BICADAS DO MEU APARO: Xau, Apolinário!

 

 

Escritor d’ Aldeia *

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Encontrei um dia destes na linda cidade de Viana do Castelo, o meu amigo Apolinário. Abraçámo-nos, almoçámos juntos e recordámos tempos da nossa vida nocturna, pelas ruas desta Brácara Augusta, capital do Minho.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

O Apolinário enveredou pela França, forrou uns milhares de francos e, actualmente, prepara o caminho da reforma, afirmando querer morrer na sua cidade – Braga. Diferente dele, eu quis cumprir o serviço militar obrigatório e deixei-me ficar no país.

O Apolinário, há quatro meses atrás, está em Braga, mas preocupado. “Abriu o livro” e deixou falar o coração, dizendo:

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“Verifico a necessidade de me acautelar a certas horas da noite, por certas ruas da cidade. Levantar dinheiro nas caixas exteriores dos bancos, é perigoso, pois identificam-se facilmente os madraços, os meliantes, os mirones à espera de uma distracção e, todos sabemos do que são capazes”.

“Há assaltos em qualquer ponto do país, que são noticiados se, importantes. A falta de educação é o ar normal que se vai respirando em qualquer hora e os condutores de veículos em Portugal julgam-se sós nas estradas e ai daquele que os chamem à atenção – pode-se ser morto ou levar um enxerto de porrada”.

“Há muitos comerciantes – continuou o Apolinário – e prestadores de serviços que geralmente cobram muito dinheiro, enganam os inexperientes e, tantos, são incompetentes no que fazem. Verifico em Portugal demasiados estrangeiros e desconheço o que fazem. Conhecem-se-lhes violências, consomem muito álcool e a prostituição escondida e a visível nas vias onde há bouças, é aos milhares”.

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“Que fazem uns, de que vivem outros, não sei, excepto aqueles que se vêem no exercício das suas funções. Há fome em Portugal, não há trabalho para todos e então porquê tanta estrangeirada que, até dos países de Leste cá se encontram?”.

Deixei falar o Apolinário sem o interromper. Deixei que terminasse o seu desagrado, com a toda a inocência visível. Apesar de mais tranquilo, sentia-o revoltado com o que via e vivia em Portugal.

Cheguei a pensar que tantas queixas eram efeitos do vinho-verde branco bebido e, disse-lhe: “ou és maluco, ou desactualizado ou estás bêbedo. Então não pensas que foste emigrante e que os franceses tiveram de te acolher? Desconheces que em tempos de “vacas magras” em Portugal, tivemos milhares e milhares de famílias que foram para o Brasil, entre o ano de 1900 até bem perto de 1970?

Apolinário, é justo de que toda esta gente venha cá comer os ossos que restam das vacas magras que ainda existem! Não te recordas, Apolinário, que somos um país de furões e encontramo-nos, como os tremoços, em qualquer canto do mundo?

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 Desconheces que temos no estrangeiro, emigrados, cerca de dois milhões e meio de portugueses a governarem a vida? Desconheces, meu amigo, que nos anos de 1950 – com as devidas excepções – iam vigaristas, assassinos, ladrões e falhados para Angola, Guiné e Moçambique, onde as Marias eram logo tratadas por Donas Marias ou de patroas? Tantos destes, fugiam a responsabilidades familiares e outros iam cumprir penas de prisão”.

“Mas temos o problema da droga, da violência social e familiar e a prostituição durante todas as horas do dia”! – recordou o Apolinário.

“Pois temos” – disse eu. “Mas essas coisas são normais, meu inocente! Tudo é devidamente organizado para fazer dinheiro e, cá como na França (e não só) é necessário imitá-los!”

“A prostituição – continuei – tem cabimento, pois os portugueses – como sabes – são grandes machos e os pais de muitas jovens da prostituição, têm cuidado em agasalhar as galinhas no poleiro ao toque das trindades, mas se lhes perguntares pelas filhas, não sabem onde estão e o que fazem!

Quanto à violência, não te preocupes, pois, essa questão tem os dias contados: as nossas forças policiais, prendem muito e muito bem a horas certas, e quando apanham os violentos, de cassetete-em-punho, aquecem-lhes devidamente o nalguedo antes de serem julgados, se forem julgados!”

Bom. – disse o Apolinário. Eu devo estar louco. “Eficientes” uns e “generosos” outros”?

“É, é verdade, podes crer! – rematei. Apresento-te apenas um exemplo, para irmos embora. Repara que em Portugal, há uma senhora que é médica, por acaso – a Isabel do Carmo – que assaltava bancos, usava violência, fez feridos e provocou o pânico por onde passava e, ainda há pouco tempo foi distinguida pelos seus feitos! Até pariu na prisão, devidamente auxiliada! Mas há mais casos de “generosidade” que te podia contar! Mas fica para a próxima, Apolinário. Põe-te fino, amigo, actualiza-te companheiro e aparece sempre que queiras.”

Xau Apolinário!

* O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

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2 comentários

  1. Caro Artur Soares, o seu amigo Apolinário tem razão. Cá por Braga isto está um verdadeiro caos. Furtos, roubos, exploração de trabalhadores imigrantes (os que trabalham e descontam para a segurança social e estão inscritos nas finanças), tráfico de droga, alcoolismo e consumo de droga por todo o lado, etc. Ah, sim, a prostituição tbm é um grande flagelo local. Os nossos emigrantes quando vão para outro país vão para trabalhar e respeitar as leis do país de acolhimento. Uma boa parte dos imigrantes que bons chega faz as suas próprias leis e borrifa-se para a legalidade e o trabalho. E não é verdade que “nos anos de 1950 iam vigaristas, assassinos, ladrões e falhados para Angola, Guiné e Moçambique”. Esses eram as exceções. E que se saiba Angola e Moçambique eram Portugal. Tens razão APOLINÁRIO e volta sempre.

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