“Com os teus sapatos de ponta, eu era bailarina” – disse alguém que calça pantufas

Somos tão bons a traçar destinos e vidas alheias que até nos esquecemos de olhar para o nosso próprio calçado.

Nasci nos anos 90, portanto, acredito que a maioria dirá que sou uma “garota” no que toca à experiência de vida, mas deixem-me dar os meus “cinco tostões” sobre um tema que me é muito querido há anos.

Falemos sobre sapatos: não sou filha de sapateiro, mas, também, não preciso de o ser pois estamos a falar de sapatos num sentido figurado. Há uma coisa que aprendi há muito tempo sobre esse tema: cada um tem os seus e, ao contrário do que se possa pensar, os restantes utilizadores de sapatos não percebem patavina sobre o calçado do outro.

Vamos imaginar duas vizinhas: a Maria e a Joana. A Maria tem uns sapatos dos quais não gosta muito, mas que utiliza por serem os únicos que ela tem. A Joana, vendo os sapatos da Maria, considera-os um belo par de sapatos: até têm uns cordões novos que combinam com as cores da sua roupa. Um calçado de fazer inveja a qualquer um – pensa.

O que a Joana não sabe é que os sapatos da Maria são apertados, foram comprados em segunda mão e têm as solas numa lástima – até a água da chuva faz visita aos pés, sempre que pode. O que a Joana (também) não sabe é que os seus sapatos, comparados com os da Maria, são umas pantufas da Serra quentinhas, que dão conforto ao pé e à cabeça.

A Joana não sabe nada disto porque, pura e simplesmente, nunca calçou os sapatos da Maria. Provavelmente, se calçasse os sapatos da sua vizinha, teria uma ideia diferente dos mesmos. Poderia não ter a perceção exata de Maria, mas, certamente, teria uma ideia mais concreta da realidade dela.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Este texto não é sobre sapatos.

Este texto é sobre empatia. É sobre calçar os sapatos do outro. É sobre perceber que nem sempre sabemos tudo sobre a outra pessoa: o seu estado de alma, as suas dificuldades, os seus desafios, o que ela sente ou pensa. É sobre não julgar fácil e rápido o que achamos saber. É sobre não comparar porque “ai, eu dançava a noite toda com aqueles sapatos”.

Não, não sabes se dançarias a noite toda. Não sabes, sequer, se os conseguirias calçar.

Que tenhamos todos mais empatia e, sobretudo, mais noção, quando desejamos os sapatos dos outros: nunca se sabe se não estamos a trocar umas pantufas quentinhas por um par de sapatos que nos acaba com os pés.

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1 comentário

  1. Achei muito engraçada esta extrapolação sobre os sapatos.
    É a constatação que somos rápidos nos ” achismos” da vida,nas comparações aleatórias.

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