Como os animais notaram antes o desastre da barragem em Brumadinho no Brasil?

O desastre da barragem de restos de mineração da Vale surpreendeu quase todas as vítimas. Quase todas, porque os animais notaram com antecedência. Mas como eles conseguiram? A resposta tem relação com os sentidos mais aguçados que algumas espécies possuem em relação aos humanos, além do bom, velho e praticamente infalível instinto.

Carlos Alberts é professor de zoologia e comportamento animal da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e explica que a maioria dos animais como cães, gatos e outros conseguem ouvir sons em frequências que o ouvido humano não consegue captar. “A barragem não rompe de uma vez só. Ela tem movimentos anteriores ao rompimento completo. Esses movimentos geralmente emitem sons ou muito baixos ou infrassom, que é uma frequência abaixo do que o ouvido humano consegue ouvir”, disse.

O professor Alberts também explica que animais quadrúpedes pesados, como bois e vacas, podem sentir com mais precisão pequenas vibrações na terra que antecedem o impacto do rompimento da barragem. Já as galinhas, na qualidade de aves, poderiam sentir mudanças nas correntes de ar. Dessa forma, os animais seriam alertados de alguma forma quando os desastres estão para acontecer, ainda antes dos seres humanos e seus equipamentos tecnológicos.

“Eles estão geralmente em duas condições opostas: ou são presas ou são predadores. Em ambos os casos, a sobrevivência depende de eles descobrirem uns aos outros. Essas percepções são usadas normalmente para sobrevivência, mas em condições diferentes servem para indicar algo”, afirma Alberts.

Desde sempre

Registros de animais que pressentiram desastres existem com frequência ao longo da história. O mais antigo é de um terremoto na Grécia no ano 373 a.C. Dias antes, vários animais como ratos, cobras e centípedes saíram de suas tocas e passaram a apresentar um comportamento estranho.

Em Brumadinho, há relatos de gado correndo minutos antes do rompimento da barragem, além de cães e galinhas agitados. Isso também aconteceu em desastres recentes como a tsunami da Indonésia e muitos outros.