A Guerra do Ultramar, que se desenrolou durante 13 anos, de 1961 a 1974, com especial dureza em Angola, Guiné e Moçambique, envolveu milhares de jovens portugueses nos teatros de operações e marcou as suas vidas, num objetivo nacional que era, na altura, não perder a soberania dos territórios portugueses.
Um conflito em que terão morrido mais de 10 mil militares portugueses.
Mesmo depois do 25 de Abril, morreram em ações de combate 148 militares portugueses e uma Companhia sedeada em Omar (Cabo Delgado – Moçambique) foi feita prisioneira, e os 140 militares portugueses foram levados para a Tanzânia.
Guerra que marcou as vidas de muitos milhares de jovens portugueses e fortaleceu a amizade entre eles, caldeada “entre perigos e guerras esforçados”, como bem cantou Camões no seu “Os Lusíadas” e que ainda perdura nos dias de hoje.
Os Antigos Combatentes da Companhia de Caçadores 2622 que foram mobilizados para o Norte de Moçambique em 1969-1971, numa zona de fronteira com a Tanzânia, no Cabo Delgado para a localidade de Nangade, ainda hoje se reúnem em Encontro de Confraternização.
Braga acolheu o último convívio que ocorreu no passado dia 28 de abril, juntando 20 antigos combatentes e suas famílias, denotando que as lembranças da guerra continuam vivas, recordando momentos de grande tensão e perigo vividos na picada entre Nangade e Palma, aquando das colunas que frequentemente se realizavam, numa zona pejada de minas anticarro e antipessoais que mutilaram ou mataram alguns deles.
O Antigo Combatente alferes miliciano de infantaria Manuel Amial, que comandou o 4.º Grupo de Combate da Companhia 2622, e atualmente o único oficial vivo da Companhia que esteve em Moçambique, dirigiu a todos, na altura, uma “palavra de saudação e agradecimento” aos Combatentes José da Costa Oliveira e Manuel Lemos Nogueira pelo empenho e dedicação que tiveram na organização daquele Encontro.
Também teve uma “palavra de saudade” por todos os Camaradas que já não estão no mundo dos vivos, recordando o último que partiu no passado dia 1 de março, o alferes miliciano Agostinho Dias de Azevedo, que comandou o 1.º Grupo de Combate da Companhia, tendo sido observado um minuto de silêncio por todos eles.
Na sua intervenção, Manuel Amial, teve ainda uma “palavra de orgulho pátrio e de reconhecimento”, relevando o contributo de todos na defesa da Pátria, servindo com abnegação e coragem em condições muito difíceis.
Quando se comemoram 50 anos do 25 de Abril e do fim da Guerra do Ultramar e quando a Pátria esquece o reconhecimento e a gratidão devida aos seus Antigos Combatentes, Manuel Amial, como único oficial vivo da Companhia, entendeu ser de toda a justiça reconhecer os Combatentes da Companhia por terem honrado a Pátria Portuguesa, entregando a todos um “Diploma de Louvor e Reconhecimento”, fazendo-o simbolicamente na altura na pessoa do Antigo Combatente Furriel Miliciano Enfermeiro n.º 053654.66 Mário Augusto de Oliveira e Costa e, no final do Encontro, aos restantes Antigos Combatentes presentes:
Alberto da Silva Ribeiro, Soldado Atirador de Infantaria n.º 113179.69; António Costa Marinho, 1.º Cabo Radio Telegrafista 049280.69; António de Campos Martins, 1.º Cabo At. Infª 127670.69; António José Barroso Gonçalves, Soldado Rad. Teleg. 127403.69; António Oliveira Santos, 1.º Cabo At. Infª 065617.70; António Rodrigues Esteves, 1.º Cabo At. Infª 112236.69; Francisco da Cunha Santos, 1.º Cabo At. Infª 118962.68; João Joaquim Freitas Barbosa, Soldado At. Infª 11951.69; João Rodrigues Enes do Outeiro, Soldado At. Infª 109483.69; José da Costa Oliveira, 1.º Cabo At. Infª 155316.69; José Maria da Silva Ribeiro, Soldado At. Infª 111107.70; Luis António Dias Vieira, Soldado Atir. Infª 110830.69, Luis Gonzaga Oliveira Pimenta, Soldado At. Infª 110856.69; Manuel de Passos Oliveira Cambão, 1.º Cabo Aux. Enf.º 107431.69; Manuel de Sousa Ribeiro, 1.º Cabo Ap. Metª 123 870.69; Manuel Fernando Teixeira da Rocha, 1.º Cabo At. Infª 110856.69; e Manuel Francisco Lemos Nogueira, Soldado Ap. Metª 047718.69.
Manuel Amial terminou a sua intervenção com uma palavra de “solidariedade merecida”. Quando agora se fala em pagar indemnizações às antigas colónias pelos danos causados pelo colonialismo, esquecem-se de compensar os Antigos Combatentes e os Retornados que foram espoliados dos seus bens e vieram com as mãos a abanar.
Por isso, foi considerado oportuno que saísse daquele Encontro da Companhia 2622 uma Moção, a enviar ao Governo e ao Ministro da Defesa, no sentido do cumprimento das promessas feitas na recente campanha eleitoral e que se atribuíssem medidas de compensação justas aos Antigos Combatentes, como uma “Pensão Mensal de Guerra”, sem pôr em causa outras medidas de apoio à saúde e aos transportes, Moção que foi aprovada por unanimidade e aclamação.
O próximo encontro anual de abril 2025 já ficou agendado para Viana do Castelo ficando a cargo do 1.º Cabo Auxiliar de Enfermeiro Manuel de Passos Oliveira Cambão.