CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA (27): Recordando Abril de 1974 em Outubro de 1977

O ouro da herança fascista.

Veio a revolução dos cravos e os portugueses fizeram-lhe a devida vénia, perante tamanha fanfarrada social e política. Vivia-se sem liberdade.

Passaram-se os primeiros dias e a todos os portugueses foi-lhes prometido uma vida mais digna, mais justa e mais humana. Durante a fanfarrada ouviram também falar em “fascismo, liberdade, socialismo” e aprenderam a odiar todo o sistema deposto, assim como a pesada herança à vista – de mais de quarenta anos – para os novos líderes e beneméritos do povo, darem a devida solução.

Pelo que, ensinou-se a odiar, a recusar tudo e todos, a reivindicar o que não havia nem possível era, e, ensinou-se o povo a ostracizar o trabalho, porque, diziam, era a forma de enriquecer capitalistas.

Então, iniciou-se o ataque: balbúrdia política, luta pelo poder, oportunismo em todos os cantos do país, sem se olhar aos prós ou contras de uma sociedade despolitizada e, o povo, assiste impávido, mas sereno, estupefacto até, ao desenrolar das acções dos “mais inteligentes”, dos grandes “defensores do povo português”, estes, que na clandestinidade andavam e sem que a grande maioria dos cidadãos pudesse dizer-lhes, “calem-se, não sejam falsários e não se tornem os rapaces de Portugal”.

São passados quatro anos da revolução dos cravos – mas parecemos encravados – e Portugal é mais pedinte que antes; mais possuidor de vícios e de defeitos que antes; é menos povo, isto é, menos unido que antes, na medida em que busca trabalho e não encontra; é-lhe recusada a paz social e vê bem distante a solidariedade, o pão, o livre respirar neste mundo português que o liquida sem visíveis esperanças, as quais, diariamente se esvaem.

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Fins de Outubro de 1977. Quatro anos de passos duvidosos, em democracia, onde se ouve permanentemente: “não há aqui um mínimo de condições de vida”; “o ambiente que se respira é de promiscuidade, barulho e fome”. E perante tudo isto, que Natal irão ter os portugueses este ano?

Injustiças, faltas de educação, violência de vários tons que dormem connosco e mantêm-se durante o dia, sem que os mais altos responsáveis da Nação se preocupem, travando este desassossego social; as fábricas não trabalham a ritmo certo e em paz, e os anarquistas são protegidos por sindicatos que, “resolvem tudo”, menos a segurança dos dedicados e disciplinados trabalhadores.

O ouro existente nos cofres do Estado – ouro que os brasileiros já reivindicam como deles desde 1948 – conhecido como o ouro da “pesada herança fascista”, gasta-se ao desbarato para dar de comer a quem nada faz/produz e em prejuízo dos que querem trabalho para terem pão, mas ninguém olha para eles, mesmo que estorvem nos aeroportos de Lisboa, fazendo desses locais habitação, acompanhada de frio e de fome.

Mas sabe-se, em contrapartida, que se fazem lautos banquetes entre “os mais inteligentes/democratas”, passeios oficiais e ou/visitas guiadas de interesse nacional, famílias quase inteiras que passeiam nos corredores dos ministérios sem assumirem responsabilidades nos seus novos cargos profissionais e distribuindo apenas, burocracia, palmadinhas nas costas aos desesperados e burocracia como resolução.

Sabe-se – é publico – que uns nada têm porque nada ganham; outros tudo querem e tudo lhes é dado; outros, tudo procuram rapar porque o trabalho lhes faz mossas nos pés, nas mãos e na cabeça; outros buscam a droga e sabe-se da sua proveniência, porque já não aguentam a mentira e as promessas feitas.

Assim caminhamos como o barco no alto mar, em perigo, onde se procura tapar buracos dum lado e logo outros rasgões surgem do outro.

Culpa do povo? Não. Culpa dos capitalistas? Também não, porque não existem. E se alguns eram abastados, tiveram de fugir dos novos poderosos que ninguém elegeu e que raríssimos portugueses conheciam, porque alojados nos hotéis de Marrocos, da Argélia, de França ou da Rússia.

Então, culpa de quem? Um leninista ou um marxista dirá: é culpa das novecentas toneladas de ouro deixadas nos cofres do Estado, a par da “pesada herança fascista”.

 

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E porque é urgente recordar e acordar o povo… e porque é proibido esquecer de como vai está este país…, se escreveu o presente texto.

(Artur Soares – Outubro de 1977)

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1 comentário

  1. Parabéns pelo fantástico documento histórico! Deveríamos aprender com o que sofremos naqueles tempos, mas parece que não queremos ou não sabemos. Continuamos manipulados por grandes interesses inimigos do Portugal cristão!…
    Abraço

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