CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA (32): Recordando Abril de 1974 em Setembro de 1979

A viagem e o luto da política.

Dirigente do Movimento de Libertação de Angola (MPLA); presidente não eleito dessa mesma república; médico e poeta, era, Agostinho Neto, o homem que faleceu na Rússia, “vítima de doença grave”.

Perdeu-se um homem com valor social e profissional. Têm menos um filho as terras de África, concretamente o povo de Angola, o que sinceramente se lamenta.

Portugal foi informado do acontecimento nos meios de Comunicação Social e, os portugueses, serenos como sempre, pouco atentos ou nada interessados neste caso, viram seguir para Angola o seu presidente da República, General Ramalho Eanes, a fim de participar no funeral do “estadista Angolano e amigo de Portugal”, conforme pesarosamente anunciou a Imprensa. Não a Imprensa de Portugal, mas “certa Imprensa” – dois ou três jornais, conforme constatei.

Retrocedendo alguns anos vividos e, querendo ruminar de como foram ruminados e, de como tem sido a nossa convivência/laços sociais com Angola, concluiremos que fizemos uma descolonização após a independência deste país, vergonhosa, incompetente, fratricida, humilhante (para nós) e despida do zelo de segurança e de bens de quem lá vivia.

Vários milhares de mortos, brancos e negros, se fizeram por perseguição e vingança após a independência, sendo o Movimento do MPLA o mais assassino, o de Agostinho Neto.

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Esta onda de violência e mortes em Angola – que certos guerrilheiros do Exército Português e de civis apoiavam – criou em Portugal, mal-estar. Pensava-se que não foi para iniciar outra guerra que se tinha entregado Angola, e por isso, as boas relações entre nós e angolanos, eram de desprendimento.

Agostinho Neto era indiferente aos problemas de milhares de portugueses e de angolanos que fugiram para Portugal e, inclusivamente, resolve sob silêncio e segredo total, substituir o “escudo” angolano por Kuanzas, tendo como única meta a rapina contra todos.

Agostinho Neto, feito médico nas aulas e nos hospitais portugueses, luta contra a presença de Portugal no seu novo país e, opressora e violentamente, aceita a presença de Cubanos (patrocinados pela Rússia) em Angola e fica rançoso e apático ao Portugal que o acolheu e formou, optando pela ditadura comunista, porque incentivado por três ou quatro ditadores portugueses, que deviam (devem) obediência a Moscovo.

Perante tudo isto, perante o que se afirma, Ramalho Eanes, presidente da República de Portugal, alheio ao sofrimento e mortes feitas, bem como a críticas que o povo do seu país pudesse fazer, desloca-se a Angola e participa no funeral de Agostinho Neto, faz discurso à chegada e entre outras frases, afirma: “Fui a Angola para participar na última homenagem a Agostinho Neto, estadista que merece a nossa admiração de Portugueses e de Europeus”.

Aceitam-se lamentos pela morte do ditador e assassino Agostinho Neto, bem como se aceita que o General Eanes tenha sido seu amigo pessoal ou admirador ou o que quer que seja. O que não parece correcto, normal, eticamente político, é ter mostrado nulo respeito por quem o elegeu, ao ter participado no funeral e de ter afirmado “merece a nossa admiração de Portugueses”, quando na verdade os portugueses sentem o contrário.

Se pensarmos que foram os portugueses democratas-cristãos, social democratas e a ala direita dos socialistas que elegeram Eanes para presidente da República, como se aceita esta viagem presidencial no luto da política angolana, tratando-se de um homem ditador, perseguidor e destruidor físico do seu povo e que clara e socialmente desprezou tudo que era PORTUGAL?

E não é verdade que nos três novos países, Angola, Guiné e Moçambique, têm três ditadores a governar e a perseguir? Não é verdade que Rosa Coutinho, Álvaro Cunhal, Vasco Gonçalves e, de certo modo, Mário Soares, são culpados de toda a miséria económica e social que nesses países se pratica e se vive?

Desse modo, o presidente dos portugueses ofendeu o seu povo, marginalizou-o e apenas se colou às vontades Melo-Antunistas, vontades marxistas e quejandas. Eis porque na praça pública, no café e nos mercados peixeiristas, se diz que “Eanes enganou o povo”; “atendeu ao vermelhão político”; “às ordens e ensinamentos do Conselho da Revolução”, “não mostrando respeito por quem o escolheu para presidente de Portugal”.

Agostinho Neto, nunca foi admirado pelos portugueses, pelo contrário. Angola tem sido um país-em-chamas, visto nestes cinco anos do Abril em Portugal. A árvore que os comunistas portugueses plantaram em Angola – através de daquele político – cresce desorganizadamente, matreiramente, mentirosamente – ditatorialmente. Espero ver crescer Angola em democracia, liberdade de expressão que não têm, justiça social e pão para todos. Na verdade, os três novos países, são povos nossos irmãos.

E porque é urgente recordar e acordar o povo; e porque é proibido esquecer de como vai este país…, se escreveu o presente texto.

(Artur Soares – Setembro de 1979)

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