Caracas à vista

João Cerqueira

(Escritor)

 

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Durante e depois da Segunda Guerra Mundial, milhões de europeus emigraram para a Venezuela. Naquela altura, a Venezuela era um país mais rico do que a maioria dos países europeus, destruídos pelo conflito. Com a descoberta do petróleo no início do século, o arranque industrial e a existência de vastas terras para produção agrícola, a Venezuela tornara-se um dos países do mundo mais atractivos para a emigração. Como resultado dessa vaga migratória, actualmente lá residem cerca de meio milhão de portugueses.

Todavia, neste riquíssimo país que não tem mais de trinta milhões de habitantes, a prosperidade não iria durar muito. Em 1976, o presidente Andrés Pérez decide nacionalizar a indústria petrolífera, afastando assim o investimento estrangeiro do país. Essa medida, juntamente com as crises do petróleo e a corrupção que doravante se intensificou, levaram a Venezuela a um caos que culminaria com a eleição de Chávez – o inventor do Socialismo do Século XXI. Ele acusa o capitalismo de ser o culpado da miséria venezuelana, promete nacionalizar ainda mais a economia e distribuir os lucros do petróleo pelos pobres. Este programa – muito próximo do comunismo – teve o apoio de toda a Esquerda portuguesa, tendo no Bloco o seu maior apoiante.

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E, numa primeira fase, a pobreza diminui mesmo e milhões de venezuelanos experimentaram melhorias nas suas vidas. Porém, como sucede com todos os programas assistencialistas, estes pobres nunca deixaram verdadeiramente de o ser pois apenas lhes foi dada uma renda sem lhes pedir nada em troca – excepto o voto – que os dotasse de capacidades para escaparem à miséria. Ou seja, em vez de lhes ser ensinado a pescar, foi-lhes dado peixe. E como geralmente sucede quando um governo toma conta da economia, a produção do petróleo diminuiu, a inflação aumentou (68,5% em 2014), os bens de primeira necessidade começaram a escassear (supermercado vazios à imagem da URSS), e, pouco a pouco, o povo começou a dar-se conta de que estava ainda mais miserável do que antes. Pelo meio, à boa maneira leninista, os opositores ao regime foram presos, os jornais e as televisões que não faziam propaganda foram encerrados, e formaram-se milícias vermelhas para aterrorizar a população. Tudo isto ante o silêncio da nossa Esquerda que enche a boca com direitos humanos, liberdade, democracia – as pessoas estão primeiro, desde que não sejam venezuelanos, cubanos ou norte-coreanos.

Regresso agora a Portugal.

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Portanto, que ninguém tenha dúvidas de que quando se fala numa Frente de Esquerda a governar, o caminho que o nosso país seguiria seria o mesmo da Venezuela.

Haveria, sim, uma euforia inicial com a reposição dos salários e dos cortes nas pensões – e durante algum tempo pareceria existir mesmo uma alternativa à austeridade. Porém, isso levaria a uma explosão do défice, a um aumento dos juros exigidos pelos credores e a um disparar da inflação. Ao mesmo tempo, havendo ou não nacionalização da economia, o investimento internacional fugiria de Portugal como o diabo da cruz, o que atiraria milhares de portugueses para o desemprego. Resultado deste filme já visto durante o PREC, nos governos de Soares e na era Sócrates: bancarrota, nova vinda da troika e sacrifícios ainda mais violentos exigidos aos portugueses.

Não é preciso ser bruxo para ver que, caso haja um governo da coligação, Costa, Catarina e Jerónimo vão derrubá-lo na primeira oportunidade. E então os portugueses terão de escolher se querem que o país se aproxime do modelo alemão, ainda que isso custe duras penas, ou se preferem que, após uns meses de euforia revolucionária, descambe na desgraça venezuelana.

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Na verdade, deveria ser esta a pergunta a ser colocada nos boletins de voto.

Os recentes emigrantes portugueses já deram a resposta. Primeiro porque em vez de irem para a Venezuela, emigraram para a Alemanha – note-se que mesmo os que votam na Esquerda radical preferem sempre os países liberais. Depois porque votaram maioritariamente na coligação, rejeitando o Socialismo do Século XXI, ou outro qualquer.

 

Ps: para que não me acusem de parcialidade, fui buscar o The Guardian, a referência da Esquerda inglesa, para justificar o meu texto.

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Fontes:

http://www.theguardian.com/world/2014/feb/23/venezuela-protests-thuggery-pretty-revolution

http://www.forbes.com/sites/nathanielparishflannery/2015/02/18/how-venezuelas-economic-crisis-hurts-u-s-companies/

http://brasil.elpais.com/brasil/2015/02/14/internacional/1423887148_995415.html

http://www.bbc.com/portuguese/videos_e_fotos/2015/07/150708_venezuela_inflacao_fd

http://exame.abril.com.br/economia/noticias/caos-da-venezuela-reduz-95-receita-da-engarrafadora-da-coca

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