Editorial

Calor de verão
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Daniel Jorge

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A frieza invernal começa a dissipar com o tempo. As temperaturas aumentam, o sol parece maior.

As roupas tornam-se mais leves. Os dias são mais longos. A noite demora mais a aparecer. Mesmo estando longe, já se sente a essência do verão, da tranquilidade dos dias quentes e secos. E, com este calor, tudo parece mais alegre e simples.

Esta ideia não passa de uma ilusão causada pela aparência renovada do tempo do nosso planeta, que é o único que nunca se mantém influenciado por ideias fixas, obsessões e dogmas.

Na verdade, há coisas que nunca mudam no ser humano. Deveriam mudar, mas a evolução ainda não atingiu esse ponto de progresso humanitário e livre. As fardas equipadas dos militares nas guerras não mudam. Os fatos formais dos políticos não mudam. As palavras distorcidas, falsas e mal intencionadas não mudam. As mentalidades não se alteram. Não se conseguem ver nem distinguir, sequer.

Reparem como o vento sopra durante todas as estações e todos os meses, mas nunca na mesma direção nem com a mesma intensidade. Um simples movimento do ar consegue ser mais flexível do que uma espécie racional. O vento não se repete. Nós, por outro lado, cometemos os mesmos erros que cometíamos há séculos atrás.

Tiro as mãos do teclado do computador e deixo-me parado a observar uma folha que voa ao longe no azul do céu. É pequena, é leve, e tem uma trajetória peculiar. Quando parece que está a cair e a perder a capacidade de voar, é elevada de novo para cima. Move-se da direita para a esquerda, da esquerda para a direita, e a sua cor amarelada coincide com a luminosidade solar. Entra pela janela do meu quarto e pousa em cima do teclado. Ali fica, quieta.

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Muitos não conseguem ter a capacidade que esta folha tem, de ser e não ser. De parecer ter uma ideia concreta e mudar abruptamente depois de alguma reflexão. Muitos, se fossem a folha, não tentariam voar. Desceriam a pique até chegarem ao chão. É isso que está errado connosco, e não é o calor do verão que vai amenizar isso.

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