Bicadas do Meu Aparo: Contributos para a História (4)

 

 

 

Escritor d’ Aldeia

 

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Recordando Abril de 1974, em Julho de 1975-Vinagre aos microfones.

Olhando agora, analisando com calma para o fumo político largado nestes últimos dias e de uma forma geral visto e temido em todo o país, faço um stop para concluir que consideram reaccionários todos os Pêesses, Pêpêdês e por aí fora. Só faltava mais esta! Estou estupefacto!

Não pretendo criticar ninguém e muito menos julgar. Procurarei somente manifestar o meu ponto-de-vista, ou a minha opinião, como se queira, e dar a conhecer qual o binóculo que uso: binóculo nortenho, mas afinado.

Não fizeram mais nada os meios de informação deste país, em avisar persistentemente, até à exaustão, o povo, o país inteiro, de que “os reaccionários vão fazer uma marcha sobre Lisboa”, e, portanto, “todos os trabalhadores, todas as forças progressistas”, têm de ter o cuidado de irem, de estarem, de avançarem, de revistarem, de impedirem e não sei que mais, todas essas manobras contra-revolucionárias.

E revistaram mesmo, um pelo menos: D. Francisco Maria da Silva, Bispo de Braga, foi despido no aeroporto antes de tomar lugar no avião.

Repito: estou estupefacto!

Os meios de comunicação nacionalizados e já partidários, feriram-me. Não porque me sinta culpado seja do que for, mas feriram-me porque chamaram a mais de 95% dos portugueses, reaccionários. E digo que chamaram reaccionários, porque o povo português é, pode dizer-se, o grande caudal que simpatiza e quer uma vida social em democracia.

Muito ódio se injecta aos microfones dos postos emissores e no canal de televisão. Duvido que todo este fumo de ódio visto e sentido neste fim-de-semana, faça a união dos portugueses.

Parece-me excessivo o vinagre utilizado para fazer o molho das batatas. Nada se consegue tragar com tanto fumo, ódio e vinagre despejado nas ruas e vielas da cidade.

Mas então é reaccionário aquele que diz que nos sindicatos, cúpulas partidárias e os lugares de chefia, são tomados de assalto sem auscultar a massa dos trabalhadores?

É da “reacção” quem diz que temos trezentos mil desempregados; que se fazem saneamentos selvagens, ocupações abusivas ao privado e ao público e reivindicações irrealistas?

É da reacção quem diz que nos jornais, na rádio e na televisão, minorias pagas com o dinheiro de todos, pretendem intoxicar o país com as “suas directrizes”; que saneiam impunemente para alcançar a “sua oportunidade” para lugares bem-pagos e que exercem afinal, novos tipos de censura e de perseguição?

É da reacção quem diz que “continuam sem habitação condigna quinhentas mil famílias” e é reaccionário dizer-se que “não permitiremos que, neste país, se instale nenhum regime totalitário e que Portugal tem um governo PCP/MFA que não governa?

Será que, democracia, é fazerem-se barreiras para impedir a maioria do povo português a se exprimir e se manifestar perante todos os seus os líderes políticos? Será democracia chamar “fascista” a tudo que não é comunista? Será democracia impor-se um capitalismo de Estado, gerido por burocratas/oportunistas e por polícias pró-soviético? Será democracia não haver ainda eleições democráticas para as câmaras municipais?

Perante tudo isto, que quer dizer “o povo é quem mais ordena”? Porque se conspira a que se desfaça a Assembleia Constituinte?

Penso que agir democraticamente, é respeitar a vontade do povo; é o apontar pelos seus líderes políticos os problemas desse mesmo povo e querer que tais situações/problemas se resolvam pelos caminhos mais curtos e rápidos, com objectivos.

Isto é liberdade, é democracia-em-perfeição e jamais será reaccionarismo, como querem pintar o povo português, apesar do sacrifício passado de quarenta anos de salazarismo. Por mim, uma gota do povo português que sou, digo também: “Liberdade sim, ditaduras jamais”.

 

(O autor não escreve pelo novo acordo ortográfico).

* O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

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