BICADAS DO MEU APARO: O tempo do nosso tempo

Escritor d’ Aldeia *

A marcha inexorável do tempo não pára, não cede, não desvia, não ouve rogos, murmúrios, tristezas ou alegrias.

O tempo sente-se e vê-se na matéria. Há um só tempo para além do tempo: A VERDADE. Tudo envelhece e só a força interior e as convicções não têm idade.

Diz-se que uma galinha dura três anos e um cão três galinhas; que um cavalo dura três cães e um homem três cavalos. É o tempo da duração. É a evidência do tempo que se sente e passa.

Desse modo, é lógico que no tempo do nosso tempo se procure contrariar o tempo, defendendo-se dele o homem, isto é, atrasar o desgaste, procurando nesse tempo viver em paz, ser feliz e ser autor da própria história, sem rascunhos.

O tempo do homem é ter “algo” onde se “agarre”, para que o tempo o não corrói e o não jogue para um tempo infernal, tempo este que, em si, será tempo sem princípio nem fim.

Buscar a felicidade neste tempo não é fugir aos problemas diários que o tempo impõe, mas sim organizá-los, resolvê-los atempadamente e nunca ser ou sentir-se vítima deles.

Neste nosso mundo – e creio que sempre assim foi – sempre existiram aqueles que por várias más razões foram maus ajudantes do tempo: encurtaram o tempo dos seus semelhantes: por inveja, mãos tractos físicos ou psicológicos, maus ambientes, perseguições, saques e muitos mais cortes no tempo.

O homem deste tempo não pode nunca permitir que o ser deste tempo o destrua e muito menos pactuar com a destruição da paz interior. Daí, “agarrar-se a algo”, a ideais nobres e a Quem possa pedir ajudas e conselhos, junto de sábios que ensinam a conquista para obtenção do melhor tempo, no tempo da vida.

Neste barco do nosso tempo sempre existiram e continuarão a sentir-se aqueles que do mal desejado e praticado farão seu triunfo.

Manda Deus e o amor, que se ajude gente a ser gente e que o homem invista na fraternidade. Logo, não podem nunca os homens de Bem ficarem indiferentes perante a vanglória ou o triunfo dos homens do Mal, isto é, ficarem parados ou pasmados no tempo do seu tempo.

Na verdade, no tempo do tempo do homem, só têm paz, felicidade e sucesso os que acreditam e agem, os que se preparam e os que conhecem o valor do adversário. Tantos, porque indiferentes, facilitistas ou pasmados, serão sempre suplentes no tempo.

Nunca haverá facilidades numa vida adulta. Assim, a maior parte do tempo significa que durante todo o tempo necessário é lutar contra a corrente do tempo. Desse modo, sempre haverá mérito e maturidade, porque a favor da corrente, só peixes mortos pelo tempo. Assim sendo, o bem de todo o homem não bate à porta de quem foge dele e do tempo.

O tempo já existia antes do homem. Logo, o tempo não deve nada a ninguém.

Nem com milhões de moedas de ouro se pode recuperar um só instante de vida. Que maior perda, então, que a do tempo perdido?

O tempo será sempre o companheiro e o conselheiro do homem. Assim, quem não consulta o tempo frequentemente, anda naturalmente fora do tempo. Por isso é mais que certo que, quem nunca gastou tempo a contemplar as reacções de uma criança e encantar-se com os segredos de funcionamento da sua mente, dificilmente terá tempo para admirar o tempo da própria vida.

Na vida de qualquer homem, há lucro no tempo presente se, baseado no passado e apontado para o futuro, por o tempo ser mínimo e incerto. Sendo assim há necessidade de gerir todo o tempo e, porque, um só tempo há para viver. Todavia, o homem actual, não tem tempo para a resolução das coisas mais importantes, porque está entulhado e tempo não tem para desobstruir os problemas do tempo.

É assim o nosso tempo e há que ter em conta que, durante todo o nosso tempo pode-se ter um amigo que vem a tempo. Os outros poderão aparecer somente quando tiverem tempo.

• O autor não segue o acordo ortográfico de 1990.