Bicadas do Meu Aparo: Holocausto e sectarismo

Escritor d’ Aldeia *

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Aprendi, durante a vida, que nunca ninguém deve julgar alguém, embora se possam analisar, contradizer ou julgar os actos de alguém.

Isto é, julgar o homem é uma coisa – que não se deve fazer – e julgar os seus actos ou ideias – que é legal e normal – é outra. Será que aprendi bem? Veremos o que se segue.

Para reforçar o que se opina, recordemos que o Nazareno dos evangelhos avisa: “não julgues ninguém, pois fazendo-o, a ti mesmo te condenas”. E diz mais: “não vejas o argueiro no olho dos outros, mas sim a trave que tens no teu”. Já o povo, eterno sabedor, também diz: “não apontes o dedo a ninguém, pois fazendo-o, tens os teus três dedos apontados para ti”.

A base deste texto, tem como finalidade levar o leitor a destrinçar/julgar/analisar as atitudes e ideias dos homens, mas nunca julgá-los. Sabemos de atitudes negativas que prejudicam e de ideais também. Um homem que é naturalmente bom, pode seguir ideais fracos ou maus, bem como ter acções más. Um homem mau, pode ter boas atitudes e um bom ideal – só que, não cumpre segundo o que abraçou.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Sendo assim – espero não estar errado – quero comentar, analisar um texto que há dias li, num jornal diário da nossa praça. Analisar ideias, mas não o autor do texto.

Vamos a isso. Escreveu o autor, referindo-se a “uma coligação da extrema-direita com a direita e o centro-direita” que, Giorgia Meloni, terá “acesso directo à chefia do Governo na qualidade de Primeiro-Ministro”, por terem ganho as eleições em Itália. “Uma realidade impensável após o holocausto e outros horrores perpetrados pelos membros ideológicos da futura líder de Itália”, acrescentou.

Repito: não combato o autor das afirmações, mas tenho o direito de discordar delas, bem como do ideal que, indirectamente, me parece ter: um político de esquerda ou da extrema-esquerda.

Adianto já ao meu leitor, que recuso toda a direita e toda a esquerda política. Eu sou adepto do Centro, na vida política. Centro? Mas que política é esta? – poder-se- à perguntar. É simples: o Centro da vida política, para mim, é defender o bom que a esquerda e a direita têm, em prol do bem-comum. E há partidos políticos do Centro em Portugal? Há. Basta ler os seus programas e o Centro apresenta-se-nos.

O autor do texto a que me refiro, afirma que a italiana “será Primeiro-Ministro de Itália” e que é “uma realidade impensável após o holocausto e outros horrores perpetrados pelos membros de Giorgia Meloni”.

“Extrema-direita, direita e centro-direita e (…) após o holocausto”! Deus meu!!! Isto é para mim a verdadeira prática do sectarismo. Como se pode recordar trinta milhões de mortos no terreno e no holocausto, perpetrados pelo Nazismo, e esquecer, não falar ou querer esconder os oitenta milhões de mortos no terreno e no Goulag, perpetrados pelo Comunismo? Como se pode ser Nazista (direita), ou Comunista (esquerda)?

E pensando eu, que o autor do texto em epígrafe advoga a esquerda – e tem o seu direito, embora eu opte pelo Centro e possa refutar aquela ideologia – lembro ao possível bom homem e dono do texto – mas talvez praticante de sectarismo político – o que Francisco Assis do partido socialista – da esquerda política em Portugal – escreveu à cerca dos (dele) primos comunistas, no centenário comuna-russo: “cem anos depois (1917), é possível olhar com lucidez para o que representou o período que se abriu com a Revolução Soviética – milhões de seres humanos que foram presos, exilados e mortos em nome da construção de um novo mundo igualitário e perfeito; múltiplas sociedades arruinadas económica e culturalmente, revelando uma enorme dificuldade de adaptação aos tempos contemporâneos; o monumental descrédito da utopia como factor do Homem”.

Pergunto: pode-se lembrar o holocausto perpetrado pela direita, esquecendo ou abafando-se o Arquipélago de Goulag perpetrado pela esquerda? Escrevendo o que escreveu o autor do texto – que me serviu de base ao meu e à opinião que tenho direito – fico convencido, que usou, na mensagem que pretendeu distribuir, o sectarismo. O que quer dizer, na minha óptica, que pode não ser sectário, o autor.

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* O autor não segue o acordo ortográfico de 1990.

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