Caldo Verde faz bem à saúde

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Muita gente sabe que o caldo verde é uma sopa de couve portuguesa, tipicamente do norte de Portugal Continental, mas  muito divulgada por todo o país.w
Couve é o  nome genérico que se usa para  descrever uma grande família de hortaliça  caracterizada por folhas largas, esverdeadas e  muito ricas em nervuras, fibra e vitaminas.
Existe uma variedade de couves:  couve galega, couve lombarda, couve crespa, couve penca, couve tronchuda,  couve bastarda, couve repolho, couve brócolo roxo, couve brócolo branco e até couve flor!
Mas a couve preferida para se fazer o caldo verde, como deve ser,  é a couve chamada galega, muito cultivada na Província do Minho em Portugal.
Na Nova Inglaterra os nossos emigrantes cultivam nos seus quintais a couve galega, depois de usar vários truques para passarem,  contra a lei,  na alfândega as sementes desta  couve preferida.
Na América há uma couve  semelhante à galega  que  tem o nome de “collards”.

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Devido  às  temperaturas  negativas as couves   galegas não se aguentam ao relento durante os meses de inverno e assim a nossa gente usa um tipo de couve crispada chamada “kale”. Mas o caldo feito de “Kale” não é genuinamente caldo verde.
Perde a sua   característica,  não pelo tipo diferente de couve, mas sim pelos ingredientes que as cozinheiras  imigrantes lhe adicionam e que não   devem fazer parte da receita do caldo verde.
Sucede que a composição da “kale soup” é muito complexa: além da couve ou “kale”, leva carne de vaca, carne de  porco, chouriço, ou linguiça, feijão, batata, cenoura, água, sal  e mais   não sei quê.

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Gostosa? Sim, senhor, mas é tão   concentrada, é tão forte que até faz lembrar cimento armado ou entulho!…
Em contrapartida a receita do caldo verde é muito simples: água, sal,  batata ralada, couves cortadas às tiras fininhas, azeite português e mais nada!
No entanto, há muitas donas de casa que não sabem cozinhar o caldo verde como deve ser.
Não fazem caldo verde para os   seus familiares  por que dá muita maçada a cortar as couves às tiras   muito fininhas… Mas talvez a razão principal seja por as cozinheiras   portuguesas na América pensarem que o caldo verde por ter tantas couves não tem  nenhum valor nutritivo, não presta para nada!

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GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Como estais enganadas, minhas   senhoras!
Se vos disser que de todos os cozinhados tipicamente portugueses o caldo verde é o melhor para a  nossa saúde?!
Que pensais se vos disser, como médico, que o caldo verde evita o cancro?! E se vos disser  que o caldo verde evita os ataques do coração por reduzir no sangue o colesterol, pensais que é fantasia!?  E se vos disser mais: que o caldo verde evita as pedras na vesícula e evita as hemorroidas?
É caso para perguntardes: se isso é verdade, porque é que levou tanto tempo a descobrir que o caldo verde é tão milagroso?!

DOUTOR BURKITT 

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Na década de setenta o famoso médico inglês Burkitt chefiou um grupo de médicos da Grã-Bretanha que foram   para a África  Central estudar as diferenças entre as doenças que existem na selva e na zona metropolitana de Londres.
Depois de estudos muito apurados o Dr. Burkitt veio a descobrir  que existe no continente africano um tipo de cancro  diferente  que é causado por um vírus. Esta descoberta foi sensacional porque  provou-se, pela primeira vez, que certos tipos de cancro podem ser causados por vírus.
Em honra desta descoberta o mundo médico mundial  passou a chamar a este tipo de cancro: Linfoma não – Hodgkin de Burkitt.
Revelo esta informação médica  a respeito do Dr. Burkitt para os leitores melhor apreciarem o calibre das observações que a equipa do Dr. Burkitt veio a registar  no que diz respeito às  diferenças  que existem  entre a dieta dos nativos  africanos e a dieta do povo londrino.

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Primeiro os médicos ingleses verificaram  que os nativos nunca tinham prisão de ventre, não contraiam cancro do reto, não tinham ataques do coração, não sofriam de hemorroidas, nem  apendicite aguda!
Surpreendidos com estes factos os médicos britânicos constataram que os nativos africanos defecavam ou   obravam, durante 24 horas, um volume, QUATRO VEZES  maior do que   qualquer cidadão inglês!

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Admirados com este achado, os   mesmos médicos prosseguindo com as suas pesquisas concluíram que a diferença  dramática de saúde entre o povo inglês e os nativos em África se devia ao   facto dos africanos comerem NOVENTA POR CENTO de ALIMENTOS RICOS em FIBRAS VEGETAIS,  que não chegam a ser absorvidos no  intestino e  saem nas fezes praticamente intactos, aumentando assim o   volume fecal, evitando  portanto a prisão de ventre!
Nos últimos anos mais de mil especialistas em todo o mundo  têm publicado artigos em jornais e revistas médicas  sobre  as observações da equipa médica do Dr. Burkitt, CONFIRMANDO que os alimentos melhores para a nossa saúde são aqueles que têm mais fibras vegetais  não-reabsorvíveis e que nos obrigam a visitar mais vezes a retrete…
Eu tive oportunidade de ouvir uma conferência sobre este assunto pelo Dr. Burkitt,  há vários anos,  no Hospital de Roger Williams,  em  Providence, Rhode Island,  na qual o famoso médico usou esta frase bombástica:
“É MAIS IMPORTANTE SABERMOS O VOLUME DA MERDA DIÁRIA DUMA PESSOA DO QUE O VALOR DO SEU AÇÚCAR OU DO SEU COLESTEROL!”
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BENEFÍCIOS DO CALDO VERDE

Para apreciarmos as maravilhosas qualidades do caldo verde temos que primeiro  analisar o nosso aparelho  digestivo. Qual é o comprimento  do nosso tubo digestivo?  Qual é a distância que vai da boca até ao ânus?
Resposta: O comprimento do nosso tubo digestivo é quase SETE vezes a altura de cada pessoa! Deste modo se um   homem tem de altura um metro e meio, o seu tubo digestivo possui DEZ METROS de comprimento! É igual à mangueira de regar o quintal!…
Agora compreendemos melhor porque é que a Natureza exige que a nossa alimentação contenha 90 por cento de alimentos com fibras vegetais que não sejam reabsorvidas.
É preciso que a nossa alimentação contenha substâncias que não desapareçam, que não sejam reabsorvidas, no percurso do tubo  digestivo, porque de contrário   não  chegará nada ao fim do canal que tem em média mais de dez metros de   comprimento…
Analisemos agora  o conteúdo do caldo verde:

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COUVES –  As couves são a parte mais importante do caldo verde porque são muito ricas em fibras não-reabsorvíveis.  Além disso as couves são muito ricas em vitamina A  e  complexos B (tiamina, riboflavina e niacina). Possuem  também cálcio, ferro, fósforo, potássio,  mas  têm poucas calorias.
AZEITE – O azeite deve ser português porque é muito rico em ácidos não-saturados que fazem baixar o colesterol mau.
BATATA –  serve para amaciar, tornar  mais homogéneo o sabor do caldo verde e o seu valor calórico não está fora de ordem.
ÁGUA QUENTE – A água quente do caldo verde é muito importante, porque faz funcionar muito melhor  os sucos digestivos e os fermentos ou enzimas do aparelho digestivo. A água quente faz descontrair os esfíncteres ou válvulas do aparelho digestivo, estimula a contração normal da  vesícula biliar e relaxa o estômago  e os  intestinos  delgado e grosso, tornando a nossa digestão agradável e   saudável.
SAL – Não deve ser exagerado. Apenas SAL MARINHO Integral de 1ª. – SAL Tal & Qual – das salinas.
CHOURIÇO –  O chouriço – para ser cortado às rodelas e pôr no caldo verde – deve ser cozido à parte para se  deitar fora a água porque esta contém  os produtos cancerígenos do  chouriço  devido ao processo de ter sido defumado.
BROA –   A broa deve ser à moda portuguesa feita com o farelo  e farinha  de milho  como se coze na  nossa terra.

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Quem comer uma malga de caldo verde todos os dias não tem prisão de ventre!
Quem não tem prisão de ventre não tem hemorroidas! Por outro lado  uma pessoa fazendo as suas necessidades diariamente, o fígado é obrigado a produzir mais bílis e a vesícula a expelir mais sais biliares para untar a tripa por dentro para que os alimentos deslizem melhor.
Deste modo, saindo mais bílis (rica em colesterol)   para o exterior através das fezes, dá-se uma baixa de colesterol no sangue, diminuindo os riscos de ataques cardíacos e de pedras da vesícula (compostas por colesterol)! O caldo   verde faz também com que a pessoa emagreça e se torne mais saudável e mais   feliz.
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CANCRO DO CÓLON 

Tem-se verificado uma relação direta   entre a prisão de ventre e o cancro do cólon ou do intestino grosso. Porquê?  Porque quando há prisão de ventre as fezes ficam paradas no   intestino grosso, ou cólon e assim  os produtos tóxicos  contidos nas FEZES RETIDAS bombardeiam as células da mucosa intestinal de tal maneira que com a  REPETIÇÃO  deste processo desencadeia-se o princípio do cancro do cólon ou do intestino grosso que é uma doença terrível!
Como contra prova dos estudos que a equipa do Dr. Burkitt observou em África, deram-se  aos nativos africanos     dietas iguais à que os ingleses e americanos usam com McDonalds, “ice cream” ou sorvetes, pizzas, lasanhas, batatas fritas, etc. Inverteu-se a dieta: em vez de 90 % de dieta com vegetais os nativos   africanos  passaram a ter uma dieta de SÓ DEZ  por cento de   vegetais.
Resultados: Os nativos começaram a engordar, o colesterol começou a subir, passaram a ter prisão de ventre e a desenvolver hemorroidas como os ingleses e os americanos!
Parece incrível, mas é verdade! No fim do século XX são os povos primitivos a ensinar ao homem civilizado, ao homem dos produtos sintéticos e das pastilhas qual é a alimentação mais saudável!
Há mais de 40 anos visitei as Termas de Melgaço no Norte de Portugal. Estas termas são especialmente dedicadas a  doentes diabéticos,  cardíacos e renais.
Observei então que fazia parte do tratamento obrigatório, a todas as refeições diárias, um grande prato de caldo verde.
E todo o doente que quisesse comer fora das três refeições só podia comer mais  outro prato de caldo verde!  O certo é que todos os doentes melhoravam das suas enfermidades!
Ainda hoje em Coimbra quando os estudantes fazem uma farra ou há uma reunião de curso e se come e se bebe exageradamente… Depois duma bela  guitarrada,  à   meia-noite,  serve-se sempre um caldo verde bem quente para   “limpar e acalmar as entranhas”…
Quando tiver uma festa grande em sua casa faça o mesmo: ofereça aos seus convidados um caldo verde para   despedida e para terem boa viajem!…
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RECEITA DO CALDO VERDE À MODA DE VALENÇA DO MINHO 

Dois litros de água; 4 colheres de sopa de azeite português; 750 gramas de batatas; 1 ou 2 couves-galegas conforme o   tamanho; sal; 1 chouriço (cozido à parte); broa.
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TÉCNICA: Deita-se a água numa panela com o azeite e as batatas descascadas cortadas em 4 pedaços. Põe-se sal quanto baste e deixa-se ferver. Quando as batatas estiverem cozidas, tiram-se e passam-se por um passador.  Voltam à panela para apurar. Entretanto cortam-se as couves  em tiras o mais fino possível. Lavam-se e deitam-se   na panela QUINZE minutos antes da sopa  ser servida, deixando a panela ferver DESTAPADA.
Serve-se o caldo verde em tigelas de barro, com uma rodela de chouriço e um bocadinho de broa.
Como já se encontram à venda na Nova Inglaterra as deliciosas sardinhas portuguesas congeladas, pode ser que algum dia algum comerciante se lembre de fazer  coisa semelhante e nos mande as couves-galegas já cortadas às tirinhas em caixinhas congeladas, prontas a meter na panela,  para saborearmos,  mesmo durante o Inverno severo   na  América,  o nosso  genuíno caldo verde!
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Por Manuel Luciano da Silva, Médico

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