BICADAS DO MEU APARO: Seiscentos anos antes?

Artur Soares

Escritor d’ Aldeia

 

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Há mais de cinquenta anos li, ou alguém me afirmou, que o Deus dos cristãos entendeu precisar de seiscentos anos para preparar a Família, na Qual, o Menino Jesus haveria de nascer.

Não sei como o poeta, filósofo, escritor ou o sábio, tiveram acesso a tão grande informação, mas não custa crer que assim possa ter sido, pois a Família de Nazaré foi/é o maior acontecimento da Humanidade, que perdura, que é sempre novo: a Família de Nazaré é o Tempo, é Vida, é Eternidade. E se o Deus-Menino, o Cristo-Deus dos Evangelhos quis ser um Homem entre os homens, só nascido numa Família preparada por Deus, teria cabimento.

Nasceu o Menino num estábulo. Seus Pais procuraram aposentos dignos para o acontecimento que se aproximava a grande velocidade. Não havia onde alugar um compartimento. Pelo que, finalmente, arranjou-se um estábulo onde se guardam animais, que a toda a pressa o dono limpou. Não teria paredes pintadas, talvez paredes grosseiras. O estábulo seria escuro, com certeza mal cheiroso, sem higiene capaz para o “efeito pretendido à última hora” e, de limpo, só talvez o feno e a aveia que o dono teria arrumado.

O Menino nasceu. Não num hospital; não num apartamento de três ou quatro assoalhadas; não numa vivenda abrasonada e muito menos deve ter tido uma parteira diplomada! Nasceu. E num poema do livro Cristíada, do Sacerdote António José Gomes, nascido em 1874 em Maximinos, desta Brácara Augusta, poetizou: “Ó virgem santa, no presépio agreste/ No meio de animais, enfim, achaste/Piedade que dos homens não tiveste/ Poisada que em Belém não encontraste/E quando deste à luz o Amor celeste/Num feixe de palhinhas o deitaste/Poisando sua cabecinha loira/No pobre berço duma manjedoira”.

Vivemos a comemoração do nascimento do Menino Jesus. Deste Menino que aos doze anos de idade, deslumbrou, deixou estáticos uma boa dúzia de doutores do seu tempo, ao afirmar-lhes “coisas” que não conheciam, ao apresentar conhecimentos que eles – doutores – nunca neles tinham pensado. E acompanhado por seus pais, chegou-Lhe o tempo de deixar os “Seus para ser do Povo”: para anunciar, esclarecer, ensinar, dar-se e amar toda a Humanidade, pela qual aceitou morrer!

O amor de Cristo pela Humanidade é singular. Jamais alguém o poderá explicar. Recorde-se o seu amor a Pedro, mesmo sabendo que este o iria negar e que disso avisado foi. Recordemos que Cristo, antes de morrer e na Última Ceia, ao lavar os pés aos apóstolos, vacinou-os contra o individualismo e introduziu-lhes a necessidade da tolerância e de aprenderem a doar-se.

O Menino-Deus, que em seu tempo era vítima por inveja, por outros meninos, inveja que perdura no nosso tempo, ganância do material que leva tantos a não sentirem o Natal, porque atiram para as valetas conspurcadas da vida aqueles que conseguem calcar…, Cristo, era de tal maneira contra a discriminação, que fazia com que osmoralistas e pregadores da sua época tivessem calafrios diante das suas palavras. Porquê? Porque nunca ninguém considerou tão dignas, pessoas tão indignas; porque nunca ninguém exaltou tantas pessoas tão desprezadas; porque nunca alguém incluiu tantas pessoas excluídas.

O Mundo não é melhor hoje do que era no tempo da Pessoa visível do Nazareno. A humildade que Cristo testemunhava, pensam os homens de hoje, é ser inocente ou parolo face à realidade. O mundo vive em permanente hipótese de guerra e de guerrinhas, a par de pedregulhos aguçados. Disso mesmo, alertava Cristo os seus discípulos para as pedras perigosas visíveis em qualquer canto do mundo. E sempre que era oportuno, ensinava para que dessas pedras as transformassem úteis, com a finalidade de construírem uma Humanidade melhor, mais elevada.

O Menino-Deus dos cristãos, foi uma fagulha que nasceu entre os animais, cresceu numa região desprezada, mas incendiou a História Humana! Entre nós, país onde o catolicismo é senhor, há vários anos que certos judas e certos pilatos nos atiram com lama por tal fé, tais convicções. Legalizaram o aborto; atacam a unicidade das famílias; pretendem legalizar a morte programada e, por fim, até obrigaram a que o Cristo na cruz fosse retirado das paredes de interiores públicos.

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Esquecem estes infelizes que Cristo dispensa a sua presença nos blocos operatórios dos abortos, nos gabinetes onde se programa a vida rapace contra os pobres, nos Tribunais onde se vendem sentenças e entre os deputados que fazem leis contra o bem comum.

É Natal, mas especial Natal!

Não abafemos as crianças com prendas de ocasião. Que o Deus-Menino seja respirado em cada família do Mundo. E não esqueçamos nunca que a mesa da Última Ceia de Cristo, só tinha pão e vinho, e ainda hoje é a Ceia mais recordada do planeta! Então, que aconteça Santo Natal a todos os portugueses, mesmo em tempos de pandemia.

 

(O autor não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)

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