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Conheça a história da Lampreia além do prato!

Estamos neste momento a passar pela época da Lampreia, uma das grandes iguarias minhotas que levam muitos a correr quilómetros só para a poder provar. Mas a que se deve a este sucesso? Porque é tão cobiçado este prato? Será só pela particularidade gastronómica, ou há algo mais que a torna especial? De facto, há! Descubra aqui alguns dos aspetos mais interessantes sobre este peixe tão curioso!

A lampreia que existe na região do Minho, é a lampreia-marinha (Petromyzon marinus) e pertence à classe restrita dos agnatos, onde só se englobava três grupos de peixes: os ostracodermos (já extintos), as lampreias (com 20-25 espécies) e a mixinas, que perduram até aos dias de hoje. Em comum possuem as seguintes características:

          • Boca circular e desprovida de mandíbula (designam-se por ciclóstomos);
          • Corpo alongado e cilíndrico;
          • Pele sem escamas, lisa e gelatinosa;
          • Ausência de barbatanas pares;
          • Esqueleto cartilaginoso;
          • Olho pineal sensível à luz;
          • Uma única narina;
          • Sete aberturas branquiais laterais;
          • Sobrevivem através do parasitismo. 

Localização das lampreias numa árvore filogenética, onde mostra as relações de evolução ao longo do tempo. Em ambas as imagens, é possível comparar a separação temporal desde o surgimento das lampreias, ao surgimento dos mamíferos (Mammalia), onde está inserido o Homem. 

Quanto à sua distribuição, a lampreia-marinha é encontrada um pouco por todas as regiões, mas é na zona mediterrânica onde surge com mais frequência, nomeadamente em Portugal, Espanha, França e Itália.

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A razão da sua presença em vários países da Europa está associada ao facto de esta espécie ser anádroma, isto é, nasce no rio, cresce e desenvolve-se no mar, e regressa mais tarde ao seu local de origem para procriar. É nessa fase que se dá o início do processo de migração. Para tal, os rios devem reunir as melhores condições como água límpida, bem oxigenada, com pouca profundidade, fraca corrente e fundos pedregosos, que facilitem a sua fixação durante a subida. 

A alimentação é outra das suas particularidades e a morfologia da boca revela isso mesmo. A forma circular, coberta internamente com pequenos “dentes”, trabalham em conjunto, funcionando como uma ventosa e bomba de sucção, ao mesmo tempo que a pele dos hospedeiros é raspada para que se liberte sangue (exemplos: tubarões, salmões). 

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No entanto, o parasitismo só é praticado durante a fase adulta da lampreia e enquanto vivem no mar. Depois de iniciar a migração no rio, deixam de se alimentar, e passam a ter como único objetivo a reprodução. Devido ao enorme gasto energético associado, e logo após a meta ser atingida, acabam por morrer. Enquanto juvenis, a lampreia alimenta-se à base de algas e pequenos crustáceos, através da filtração.

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No nosso país, os dados da abundância populacional são recolhidos através do registo das capturas dos pescadores. No entanto, a lampreia sofre de ciclos naturais, com anos mais abundantes que outros, e esses dados não permitem assim, determinar com certezas, como se encontra a população de lampreias. Contudo, em Portugal e Espanha detetaram-se evidências da diminuição da captura de indivíduos, devido principalmente, às alterações do habitat, que tem vindo a diminuir ao longo do tempo. 

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Distribuição da lampreia na Península Ibérica. (Imagem de 2016)

A pesca da lampreia é outra componente característica associada a este animal. Embora no nosso país, se possa pescar lampreia desde o rio Minho, Lima, Cávado, Mondego, Vouga, até ao Tejo e Guadiana, é na região do Minho que a tradição ganha mais força. Desde as artes de pesca, como as estacadas, lampreeiras, ou as famosas pesqueiras, até às festas gastronómicas, como o Rally da Lampreia em Monção, tudo contribui para aumentar a importância desta espécie. 

Pesca da lampreia com recurso a nassa, arte atualmente proibida.

As pesqueiras era outro método, muito utilizado antigamente. Estas estruturas existem sobretudo a montante do Rio Minho, em ambas as fronteiras. Caiu em desuso devido à diminuição das distâncias percorridas pela lampreia durante a migração. Hoje constituem um património culturalmente rico, e por isso servem já, como objeto de estudo.

O estatuto de conservação da lampreia em Portugal está considerado como vulnerável e algumas das ameaças para esta espécie são:

      • Construção de barragens e açudes;
      • Extração de materiais inertes;
      • Poluição;
      • Sobrepesca;
      • Capturas ilegais;
      • Destruição da vegetação.

 

Para combater a diminuição desta espécie, e ajudar a conservá-la, existem já medidas consideradas para o efeito, que passam principalmente pela preservação do seu habitat com as condições ideias, garantindo assim as rotas migratórias e a sua distribuição.

A lampreia revela assim um papel histórico evolutivo, cultural e gastronómico importantíssimo. Existe toda uma tradição em torno deste animal, de uma morfologia tão peculiar, que o torna o centro das atenções nesta época do ano. A lampreia é assim, uma criatura primitiva que sabe ainda cativar as atenções dos tempos modernos. 

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