foi o maior contrabandista de tabaco e o último dos ‘históricos’ a cair nas malhas do narcotráfico. Curiosamente, só quando da sua prisão e acusação consistente e da qual acabaria por ser condenado na Audiencia Nacional de Madrid, é que se conheceram as suas amizades políticas (ver edição anterior). Embora na sua terra natal de Vilagarcia de Arousa, Pontevedra, muitas pessoas que trabalhavam para o conhecido capo foram testemunhas das sua relações com destacados políticos, nomeadamente o presidente da Xunta da Galiza, Alberto Nuñez Feijóo, Marcial sempre procurou ser discreto e jamais fez ostentação das suas influências. Com uma mão se lava a cara e com a outra se tapa, numa relação promíscua que a todos interessava. Um pretendia a impunidade, influência e reconhecimento social; outra parte desejava uma fervorosa, inesgotável e permanente fonte de financiamento para campanhas eleitorais, fossem estas locais, regionais ou nacionais.


Nos finais dos anos 80, Marcial criou a sua própria estrutura de contrabando de tabaco para introduzir em Espanha, primeiro pela Galiza, contando para isso com o seu amigo Michael Haengui que era um suíço a viver na Bélgica e  ocupava o lugar de responsável da empresa americana Reynolds. Mas se até determinada altura este tipo de contrabando era visto com uma certa permissividade, apenas punível por multa como infração aduaneira, o alarme surgiu numa cena considerada na época de extrema violência. As autoridades tiveram conhecimento que, no seguimento de negócio de contrabando mal solucionado, o lesado enviou capangas que raptaram o homem que quisera enganar os comparsas, meteram-no fechado num camião-frigorífico de que só milagrosamente escapou da morte. Estávamos em 1983 e a investigação policial desvendou pistas suficientes que, em Março desse ano, é aberto o primeiro grande processo judicial.


Marcial foi acusado juntamente com outras 9 dezenas de contrabandistas e refugiaram-se em Portugal, mais precisamente em Valença, Gondarém e Viana do Castelo. O objectivo era para ganhar tempo até à prescrição do processo que acabaria por ser arquivado. Mas se do lado de cá do Rio Minho – onde toda a vida os contrabandistas eram vistos com simpatia e em muitos casos benfeitores locais – Marcial e outros chefes históricos encontraram o cenário ideal para criar e cimentar  infraestruturas, a colaboração judicial franco-suíça abriu um outro processo por lavagem de dinheiro que ficou conhecido como ‘Peseta Connection’. Marcial foi o alvo principal pois as autoridades helvéticas procuravam justificações legais para a inversão na altura de quase 30.000 milhões de pesetas que apenas num ano entraram na empresa Porespa propriedade de Michael Haengui. Mas, mais uma vez, Marcial e restantes suspeitos, escaparam aos prazos legais.


Operação Nécora


Às primeiras horas de 12 de Junho de 1990, Marcial foi um da quase centena de detidos na famosa ‘Operação Nécora’. Ao fim de poucos meses, o juiz Baltasar Garzón teve de o colocar em liberdade por ausência consistente de provas. Os seus vizinhos e empregados em Vilagarcia já não precisavam de andar de noite a fazer pichagens nos muros pedindo a sua liberdade, tal como aconteceu com outro contrabandista conhecido por ‘Falconetti’, de seu nome Luis Falcon Perez. Marcial regressava à sua luxuosa Mansão com piscina, court de ténis e discoteca privativa, perante os aplausos populares. Grande parte da economia local estava nas mãos de contrabandistas, familiares e testas-ferro e Marcial já tinha avultados investimentos legais, com o recurso à lavagem do dinheiro, nomeadamente no ramo imobiliário e hoteleiro. Isso, claro está, cria as suas dependências a todos os níveis, compra silêncios e consciências, e o temor surge quando vemos estes ‘honoráveis’ cidadãos a passearem-se com políticos influentes de iate,  banquetearem-se nos restaurantes e hotéis mais luxuosos e passarem férias juntos.


Mas o cerco policial aperta-se e escutas telefónicas detectam Marcial Dorado a negociar a venda de uma potente lancha rápida abrigada no porto grego de Pireu. Aparentemente, esta embarcação era ‘apenas’ mais uma entre as dezenas de que se suspeitava ser proprietário através de ‘empresas-fantasmas’. Chegámos a Outubro de 2003 e o SVA (Serviço de Vigilância Aduaneiro) apreendeu a lancha e o navio-mãe South Sea com aquilo que na altura foi considerada a segunda maior apreensão de cocaína (6 toneladas). O capo foi detido e embora se tivesse assumido como ‘contrabandista de tabaco’, negou o seu envolvimento em narcotráfico. Condenado em primeira instância, o recurso que interpusera de nada valeu e a sentença de 10 anos transitou em julgado. Entretanto – e novamente o SVA – abre um outro processo por lavagem de dinheiro e consegue pôr a descoberto aquilo que, presumivelmente, se pensa ser toda a sua fortuna pessoal. Tal como divulgámos na nossa edição anterior, Marcial ainda a cumprir a sentença por narcotráfico, viu cair-lhe em cima uma nova decisão judicial já transitada e que lhe imputa mais 5 anos por branqueamento de capitais, bem como lhe foram apreendidos autênticas fortunas em dinheiro espalhado por Espanha, Suíça, Bahamas e Portugal onde é, também, proprietário de duas imponentes quintas em Melgaço e Caminha e que, curiosamente e apesar do pedido de confisco pelas autoridades judiciais de Espanha, continuam a ser geridas por 2 dos seus filhos. Provavelmente à espera de, tal como nas edições anteriores, serem convidados pela Câmara Municipal a montarem o habitual stand de vinho alvarinho na concorrida ‘Festa do Fumeiro’!…    


   


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