Músculos fortes e punhos cerrados.
Que dizeis povo do meu país, aos indivíduos – óh quantos existem! – que impossível lhes será ter um emprego, porque na verdade não têm incentivos, para aturar patrões reaccionários, capitalistas, e menos disponibilidade têm de cumprir oito horas de trabalho numa fábrica, num escritório ou no campo?
Direis, povo, e com razão, que é necessário compreende-los, que “cada um é pró que nasce”, que não se pode fazer da merda bifes, pois nem todos os trabalhos se adaptam aos feitios de cada revolucionário. E concordo com essas compreensões, com tais tolerâncias nas profissões, uma vez que “o trabalho não dá saúde a toda a gente”!
Mas para aqueles de feitios difíceis, de não adaptáveis e de não poderem cumprir oito horas a trabalhar, podem, actualmente, optarem pela nova profissão, que cansa menos: a profissão de manifestaleiro. E é o que está a dar!
É evidente que neste Portugal democrata de curta data, mas a caminho do socialismo, são poucos os que não têm o dever de garantir tal via. Logo, não devemos estranhar, de ficar estupefactos ou de olhos arregalados, se fizerem certas manifestações, pois serão sempre de repúdio, mas de generoso e sério progressismo.
Assim, não deve nenhum português mal informado ou parolo, criticar os manifesteiros/progressistas, pois trata-se de novos postos de trabalho. Tenhamos em atenção, sim, que essa gente, são continuadores da evolução, e por isso já usam detergentes contra os Camões e os Afonsos Henriques, porque adormeceram. Logo, a conceituada “Rúzia SA ILIMITADA” é que se movimenta, sabe e obedece-se-lhe.
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Estes trabalhadores desta nova profissão, tiveram de se “formar” naquela empresa. São sindicalizados, têm entre si especialistas bem especializados e distribuem todos os incentivos pra bem da nação. Tais incentivos/frutos adquiridos, iniciaram-se logo a 26 de Abril de 1974 naquela firma-mãe, com In-talianos, com Fra-anceses e logo depois com Cub-anos, todos de músculos fortes e punhos cerrados.
Por isso, temos de estimar e de os empurrar pró trabalhinho, uma vez que a nossa vida e destino depende deles. Depende o de pensarmos “tal e qual eles”, o de possuirmos hospitais especializados “em psiquiatria”, de haver “campos próprios de convívio” e de haver o novo KGB (Kapas Geitosas com Bacamarte) português.
Esses profissionais ou novos incendiários prá nova vida, actuaram em Lisboa e Porto há dias, contra o regresso dos nasi-fachos, dos morcões estáticos do 24 de Abril e de tudo que não tivesse tons-vermelhos, de quem são representantes/assalariados. Tal bravura e acção, concentrou em Lisboa e Porto cerca de doze mil futuros médicos-de-psiquiatria, porque “para cura do povo”.
Pelo que se disse e viu, isto foi eco e aviso do que querem, a fim de que todos possamos viver “devidamente calados, porque sem razão de barafustar”, para vivermos devidamente “encamisados” e nunca nus, embora seja dispensada a gravata e sapatos Luís XV, mas de sapatilhas.
Que dizeis a isto, povo do meu país?
Deve dizer-se, que estes novos empregos de manifestaleiros, terão arcaboiço de evitar a anarquia noutros trabalhos; de salvar o ensino e a saúde dos Nasis-fachos; de anular o prejuízo dos 50 mil contos mensais na Imprensa nacionalizada, optando por um jornal único; são firmes lutadores nas ocupações de bens privados – sem selvagerias, hein?! – das terras prós camponeses; evitam prisões demoradas e só matam Maggiolos e Gouveias, se… não forem precisos nos “campos de convívio social”, por eles dirigidos e organizados.
Fazem também, distribuição de armas àqueles que provem ter bons músculos e punhos em riste; evitam as bocas e as censuras externas, como na RTP, certos jornais como já provaram, e que a própria Diah Alhandra, muito os elogiava; evitam “indisciplinas e comentários nos quartéis”, podendo (apenas) falar-se baixinho nas casernas, conforme recomendações do Companheiro-Vasco; não admitem exterioracções na via pública de parados, lorpas ou morcões e por isso mesmo podem sequestrar Pinheiros e Azevedos, eucaliptos e, “aliviam do trabalho” todos aqueles que possam ter cargos de chefia.
Resumindo, povo/povo do meu país: ficais a saber da nova profissão dos manifes especializados; que pode, quem quiser, optar por este novo metier, caso esteja indeciso no que quer fazer, e alegrar-vos de que com estes novos assalariados, baixou o desemprego em Portugal.
Desde que os candidatos sejam arrojados, audaciosos, bravos, de punhos bem fechados, de gargantas sem rouquidão… são os preferidos, é o ideal. É que no caso de a razão ser contra, eles, bravos e vermelhos, têm poderes para irem contra a razão.
PUBE porque é urgente recordar e acordar o povo; E porque é proibido esquecer de como vai este país…, se escreveu o presente texto.
(Artur Soares – Agosto de 1976)
2 comentários
Parabéns por este brilhante texto de um período da nossa história que não devemos esquecer. Até porque estamos ainda a sofrer as consequências sociais e económicas desse período negro de mentiras, traições (Salgueiro Maia foi traído e, em seguida, descartado), ódio, violência…
Abraço amigo
Grato, bom amigo, pelas sua apreciação ao texto. É sempre gratificante saber que há ALGUÉM que caminha connosco, combatendo os caminhos tresloucados de alguns parasitas que nos governam.