CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA (21): Recordando Abril de 1974, em Outubro de 1976

O vodka do povo. 

Uma equipa de médicos da U.R.S.S., ainda há pouco mais de oito anos e num hospital “para doentes mentais”, assim lhe chamavam, fizeram a seguinte pergunta a um “doente” desse hospital: “Então, ainda acreditas em Deus”? Como a resposta foi afirmativa, os referidos “médicos” afirmaram: “então nós trataremos da tua loucura”.

Penso não serem necessários quaisquer comentários a tão horrorosa e cega resposta, de uns médicos escravos ao serviço de homens de escrava política. Esta notícia foi pública, bem como a solução que os “médicos” receitaram e prometeram aplicar ao “doente mental”. Que mais farão estes ditadores, a quem e a quantos mais enterrarão pelo chão dentro, por optarem pela liberdade e pelo direito de pensar?

Se, como dizia Marx, “a religião é o ópio do povo” e, se, como afirmam agora certos arautos das liberdades, que, “a religião é o vodka do povo”, é a alienação, estamos sem dúvida alguma perante novos Marx’s e perante novos judas deste século XX.

Recordem-se os ataques ao Cristianismo e à Igreja por vários países; recorde-se ou leia-se o célebre e inapagável livro do escritor Russo, Soljenitsine; pensemos no que pretenderam fazer certos libertadores de Portugal, contra a Igreja de há dois anos para cá; procuremos estar atentos nas pequenas (grandes) coisas que se vão fazendo contra elementos e bens da Igreja; procuremos estar atentos a certa Imprensa nacional – e agora certa Imprensa regional – e, concluímos facilmente, que a destruição, a confusão e o derrube – embora mal disfarçado –  não param contra religião/Igreja, as quais, se afirma com realidade, é impossível de derrubarem.

Se pararmos um pouco para emendar os fios de ataque, os quais farão um grande novelo, sabemos também que os atacantes são sempre os mesmos, embora haja outros que sendo menos conhecidos, mais não são que inocentes servidores ou funcionários d’alguém que bem paga.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Certos governantes, procurando ser agradáveis e simpáticos ao povo, “ao nosso povo”, publicitam a “liberdade religiosa”, mas cobardemente e nos bastidores governamentais vão dizendo: “Tenho vergonha quando comunistas de outros países me perguntam porque vão à Missa tantos misseiros e vergonha de quando os estrangeiros se congratulam devido ao desenvolvimento da religião do nosso país”.

Kazimierz Kakol, por exemplo, ministro de Estado da Polónia, país onde a população é cerca de 80% católica, afirmou muito recentemente em conferência de imprensa: “Se, como comunista sou obrigado a sorrir para inspirar confiança, nem por isso deixarei de combater o Cristianismo, a Igreja”. “Não admitiremos jamais – continuou – a evangelização fora dos Templos e tão-pouco a educação religiosa das crianças e juventude”.

Leiam-se devagar estas afirmações do ministro – em exercício – comunista de Estado: “não deixarei de combater a religião e a Igreja”!

É-lhes indispensável tal perseguição, tal combate, em prol dessa política de choldra, cega, opressora, contra os seus próprios cidadãos.

É de salientar ainda, que sendo K. Kakol um comunista, não deixa de causar admiração pela existência do contraste nas suas palavras com as de Álvaro Cunhal, quando há dias em Braga, no tetro circo, afirmou: “somos firmemente contrários, para hoje e para amanhã, a quaisquer perseguições ou descriminações sociais por motivos religiosos. Opomo-nos às atitudes que possam ferir os sentimentos religiosos na nossa actividade prática ser essa a nossa orientação”.

Álvaro Cunhal sabia onde estava: estava em Braga, estava na Roma Portuguesa.

Mas será que o comunismo, a negação da liberdade e do pensamento não é igual – porque uma doutrina – para todos os seus seguidores? A prática e a história têm-nos mostrado que os amigos da pata no pescoço naqueles que querem a democracia pluralista, é uma realidade absoluta.

Não pretendo ser anti isto ou anti aquilo. Mas os amigos da prepotência, da “revolução ou morte”, falam e actuam segundo “as normas, segundo a doutrina” e são palavras que não passam de traição aos povos, à liberdade e aos direitos do homem.

Devemos estar atentos e preparados para os golpes dos actuais ditadores hitlerianos e leninistas deste ou do próximo século? Acho que sim.

A Verdade é esta: Cristo enfrentou, dialogou, declarou e conviveu com todo o género de homens do seu tempo. Para tudo tinha soluções embora houvesse quem não o aceitasse, assim como ainda hoje. Todo o homem livre e amante da liberdade responsável, concordará que só tal doutrina – o amor e a paz – são dignas para se ser homem livre. E convém não esquecer nunca: “A Bíblia dos cristãos, é uma carta do amor de Deus ao Homem”.

E porque é urgente recordar e acordar o povo; E porque é proibido esquecer de como vai este país… se escreveu o presente texto.

 

(Artur Soares – Outubro de 1976)

 

  Partilhar este artigo

1 comentário

  1. Parabéns
    Um texto tão actual (os perseguidores estão agora do lado de cá) escrito há 48 anos!
    Abraço

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Também pode gostar