António Costa em Marte

João Cerqueira

(Escritor) 

 

A notícia mais sonante da outra semana foi a descoberta pela NASA de que há indícios de água em Marte. Todavia, um outro acontecimento paralelo – e muito mais importante – não foi revelado ao público: António Costa foi convidado pela NASA para ser o governador de Marte.

Esta notícia pode parecer disparatada, ou até falsa, mas, devidamente analisada, faz sentido. A NASA pretende colonizar Marte nos próximos anos e, para tal, necessita de convencer algumas centenas de pessoas a abandonarem o nosso planeta para lá se instalarem. Ora como Marte é um planeta deserto, com uma temperatura média de 55ºgraus negativos, sujeito a tempestades solares e outros fenómenos espaciais nocivos para a saúde humana – ou seja, um local horrível para viver – não será fácil convencer pessoas no seu juízo perfeito a ir para lá.

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É então que entra António Costa.

Apesar de arrogantes, os americanos são um povo muito pragmático e nunca tiveram qualquer problema em reconhecer os melhores talentos noutras partes do mundo. E António Costa é um talento. Um talento raro que os americanos farejaram mal começou a nossa campanha eleitoral.

Num país falido, com uma dívida pública acima dos 120% e com uma taxa de natalidade em constante queda – ou seja, qualquer dia há mais reformados do que trabalhadores -, António Costa consegue prometer todos os dias novos aumentos da despesa: aumento do salário mínimo, subsídios para isto e para aquilo, novos ministérios, médicos de família para toda a gente (o que me parece bem), impedir o aumento da idade da reforma, etc, garantido ao mesmo tempo que não haverá aumento da receita.

Há outros que também fazem semelhantes promessas, mas não com a mesma convicção. É preciso acreditar no que se está a dizer, como um pregador que enquanto fala dos anjinhos no Céu quase lhes sente as suas perninhas rechonchudas.

É portanto de uma pessoa assim que a NASA precisa. Alguém que prometa aos ingénuos que se voluntariem para colonizar Marte que a sua vida naquele planeta será melhor do que na Terra.

Marte será transformada num paraíso em quatro anos, em Marte não haverá austeridade, a dona Merkel não entra – eis algumas promessas que a NASA espera de António Costa para atrair colonos.

E os americanos terão ainda uma surpresa agradável. Com António Costa a governar Marte, embarcarão também numa nave espacial a maioria dos ‘’homens da cultura’’ lusitana. Realizadores de cinema, encenadores de teatro, coreógrafos, e outros grandes criadores que produzem obras subsidiadas que ninguém vai ver, segui-lo-ão fielmente até ao planeta vermelho. Pela seguinte razão: outra das promessas do governador será a de que em Marte a Cultura será ‘’devidamente apoiada’’. Os americanos terão alguma dificuldade em entender uma nova versão dos Maias com os rochedos de Marte como cenário de fundo, Carlos Eduardo e Maria Eduarda a beijarem-se com fatos de cosmonauta, mas o problema será deles que são uns incultos.

Nós ficaremos mais pobres, obviamente, mas, naquelas noites límpidas em que se consegue avistar no céu aquele pontinho vermelho, sentiremos um grande orgulho do nosso homem em Marte.

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