Embora os principais envolvidos não tenham admitido ao Minho Digital, são latentes as feridas desde as eleições primárias no seio do PS de Ponte da Barca, cuja Secção apoiou então António José Seguro, enquanto o presidente da Câmara Municipal se rendeu a António Costa.
Manuel Joaquim Pereira, o líder da Secção, em declarações que nos prestou reconheceu ter apoiado Seguro «mas agora que Costa foi eleito, tem o seu apoio no lugar de Secretário-Geral». Interpelado se as feridas já estavam saradas após a disputa da liderança, não podia ser mais claro. «De um modo geral, sim, mas há alguns militantes que ainda hoje não aceitam a situação», acrescentando que «há um ou outro que se afastou da militância», sem contudo querer revelar nomes. «Na nossa última reunião de Secção, onde há apoiantes de ambas as partes, chegou-se a um acordo de que até às Legislativas não se falaria sobre potenciais candidatos às Autárquicas». «Queremos que o PS e António Costa ganhem à Coligação e esta seja penalizada, e esse é o objectivo unânime».
Depois das Legislativas é que, no seu entender, se pensará no que vem a seguir, «embora anteveja algumas dificuldades na escolha das listas, nomeadamente para a Câmara Municipal», já que Vassalo Abreu não se pode recandidatar por imposição legal.
O presidente da autarquia, também em declarações ao Minho Digital «não confirma nem desmente» as sequelas alegadamente existentes em Ponte da Barca como consequência da disputa entre Seguro e Costa, assumindo-se, no entanto, apoiante do actual Secretário-Geral. Vassalo Abreu é presidente da Assembleia de Secção e também admitiu o acordo de «primeiro as Legislativas e só depois as Autárquicas». Pelo menos aqui, há consenso. «Costumo dizer que sou Vassalo mas não Rei», de modo que diz encarar com ‘naturalidade’ a sua sucessão, pois confessa que «precisa de descansar e a isso tem direito». De férias, o actual presidente confessou-nos saber que o seu vice, José Pontes, sempre foi apoiante de Seguro, enquanto ele próprio chegou a apoiar Francisco Assis e depois António Costa. «Nunca me poderei esquecer que, no Parlamento, assisti a Cavaco Silva criticar o recém eleito José Sócrates, enquanto na nossa bancada alguém aplaudiu o ainda Presidente da República». Esse ‘alguém’, confessou-nos Vassalo Abreu, «foi António José Seguro e isso não consigo esquecer»!… Apesar de tudo, Vassalo Abreu tem consciência que na actual Secção do PS da Barca «a maioria apoia Seguro».
PONTES SEGURO
Por seu lado, José Pontes, Vice-Presidente da CM e sendo tido «até há algum tempo» como delfim de Vassalo, apesar das divergências que não esconde, é tido pelos seus camaradas como tendo sido «sempre leal» com Vassalo. «No dia a seguir às últimas Autárquicas, ele perguntou-me se eu queria ser o seu sucessor nas próximas, ao que eu lhe respondi que a minha disponibilidade e compromisso seriam as que o PS entendesse», disse-nos Pontes. Perante a nossa insistência, não nos rejeitou «essa hipótese», até porque «preocupa-me a sucessão na Câmara Municipal para que eu possa dar seguimento ao trabalho de muitos anos dado que desempenho funções desde 1982 e, a tempo inteiro, desde 2005». E sempre foi dizendo que «está envolvido em projectos importantes que gostaria de concluir, como por exemplo a pista de pesca desportiva que permitirá campeonatos nacionais, ibéricos e mundiais com o apoio da Federação de Pesca; o desenvolvimento de actividades náuticas; promover a pista de canoagem na albufeira de Touvedo; desenvolver projectos na área do turismo como a questão da Pousada da EDP no Lindoso e outros objectivos que me animam e pelos quais me tenho batido». José Pontes, pese as divergências políticas assumidas com Vassalo Abreu, reafirmou que «temos bom relacionamento e neste momento até o estou a substituir por ele estar de férias». O autarca «sente o apoio da Secção local e de muitos dirigentes e militantes de base pois ando nisto há uma vida». O que os seus camaradas e o PS decidirem, assegurou-nos, «ele respeitará sempre».
José Pontes introduz, ainda, um dado novo nesta questão das eleições autárquicas. «Gostaria que, tal como aconteceu a nível nacional, também no plano local houvesse ‘primárias’».
COSTA CHAMA A SI OS CABEÇAS DAS LISTAS A DEPUTADOS
Entretanto, ao fim da tarde de ontem, a Federação Distrital reuniu em Viana do Castelo. José Manuel Carpinteira informou que António Costa faz questão de impor os cabeças de listas nos distritos. O nome mais falado pelo círculo de Viana do Castelo é Gabriela Canavilhas, ex-Ministra da Cultura de Sócrates. A confirmar-se, o mais provável porque até ao momento não sofreu contestação, Carpinteira já terá manifestado interesse em ser deputado, pelo que se admite que seja ele o nº2, seguido do ainda deputado Jorge Fão que deseja manter-se em funções. Fala-se também para nº4 de Dora Brandão, dos Arcos de Valdevez, e que é presidente das Mulheres Socialistas do Alto Minho. É dado adquirido que os presidentes de Câmaras Municipais não se poderão candidatar em lugares elegíveis.
No dia 10 deste mês a Comissão Política Nacional reunirá para ouvir as propostas das Federações e definir os cabeças das listas e, até ao dia 21, estas terão de estar completas.
Uma ‘guerra’ para que Ponte da Barca não quer ser ouvida nem achada mas, posteriormente, despoletar um processo de recontagem de espingardas.