CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA (26): Recordando Abril de 1974 em Setembro de 1977

Como a Espanha soube olhar para Portugal.

“Sem dúvida que Salazar e Marcelo Caetano prejudicaram Portugal, mas foram grandes homens, sobretudo Caetano, para a Espanha”.

Assim afirmou um jornalista famoso do país vizinho ao falar da deles situação política, entrevista dada no mês passado em Lisboa, onde procurava confrontar as duas nações, nos seus domínios económico, político e social, após o nosso 25 de Abril/74.

Logo que Salazar morreu, a Europa chegou a ver no substituto Marcelo Caetano aquele homem que a mesma Europa apreciou, acertadamente, na pessoa de Adolfo Suarez de Espanha.

Só que Suarez, conhecendo melhor – ou procurando actualizar politicamente o seu povo – a política de Espanha, do que Marcelo Caetano o desastre político de Portugal, Adolfo Suarez atirou-se à vitória que preparou contra a corrente de várias forças Franquistas, a qual foi sentindo nas mãos, lutando pelos caminhos da democracia, sem descarrilar nos mesmos perigos e oportunismos que descarrilou e se verificou em Portugal.

É de recordar, que logo após o segundo ou terceiro mês da Abrilada em Portugal, percorriam as ruas do país milhares e milhares de espanhóis, que se quiseram inteirar de como era a revolução em Portugal.

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Pode-se afirmar e sem corrermos o risco de engano, que Suarez de Espanha aprendeu muito com os falhanços de Governos provisórios cá, como aprenderam também os partidos políticos de Espanha.

Sabendo os países europeus que Portugal era um fato com costuras já podres em todos os sentidos, não ficaram surpreendidos com o 25 de Abril, o qual há muito era esperado, porque foi acompanhado de vitalidade política e de apoio popular.

Razão porque o Movimento dos Capitães pôde actuar sem qualquer tiro disparado, contra os que já há longo tempo eram desacreditados, quer dentro quer fora do país.

A insatisfação social, a guerra no Ultramar e o assassinato de Humberto Delgado em Badajoz, levou a que a esta fantochada portuguesa tivesse dado à Europa bons ânimos, aquando da tomada de posse de Caetano, porque julgaram que este político daria passos seguros nos caminhos da democracia e da resolução dos problemas ultramarinos. Mas, não! Caetano foi um fiasco: estático, jactante e medricas.

Recordamos a substituição dos nomes “censura” pela de “exame prévio”; de P.I.D.E. por Direcção Geral de Segurança e o desarmamento feito em vários pontos do país onde existia a Legião Portuguesa, atitudes que pareciam ir democratizar Portugal.

Com Marcelo, nada evoluiu e a Europa concluiu que Caetano dominava uma “máquina emperrada”, uma lodosa geringonça, máquina que jamais atingiria novas velocidades políticas, sociais e económicas.

É evidente que o tempo muda usos e costumes, não pára na sua marcha inexorável. O progresso embebeda os povos e cria neles o desejo de “ser” e o de viver o melhor e mais comodamente possível. Todavia, sente-se uma certa agitação social negativa e sente-se que o dispêndio ou os custos desta tenríssima democracia tem sido elevada.

Em contrapartida – e aqui se nota o préstimo de Marcelo Caetano à Espanha – vemos uma Espanha livre, em democracia, com ordem e respeito, sem revolução armada e sem tanques militares na rua, de economia tremida sim, mas não como a economia desastrosa que vivemos actualmente. Logo, Espanha, soube olhar para Portugal.

Filipe Gonzalez, do partido socialista operário espanhol (PSOE), em plena campanha eleitoral no seu país, afirma: “caminharemos irredutivelmente para a democracia e as nacionalizações irão com certeza ser feitas. Estas têm de ser no mínimo e que sejam na realidade as fontes da grande economia da Espanha. Todavia, far-se-ão lenta e cuidadosamente para não prejudicarmos a economia nacional”.

Repare-se que, até neste aspecto a Espanha soube olhar para nós. Para as nossas atabalhoadas nacionalizações feitas, e com a ausência dos partidos políticos; para a anarquia política que teima em reinar; para os assaltos à mão armada a pessoas e a coisas e para o medo do regresso de nova ditadura ou de uma possível guerra civil.

Enquanto a Espanha aprendeu e soube tirar proveito do nosso caminhar em democracia, Portugal, não soube olhar para a democracia espanhola em curso, para os seus cuidados e para o seu caminhar seguro e firme, mas sobretudo cheio de realidade.

E assim, vivemos alegremente paupérrimos, como nunca. Somos os confirmados melhores pedintes da Europa; os mais especializados em “pacotes de austeridade”, como nunca pensamos ser e, o que é mais triste, somos um país que demos novos países ao mundo, países que agora nos acusam de “portugueses colonialistas, reaccionários e defensores de um imperialismo que os quer oprimir”.

Eis os nossos feitos. A negra treta que iremos escrever na história, de uns políticos cegos, com alzheimer ou cheios de reumatismo da cabeça aos pés. Como dizia meu avô, simpatizante da paz e da verdade: “os políticos são todos a mesma merda – só o cheiro é diferente”.

E como é urgente recordar e acordar o povo; e como é proibido esquecer de como vai este país… se escreveu o presente texto.

(Artur Soares – 29 Setembro de 1977)

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