Editorial

Bicicletas e outras pendurezas na (má)quina do Estado
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Dina Ferreira

Fomos informados no início desta semana que o Estado português vai munir de “kits bicicleta” 256 escolas com 2º ciclo: trata-se de 10 bicicletas e 10 capacetes por escola, mais os respetivos procedimentos, com o objetivo de “ensinar as crianças a pedalar”. As verbas são do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência” que, se vão para isto, não vão para outra coisa.

Apesar de parecer louvável, a medida encerra uma vez mais a substituição das famílias pelo Estado, nesses momentos mágicos que muitos de nós recordam, das primeiras pedaladas com pai, mãe, irmãos ou tios a correr atrás da bicicleta e a gritar “tu consegues”!

Como noutros temas, também na literacia da pedalada o Estado resolve meter-se. E meter-se de cabeça, porque vai engrossar os ativos das escolas com mais recursos próprios (a saber, 10 bicicletas e 10 capacetes) que vão precisar de espaço e de alguém que olhe por elas, ou talvez não, porque à segunda semana não há capacetes à vista e das dez bicicletas só duas funcionam, porque não há verba para arranjar as outras.

O Estado tomar conta de assuntos que as próprias famílias podem (e devem) garantir revela várias perversões, acentuando a infantilização da sociedade, bem como o seu imobilismo. Há sempre outro caminho, que é o de não retirar às famílias os meios para que possam elas próprias fazer as suas escolhas, num pluralismo saudável e que privilegia as trocas sociais, ao invés dos subsídios estatais.

Há uma lógica na propriedade privada e ela é a seguinte: comprovadamente, as pessoas e as famílias são mais responsáveis e prudentes na gestão dos bens próprios do que nos bens alheios, e muito mais quando os bens alheios são supostamente “de todos”. A raiz da propriedade privada não é, como entre nós parece ser o juízo comum, a utilização egoísta, mas sim a utilização responsável.

Todos sabemos como as bicicletas de uma família rodam pelos irmãos e depois para os primos e/ou os amigos, porque os miúdos crescem e o bem otimiza-se. Além disso, gera vínculos entre uns e outros, porque a partilha responsável de um bem passa a ser um símbolo das relações entre as pessoas.

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Estamos num ponto perigoso de delapidação do património das famílias por impostos excessivos numa mistura explosiva com a inflação e uma conjuntura de incerteza internacional. A pandemia acrescentou ainda o condimento dos “estados de calamidade” e outros afins, em que foram passadas à governação cartas brancas que retiraram liberdades como quem bebe copos de água.

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O Estado musculou, no sentido de achar que pode invadir, tirar (como faz no IVA, onde cobra pela inflação e arrecada à custa da pobreza das famílias), e até enganar e mentir (como se viu no pacote “soi-disant” de proteção às famílias), sem quaisquer consequências. Agora também tem bicicletas. Qualquer dia tem escovas dos dentes.

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