Brincar com os deficientes

Passar de um dia para o outro a ter que fazer a vida através de uma cadeira de rodas, deve ser algo que vai muito além da compreensão de todos aqueles que estão livres desse Mundo de anormalidade, digamos.

No entanto, na vida, nada está garantido. Embora quem esteja atento às acessibilidades verifique que, o pouco que se tem feito mesmo que por obrigação e força de Lei, ou é feito pelos mínimos, ou mal feito, para não dizer o muito que fica por fazer. E há tanta coisa para ser feita ou melhorada.

Bastava que, os Presidentes de Câmaras andassem um dia por semana numa cadeira de rodas e, estou certo, que teriam outra sensibilidade, para este delicado assunto.

Quando foi feito o parque de estacionamento nas traseiras dos Paços do concelho, não tinha nenhum lugar para pessoas com mobilidade reduzida. Questionado o Presidente da Câmara de então, este respondeu assim:

“Não vejo nenhuma necessidade até porque, em Cerveira, só há uma pessoa a usar cadeira de rodas”.

Por aqui se vê a insensibilidade, a mesma que há para ver a sociedade num todo, mas sem os mesmos direitos que a Constituição lhes consagra.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Daí para cá, as leis sucederam-se, muitas são bem aplicadas mas continua a ser um assunto que não tem equidade e muito menos a aplicabilidade de Lei. Mas não tem que ser assim, nem deve ser assim.

Isto é algo que a todos devia envergonhar!

Eu advogo que, os lugares de estacionamento para deficientes, tenham uma cobertura, porque deve ser penoso retirar, ou voltar a pôr, a cadeira de rodas debaixo de chuva?

Recentemente a Câmara de Vila Nova de Cerveira, e sem se saber o porquê, resolveu alterar os lugares de estacionamento para deficientes, mas para pior.

Há um velho proverbio popular que se ajusta a este caso como uma luva, e que diz:

“Quem não tem que fazer, deita a casa abaixo e torna a erguer”!

Assim, os dois lugares que havia- e bem – no início da Praça da Liberdade foram despromovidos e passados para a Rua do Cais, uns cem metros abaixo, depois do Posto da Marinha, afastando-os do centro, nomeadamente da Caixa Geral de Depósitos, local de uso quase obrigatório, para muitos deles, e dos demais comércios e serviços, contrariando a Lei que diz que devem ficar o mais próximo possível, e de toda a zona para onde se dirigem.

Acresce ainda dizer que, andar numa cadeira de rodas sobre paralelos é uma tarefa, ainda, mais ingrata,  que é o caso destes novos lugares.

Agora, caro leitor, imagine a vida de uma pessoa em cadeira de rodas num dia de feira a tentar subir o empedrado da rua, por entre as muitas pessoas e automóveis?

Os insensíveis rir-se-ão.

Por outro lado, eliminados que foram estes dois lugares, foram criados outros dois lugares na Praça do Alto Minho, perto dos Correios de da Caixa de Crédito Agrícola.  E aqui chegados ficamos a pensar?

Então, por que mudaram os lugares de estacionamento de uma ponta do parque para a outra?

Porque é que não mantiveram os existentes e criavam mais um ou dois no extremo do parque, como se verificou.?

E dei por mim a pensar ironicamente que, não gostavam de ver um furgão amarelo, ou uma carrinha branca que ali passavam muito tempo. Parece irónico mas não consigo ver outro motivo.

E enquanto desestabilizavam a vida daqueles que já a têm complicada, e causa incómodo, prejudica os deficientes e é dinheiro jogado fora.

Entretanto, e num gesto que mostra a sensibilidade que têm para este tema, colocaram uma árvore de iluminação natalícia, em metal, num lugar reservado para deficientes.

Que rebaldaria?

 

(José Venade não segue o actual acordo ortográfico em vigor).

* O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

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4 comentários

  1. Infelizmente as acessibilidades para os dificientes motores está denasiado reduzida.
    Os municípios deveriam agir, nos dias de chuva e frio deve ser muito complicado para estes cidadãos.

  2. Quem utiliza cadeira de rodas para movimentar-se, está sujeito aos desafios das cidades (e não só) – e isto não faz qualquer sentido. É pena que não haja o cuidado necessário para com estes utilizadores, não só da parte das infraestruturas, mas também, de outros cidadãos comuns que se “esquecem” e bloqueiam acessos importantes para quem se desloca nestas cadeiras – piorando, ainda mais, esta situação que relata.

  3. Há uma falta de respeito e sensibilidade enorme, inacreditável quando com poucos euros se consegue minorar tantos problemas.
    Muito obrigado Susana Faria pelo seu comentário.

  4. Numa cadeira de rodas e não só.
    A sociedade, e aqueles que nos governam,desde as Juntas de Freguesia, até ao poder central ,devem evidenciar o seu engajamento, para as diferentes incapacidades, corrigindo o que está mal e penalizando os incumpridores.

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