BICADAS DO MEU APARO: O inquérito secreto

Como se sabe, o dr. Francisco Sá Carneiro, fundador do Partido Popular Democrático (PPD) e de seguida primeiro ministro de Portugal, foi assassinado em Camarate a 04 de Dezembro de 1980, político que era altamente apreciado pelo seu zelo e seriedade, pelo seu sentido de Estado e pela recusa feita ao Estado Novo, quando foi convidado para ministro, uma vez que para o ser, pôs condições: caminhar para a democracia.

Sá Carneiro – porque era honesto – deixou escrito que “o fim principal do poder político é o serviço da pessoa. O Estado está ao serviço da pessoa”.

Na verdade, o 25 de Abril de 1974 veio mostrar que os políticos após a “revolução dos cravos”, nada tinham que ver com os pensamentos, a seriedade e a verticalidade política de Sá Carneiro. Tal gente, apenas e só, busca matar a magreza das suas algibeiras, vida que lhes proporcione privilégios e poder, mesmo chamando-lhe acção política em democracia.

Portugal – salvo raríssimas excepções – não tem políticos com mentalidade clara, com cultura e com seriedade para estarem “ao serviço da pessoa”. A inteligência dos nossos políticos, que é muito mais inteligência manhosa, foi alimentada para se servirem: utilizando os votos do povo e todos os meios possíveis para se tornarem os organizados rapaces do povo e aproveitadores da sua incultura política e boa-fé.

Não foi por acaso que há tempos, o General Ramalho Eanes afirmou: “o nosso defeito é sermos subservientes, não reclamamos”.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

E porque é mesmo assim, não tem assistido o país a todo o género de velhacarias concretizadas por políticos no poder, contra o povo? Desde políticos em exercício, da direita, do centro ou da esquerda, não é verdade que tantos têm metido as mãos nos cofres do Estado, praticando injustiçais sociais e corrupção em qualquer freguesia, vila ou cidade? Que dizer, como aceitar tantos rapaces na incubadora cinquentenária do Partido socialista?

O próprio PS, deputados ps’s, vivem revoltados, estupefactos e desorientados com tanta economia-vadia no exercício de funções governamentais, porque descobertos e organizados, como os ratos nos esgotos.

E como semanalmente, ou quase diariamente surgem na comunicação social casos de roubalheira, de amiguismos e de compadrios saloios – fazendo do povo asnos – António Costa, primeiro ministro, não teve outra saída: sem ideias eficazes ou de génio, propôs – para mais uma vez enganar os portugueses – “um mecanismo que procure antecipar problemas” de roubalheira ou habilidades com ranço ou bolor, criando um questionário de 36 perguntas a que os convidados para governarem, terão de responder.

Numa democracia onde tudo tem de ser transparente, porque serviço ao povo, como pode a democracia portuguesa socorrer-se de um questionário confidencial aos futuros servidores do Estado, para se saber que estão limpos nas suas vidas profissionais/sociais? Que Inquisições ou normas Pidescas são estas, para que o país seja comtemplado ou fique seguro destes abutres que aparecem semanalmente?

A vergonha deste questionário/interrogação aos futuros governantes de Portugal, proposto e aceite pelo presidente da República, lembra-me um sujeito que foi perguntar ao pároco da minha freguesia em 1968, se me conhecia e a que tipo de família eu pertencia, para poder ser nomeado funcionário de finanças. Que “sim”, “é bem-comportado e a sua família é muito respeitada, é gente de trabalho”. Na verdade, três semanas depois fui nomeado, mas tive de assinar um documento em que não era comunista nem tinha ideias subversivas contra o Estado português. Por isso, também em 1968, tive de responder/assinar o questionário em vigor, despacho de Salazar.

Se os políticos portugueses aceitassem o “serviço ao povo”, como defendia Sá Carneiro, teríamos um Serviço Nacional de Saúde mais eficaz; um ministério da Educação a fazer muito mais pelo saber e pela cultura para todos, porque, com professores incentivados; teríamos uma economia/justa para acabar com a fome que se conhece em qualquer canto do território nacional e, jamais seria necessário – porque em democracia – que se tapasse os olhos aos portugueses, com inquéritos secretos.  Basta! Somos uma nação que já não passa de uma multidão cansada de esperar, pela seriedade dos políticos e pelo orgulho de se ser português.

Escritor d’ Aldeia *

  • O autor não segue o acordo ortográfico de 1990    
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