Bicadas do Meu Aparo: Cheiros e inalações

 

 

Escritor d’ Aldeia *

 

Na segunda metade do século passado, meu tempo de criança, os homens, a partir dos dezoito anos, usavam chapéu, gabardina com a gola subida ou dobrada no braço e cigarro aceso entre os dedos indicador e médio.

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Era, pois, um adulto, e tinha até pêlos no queixo. Era homem!

E porque era um homem e com os pêlos-à-vista, fumar, era a confirmação do quero, posso e fumo.

Nessa segunda metade do século, somente os homens fumavam. À excepção de algumas mulheres que se vendiam, fumavam, “dentro do local da venda”, mas nunca nas ruas. Fumar, nesse tempo, tinha o apoio publicitário das grandes marcas americanas e europeia, que surgiam nos jornais, nas rádios e, mais tarde, havia publicidade tabagística nas televisões.

Ora fumar, pelo que se afirma, era sinal de posses e de maturidade. Mais: as meninas já em fase de namoriscar, apreciavam, com bons olhares, que o seu pretendente fumasse: era sinal também de que tinha emprego. Até podia comprar tabaco!

Há uns anos a esta parte, ninguém tem dúvidas de que o tabaco mata muitos fumadores. Claro que há quem fume-por-fumar. São aqueles que não fumam diariamente e que pouco gastam com tabaco.

Fumador, fumador, é aquele que encaminha o fumo para os pulmões e não consegue parar, ou então pára, mas com enormes dificuldades e sofrimento.

Também eu – cognominado de grande fumador – comecei a brincar aos cigarros com dezassete anos. Aos vinte, e tendo de enfrentar a guerra colonial no terreno, já fumava três maços de cigarros por dia – ingerindo o fumo – sem filtro. Fumador continuo, infelizmente, há mais de sessenta anos.

Verificando/sentindo o mal do tabaco, optei por escolher tabaco que tivesse menos nicotina e alcatrão, em relação aos que estava habituado. Durante dez anos, fui reduzindo e hoje, fumo seis cigarros por dia e que contêm o mínimo das substâncias que prejudicam. Não consigo fazer melhor, pois o sofrimento de não fumar, é demasiado violento, altera todo o meu comportamento.

Sendo assim, felizes aqueles que não fumam, que sabem ver a tempo a possibilidade de perda de saúde e, em tantos casos, o aproximar do fim da vida.

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Mas, é necessário perguntar: será apenas culpado o fumador? A sociedade do meu tempo não me fez fumador? As grandes marcas de cigarros, os jornais, a rádio e as televisões não me fizeram fumador? O sistema económico de então e o de hoje, não fabricaram fumadores?

É claro que não me quero justificar, pois tenho as minhas culpas e até sei que os grandes sabedores do mal que o tabaco faz, fumam. Mas fumar, é o preço da liberdade que cada um tem, por aceitar viver mal ou morrer com o tabaco.

É verdade também, que os não fumadores têm possibilidades de fumar, por inalação, o fumo expelido de quem fuma. Logo, aceito convictamente, que em todos os locais abafados seja proibido fumar. Quem quiser fumar, que o faça na rua.

Sendo assim, o de se procurar não fabricar fumadores, como antigamente a Sociedade e o Estado fabricavam, não há razão absoluta para este Estado e este Governo de António Costa, proibirem a vanda de tabaco onde quer que seja.

O Estado, tem sim obrigação de anunciar os malefícios do tabaco, fomentar a séria cultura de não-fumador e proporcionar todo o apoio – através dos serviços de saúde – aos doentes do tabaco, mas nunca proibir a venda do tabaco. Vivemos numa sociedade livre!

Não se entende esta aberração proibitiva, da venda de tabaco onde quer que seja. Talvez estes falsos moralistas do Governo digam que fumar faz mal. E faz! Mas as intenções deles é poupar dinheiro pela doença tabagística. E porque querem poupar dinheiro, matam os idosos legalmente através da lei da eutanásia; permitem a matança de crianças no ventre das mães, porque é mais barato receber imigrantes.

Proíbem, debruçam-se sobre assuntos banais e de circo; não resolvem os grandes problemas do povo e da monstruosa dívida nacional. Não querem que ninguém inale o fumo dos fumadores e muito menos querem que o fumador cheire a tabaco.

Este Governo e esta cambada de políticos desmiolados que o país tem de suportar, até esquecem que temos de os inalar e, do seu mau cheiro, ainda não nos libertamos.

 

(O autor não segue o acordo ortográfico de 1990).

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