Mãos calejadas no Norte e luvas no Alentejo.
Embora tenhamos o Governo – que minoritário é e “sociedades” não quer – do Partido de Mário Soares e por si liderado, este socialista defende com unhas e dentes governar, porque difícil lhe tem sido levar a água ao moinho. Portugal já estava doente e este Governo quer caminhar a par desta revolução que “dos cravos” cognominaram.
Assim, de Portugal imperial em território, a Portugal mini-mini passou, e passar a ser um maxi-Portugal em população, olhando aos refugiados/retornados que se vieram juntar ao número dos que já cá viviam. Logo, não causa admiração que o ministro António Barreto afirme que em Portugal se comem mais ovos, mais carne, mais leite e de tudo muito mais.
Ora, sendo como diz o sr. Ministro – é diz bem, é público e as estatísticas o confirmam – não causa surpresa alguma que no ano findo se tenha importado 25 milhões de contos em alimentos e produtos essenciais à sobrevivência dos portugueses.
Mas será apenas a vinda de refugiados/retornados que contribuiu para o tanto que se importou e se comeu? Claro que não.
É que o país, principalmente o povo do Norte, sabe perfeitamente que não se trabalha como devia em todos os sectores das actividades nacionais. Mais: o Norte do país, tem consciência absoluta que ninguém mais que ele, tem trabalhado com toda a normalidade, apesar da balburdia social e de tanto madracismo à vista.
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Não admira também, que os nortenhos afirmem nas mesas dos cafés e nas esquinas das praças, que são eles a trabalhar para sustentar o Sul, principalmente de Setúbal (inclusive) para baixo. Isto são afirmações indesmentidas e quanto a nós justas, na medida em que no tempo Gonçalvista, (e não só), de Lisboa ao Algarve reivindicava-se, enquanto a zona Centro e Norte mourejava nas fábricas, nos campos e de forma geral em todos os locais de trabalho.
Reforçando o que atrás se diz e querendo informar mais, quanto à causa de tão excessiva importação de bens essenciais, basta pensarmos que, havendo 100 mil toneladas de milho a menos na produção neste findo 1976, outros cereais e diversos tipos de carne e legumes, Portugal produziu muito menos que nos dois anos anteriores.
Toda esta negativa produção nacional, confirma-se que forças existentes, procurando instabilidade, denunciou-a já o 1º presidente da República eleito pós 25 de Abril, General Ramalho Eanes, ao afirmar: “Não se pode aceitar por mais tempo a dominação de sectores estratégicos da vida do país, por forças políticas mais empenhadas em atingir objectivos meramente partidários do que em promover o bem colectivo”.
Parece-me que não é necessário ir a aulas a Coimbra, basta ter tarimba, para entender as palavras de Ramalho Eanes: basta estar atento, ler o que se diz e ouve e o que fazem “certas forças políticas”.
Se na verdade, 50% das terras da zona da Reforma Agrária e destinadas ao cultivo de cereais não foi semeada devido ao “desleixo e desinteresse dos gestores das unidades colectivas”. Como iremos diminuir/reduzir, então, a certas importações?
Se na verdade, certos terrenos foram preparados e se, “simplesmente” a semente não quiseram deitar à terra …, quem manda neste país, como se governa e que pretendem essas “forças políticas”, esses “gestores” da zona da Reforma Agrária?
Se na verdade, as Unidades Colectivas das terras da Reforma Agrária, nem tão-pouco as sementes do trigo quiseram levantar do Instituto dos Cereais e, noutros casos, “até as sementes foram devolvidas…, quem manobra quem e quem interessado anda nesta bagunçada? Concretamente quem são os responsáveis?
Será que o país já não tem Mário Soares e o seu Governo? Não há autoridades que metam na ordem esses “gestores” da vida agrícola alentejana? E que fazem encurraladas ou adormecidas nos quartéis, as forças armadas?
É que sendo assim, é assim, engana-se redondamente o sr. Ministro António Barreto quando prevê para este ano de 1977, importações de alimentos no valor de 29 milhões de contos. Terá de ser muito mais o valor das importações. Ou não será assim?
PUBÉ hora de ordem, de acção e de pleno respeito pelos cidadãos. É hora de nos charcos ou em pântanos meter os oportunistas, os párias, os revolucionários pagos e propagadores de uma estranha liberdade que em Portugal querem impor os políticos vendidos, os madraços nauseabundos, que muito falam e tudo reivindicam sem nada produzirem, roubando.
O povo da zona Centro ou do Norte, não tem a obrigação de fazer calos nas mãos, enquanto gestores agrícolas, no Alentejo, calçam luvas e comem aquilo que os outros produzem. E como diz o povo: quem não trabuca não manduca.
Que o chefe da Nação seja autêntico árbitro contra “tais jogadas” e que o inimigo desses jogos saiba apontar, para mandar agir a quem de direito, marginalizando os que não querem servir Portugal e que pretendem vender uma casa que não lhes pertence.
E porque é urgente recordar e acordar o povo; e porque é proibido esquecer de como vai este país…, se escreveu o presente texto.
(Artur Soares – Janeiro de 1977)