Caminhos do Granito: Artistas da Pedra cinzelam Arte Natalícia

José Rodrigues Lima

Historiador

As iluminações natalícias já estão acesas e as lâmpadas multicores brilham nos espaços públicos, nas habitações e nas árvores. Os presépios ocupam um lugar de destaque nos templos, nas praças e nas  residências familiares.
Os sons natalícios invadem os ambientes de tudo e todos. As partituras de compositores clássicos, contemporâneos e tradicionais são divulgadas pelas estações radiofónicas e televisivas.
Os concertos de Natal congregam orquestras e cantores. Ouvem-se vozes de crianças e adultos anunciando a grande mensagem: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados”.
Alegre-se o Céu e rejubile a Terra.

PUB

 

DOS CLÁSSICOS AOS POPULARES

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

 

O presépio mereceu atenção de Fra Angélico, Ghirlandajo, Jerónimo  Bosch, Van de Goês, Leonardo da Vinci, Durer e outros notáveis artistas.
Merecem referência os famosos presépios do nosso Machado de Castro,  Alexandre Guisti e António Ferreira, bem como todos os barristas, inclusive os de Barcelos, abundantemente coloridos, onde não faltam os carros de bois e pastores, dando lugar ao imaginário dos artesãos.
Todas as igrejas do Alto Minho armam o presépio na igreja paroquial, contribuindo para o encanto das crianças e dos adultos. As imagens do Menino Jesus para sair no andor, transportado pelas crianças, quando das procissões festivas, são uma constante em todas as paróquias.
Nas terras minhotas existem diversas manifestações artísticas referentes ao mistério do Verbo Encarnado.
Assim, são de referir o fresco representando os três Reis Magos (Século XIV/XV) na igreja paroquial de Chaviães, Melgaço, e a Sagrada Família em marfim, na aldeia de Luzio, concelho de Monção.
No concelho de Viana do Viana do Castelo, os presépios de Machado de Castro em S. Lourenço da Montaria, a Senhora do Ó ou Senhora da Expectação no Mosteiro de Carvoeiro, a Senhora do Parto na freguesia de Nogueira e a Senhora do Leite em Vila do Punhe são outros testemunhos.
É de sublinhar toda a arte natalícia existente na Congregação da Caridade, em Viana do Castelo, merecendo referência o Menino Jesus Malines.

PUB

 

“DAMOS VIDA ÀS PEDRAS”

 

PUB

Se os presépios de grandes artistas merecem ser referenciados, na nossa região, seguindo “Os Caminhos do Granito” encontramos arte natalícia cinzelada pelos conhecidos irmãos Diogo e Eliseu, do atelier “Pedras Sequeiros”, localizado em Carvalho Mouro, freguesia de Calheiros, concelho de Ponte de Lima.

A conversa decorreu no pavilhão das obras produzidas. Do local avista-se o Monte de Santo Ovidio, de onde sai em blocos de granito para a criação artística na oficina dos irmãos Pedras Sequeiros.

O lema deles é: “A Família e o trabalho”.

É agradável ouvi-los falar da paixão da arte de trabalhar a pedra.

PUB

Diz o Diogo: “Gostamos daquilo que fazemos. As pessoas apreciam e isso dá-nos prazer. Assim, sentimos mais estimulo para continuar a fazer melhor. Nós sonhamos e damos vida ás pedras. É preciso saber escolher a pedra que interessa. Se ela não presta, escolhemos outra. É assim. O pau quando nasce, não sabe se vai dar santo ou tamanco. Com a pedra é na mesma: tanto dá peça boa como fraca. Quando a pedra não dá, nós dizemos que é um mono. A experiência é tudo… Vale mais a tarimba, do que andar em Coimbra.

É assim: se batemos com a macete e o som é choco, é pedra aberta, de grão grosso. Se toca como um sino e canta bem, é pedra fechada. É boa, é grão fino!

Mas nós, olhando, vemos logo”.

E continuam com as explicações:

“Escolhemos o tipo de pedra de acordo com o trabalho encomendado. Nós aqui trabalhamos muito por encomenda. Se temos que fazer um brasão, pois escolhemos uma pedra fechada, de grão fino”.

Diz o Eliseu: “Por vezes até sonho com os trabalhos que tenho que fazer. As pessoas têm uma parte poética. Nós temos a arte de dar a vida às pedras. Bom, até podemos ensinar a ‘olhar’ as pedras! Passamos aqui oito a dez horas por dia. Assim é fácil sonhar!”

Recordamos o poema de António Gedião: “A pedra filosofal”.

 

 

ESTÉTICA E ELEGÂNCIA

 

Os irmão Eliseu e Diogo falam com entusiasmos: “É fundamental fazer coisas novas. É preciso estética e elegância nos pormenores. Somos muito críticos. Só avançámos se o trabalho estiver bem feito. Para a próxima tem de ser melhor. Dá prazer criar uma peça. Quando entregamos o trabalho ao cliente sentimos satisfação, pois foram muitas as horas que gastamos à volta do bloco de granito.

Encomendam-nos presépios em granito que são resultado do dom de criar peças de arte”.

Recordamos a poesia de António Aleixo: “A arte e dão de artista; / Portanto não é artista / Aquele que só copia / as coisas que tem há vista”.

Os irmãos Diogo e Eliseu são artistas que sentem emoções de ternura e de olhar para o alto, com mãos habilidosas e criativas.

Transformam a pedra em veste longas, com rostos de barbas e suaves, expressivos, com serenidade.

 

OS SONS EMBALAM O MENINO

 

O Menino Jesus surge na sua humana nudez, ora em monobloco de granito, ora inserido em pequenas imagens acompanhado por Nossa Senhora e São José.

“Neste período do Natal vendemos os presépios que cinzelamos durante o ano ou que executamos por encomenda. É um alegria estar a cinzelar, e até parece que os sons embalam o Menino Jesus…

É a nossa música natalícia… A maceta e o cinzel dando relevo ás pedras. Nós sonhamos…”

Recordamos o grande escultor Lagoa Henriques: “Todas as artes populares conseguem arriscar, num risco inadiável, as memórias, os sonhos, as mensagens desta viagem breve, permanentemente renovada, nos ritmos das gerações, neste olhar de espanto e deslumbramento”.

Os artistas do atelier “Pedras Serqueros” afirmam: “Só abancamos se o trabalho estiver bem feito”.

As imagens inseridas neste artigo podem contribuir para avaliar “Os artistas da pedra”, e sugerir aos apreciadores de presépios que enriqueçam as suas coleções com figuras natalícias em granito.

 

CONJUNTOS ESCULTÓRICOS

 

Os irmãos Diogo e Eliseu, nesta data, estão à volta de nove estátuas que embelezarão o Santuário de Santa Eufémia, localizado no concelho de Ponte de Lima.

Trata-se de um conjunto escultórico oferecido por um benemérito radicado no Rio de Janeiro.

Recentemente, esculpiram São Martinho a cavalo, dando a capa a um pobre.

Diz o Diogo: “O bloco de granito quando entrou no telheiro pesava dez toneladas e, no final, andaria à volta de duas toneladas e meia. Foi preciso desbastar muito… Foi obra de muitas horas… No final, admiramos a arte criada”.

 

 

NATAL INTEMPORAL

Nada melhor que encerrar este texto com o poema “Natal Intemporal”, de Lopes Morgado.

 

Natal palavra feita ou a fazer?

Deus nascido ou a nascer?

Flor espinho ou fruto?

Humano produto de humana condição

Ou certeza de um Deus que é nosso irmão?

 

Ah não me pergunteis o que é Natal

Bem o sentis e sabeis

Nesse clarão de almas diferentes

Nessa vontade de ser cordeiro

De se fazer irmão de toda a gente

De dar presentes sem ter dinheiro

e de se dar em todos os presentes (32)

 

Feliz Natal 2016

Boas Festas para todos

  Partilhar este artigo