BICADAS DO MEU APARO: O paradoxo – perigoso paradoxo!

Artur Soares

Escritor d’ Aldeia

Ainda existem no nosso país milhares e milhares de portugueses que bem recordam o mundo do trabalho de há quarenta anos. Todos tinham trabalho e até se pescava mão-de-obra nas aldeias entre pessoal da agricultura, que era feita pelo Fundo do Desemprego – serviços do Estado – para empresas de qualquer potência económica. A mão-de-obra não era cara e as empresas mais fortes colocavam aos quinhentos, mil, dois e três mil trabalhadores em cada ramo de atividade.

 

Na Região do Minho ainda hoje são recordados tais locais de trabalho.

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Após 1974, onde forças políticas tinham como lema “os ricos que produzam”; ou escrevendo nas paredes dos cemitérios “levantai-vos malandros que a terra é de quem a trabalha”, nessa onda da utopia e da demagogia iniciadas pelos comunistas – via “companheiro vasco” – às empresas foi-lhes chegando o míldio e, às carteiras de quem trabalhava, em vez de escudos entravam fungos em catadupa.

 

As empresas estrageiras abandonavam-nos, as nacionais definhavam com as desvairadas reivindicações organizadas por aqueles que principescamente viviam “fugidos” no estrangeiro, desconhecendo em absoluto as realidades nacionais. E foram estes defensores, que lentamente, ingenuamente ao lado de outras aves de rapina que governaram Portugal, se tornaram (hoje) conhecidos como robôs – mas ricos – de alguém.

 

E se os empregadores fugiram e se atualmente só falta ser-se escravo no mundo laboral – como ser professor – pode-se afirmar que aqueles foram rigorosamente substituídos pelos governantes que temos tido: sempre abandonaram os pobres e a classe média, sempre lhes mentiram antes de eleitos e sempre os têm sacado: quer no ser e no ter, quer nos projetos da vida futura, bem como na paz de todos.

 

São conhecidos alguns (gigantescos) buracos geográficos no mundo. São aberrações ou birras da natureza. A África do Sul, por exemplo, tem um buraco no solo com 1097 m de profundidade; a Califórnia tem um buraco-remoinho que suga 5000 m3 de água por minuto, mas a Europa consegue o buraco mais fundo e mais perigoso de todos os buracos: o Parlamento Europeu, como está.

 

Bem se sabe, bem se sente que os possuidores do selvagem capital esmagam. Podem de tempos-a-tempos aliviar a carga de quem trabalha, isto é, de deixarem cair umas migalhas de suas mesas. Mas durante a maior parte da vida dos (seus) povos, mentem-lhes, usurpam-nos e retiram a milhões o direito à liberdade, à solidariedade e à dignidade de seres humanos.

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Tal capitalismo de que falamos, junta os subservientes, apoiam-nos, pagam-lhes, dão-lhes directivas e sacam em seu favor milhares de milhões de euros, que são fruto dos impostos de todos os que suam a camisola diariamente para obterem uma fatia de pão.

 

Parlamento Europeu, viveiro dalguma inteligência mal encaminhada, mas não sábia, e sabendo que são pessoas que necessitam de seguranças à sua volta para caminharem nas ruas da cidade ou nos corredores do ataque, sabem também que o povo os não ama, mas que se é obrigado a aceitá-los.

 

Então nascem as Troycas externas e internas, os Bancos, os Partidos Políticos, as baças Fundações, os Grupos subterrâneos ou fechados, enfim, pessoas que buscam a sombra com medo de ser queimadas pelo sol ou pela luz do dia. Há por todos eles uma raiva silenciosa.

 

Com lágrimas de crocodilo, testemunham compaixão “perante uma carga muito pesada para as pessoas em resultado de reduções de salários, de pensões e do desemprego”, conforme o afirmou Regling, director do Fundo de Socorro do euro, acrescentando que não há “alternativas indolores” a cortes. Ora este senhor não chama saque aos salários e às pensões a quem tem o direito absoluto de o ter.

Também o ministro das finanças, Osborne, de Inglaterra, ameaçou que “se a Comunidade Europeia não fizer as necessárias reformas e se os obrigarem a escolhas difíceis”, isto é, muito trabalho e despesas por causa dos países mais pobres, “Londres pode sair da União Europeia ou referendar a continuação” ou não. Referendaram e disseram “não” à UE.

Ora tudo isto, é politica de crocodilos, para gazelas se caçarem!

 

 (O autor não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico).

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