BICADAS DO MEU APARO: Os irmãos gémeos

 

 

Escritor d’ Aldeia

 

Aproximámo-nos a passos rápidos para atingir os 50 anos do 25 de Abril em Portugal e a sua comemoração dos 49 anos, na Régua, no próximo Abril deste ano.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Os portugueses que nasceram a partir de 1968, não viram nem sentiram o 25 de Abril. Pode haver excepções, podiam existir crianças que com seis anos tivessem capacidade para (abarcar) tal acontecimento nacional, o que não me espantaria. Mas… adiante.

Hoje, estes portugueses com menos de 55 anos, até podem saber muito sobre o 25 do Quatro. Procuraram (talvez) saber tuto. Leram tudo; estiveram atentos a tudo; analisaram a revolução ao pormenor; sabem datas; vitórias e desgraças e, portanto, podem saber mais do eu sobre a revolução dos cravos. Mas, a umas coisas jamais terão acesso: o de ver e de sentir o 25 de Abril/74, como eu vi e senti: chorei de alegria e de medo também. E essas lágrimas alegres nos portugueses que não viram nem sentiram esse dia, jamais as verterão, como eu e milhares de portugueses verteram.

Recordo bem, que no jornal Noticias de Famalicão – semanário que já morreu à cerca de quarenta anos – escrevi sobre a abrilada: “ Ainda de noite e nas primeiras horas do dia, os homens movimentaram-se. Os rádios gritaram. A televisão foi invadida. O povo ficou apático. Os comunicados choveram e os cães uivaram – desconhecendo a balbúrdia – e, assim, aconteceu o “vitorioso 25 de Abril de 1974”.

E continuei: “Viva o M.F.A., o 25 de Abril, o Movimento dos Capitães, a democracia, a liberdade”.

E se podemos afirmar que o 25 do Quatro permitiu a pluralidade de ideias, a liberdade de expressão, o poder votar nos partidos que apresentavam os futuros governantes, também não esquecemos que permitiu mais de um milhão de retornados, milhares e milhares de mortos, após a independência da Guiné, de Angola e de Moçambique, porque entraram em guerra civil.

Logo – e isto é verídico – a liberdade, a pluralidade de ideias e o voto, não enchem barrigas. Enchem certas barrigas! Fabricam-se vilões, oportunistas, ladrões do bem-comum. E depois queixam-se os de pança crescida, que o partido CHEGA e outros semelhantes avançam, que querem o fascismo/nazismo e muito mais, e que a Europa está a ficar num viveiro tal, que queimará a democracia. Talvez não queime, o que lhes queima é o reduzir da pança que transportam e das contas bancárias gordas que procuram ter ao seu dispor.

Na verdade, o país vive numa situação tal, que os portugueses já não acreditam em nada nem em ninguém. Pelo que pensamos e vemos, pelas acções políticas e económicas destruidoras em uso, pela desacreditação que certas instituições transportam, pela indisciplina social sentida, pela incompetência de quem nos tem governado, pela rapinice a que temos vindo a assistir entre muitos detentores do poder e muitos mais casos…, somos forçados a pensar – salvo melhor opinião – que a revolução de Abril morreu e que apenas a corrupção – irmã gémea daquela – se vingou, se fortificou e tende a viver-em-grande.

E sendo verdade, que desde 2015, os governantes de António Costa têm sido os generais da corrupção, que surge-em-público semanalmente/diariamente, temos a última noticia – esta, na data em que escrevo – que uma tal Idalina Costa, vereadora socialista na Câmara de Idanha-a-Nova, vai ser julgada por falsificação de actas, por ter nomeado o seu marido médico para a Câmara a ganhar 50 euros à hora e porque até já foi julgada por burla comprovada.

É neste ambiente político petrificado, desolador, revoltante, que se vai comemorar o 25 de Abril de 1974, no Peso da Régua, neste ano de 2023. Logo, e segundo a nossa opinião, comemorar os irmãos gémeos: uma revolução morta e a corrupção. Esta, como se sabe, sempre activa.

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Comemorar-se-á ainda as incompetências nos cargos públicos; a injustiça nos ordenados de quem trabalha; os saques nas pensões dos reformados do Estado desde 2011, iniciados por Sócrates e continuados por Passos Coelho; os descalabros nos serviços de Saúde e de Educação; a ausência de reformas para melhor justiça social; a não produção de riqueza e a ostracização do mar, e a dívida de milhares e milhares de milhões de euros que o país deve, porque pouco se produz e muito se rouba.

Irmãos gémeos: revolução e corrupção. A primeira parece ter morrido à nascença e a outra, boa de saúde, em evidência e não há coveiro que a enterre.

(O autor não segue o acordo ortográfico de 1990).

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2 comentários

  1. Os meus Parabens por mais este belo texto..que sei , é sentido. Um bem haja. E, estoiu contigo camarada.. Um abraço.

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