CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA (35): Recordando Abril de 1974 em Abril de 1984

Nunca tantos clamaram tanto!

Não sei que conclusões tirou ou tirará o povo português das festas do 25 do Quatro, realizadas neste ano de 1984, bem como não sei se o povo-povo se uniu a elas.

Para umas centenas de indivíduos será uma meditação/conclusão positiva e alegre, pelo facto de que se não tivesse acontecido a Abrilada não tinham honrarias e sobretudo dinheiro besuntado na política; para outros – e estes serão a maioria – a Abrilada foi recuo em várias áreas da vida nacional, desilusão e/ou frustração.

É verdade que o país vive, tem vivido, em alta insegurança social: há desentendimentos nos lares, na profissão, nas amizades existentes de há muitos anos feitas. Vive-se em tensão permanente, no tal stresse, por tudo e por nada se berra, se barafusta, se reclama, se vêm faltas de respeito/educação, se chega a vias-de-facto e, as prisões, nunca tiveram tantos “hóspedes” para agasalhar e servir.

Existe a anarquia profissional: “o patrão que trabalhe”; “a tal dinheirito tal trabalhito”, ensinam os novos professores e mestres revolucionários. Não se produz, não se economiza e o país vive daquilo que dificilmente poderá pagar – os empréstimos externos.

O oportunismo manda, o compadrio reina, a endogamia cresce em bom ritmo, o nepotismo está nos palcos, a vida rapace de muitos respira-se, a incompetência nos vários salões da vida nacional vai do Minho ao Algarve. Mas o que importa é ser “fisólofo”, mesmo que seja preciso rastejar.

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Esta actual classe política é, em geral, medíocre: nada resolvem, nada constroem, vivem faustosamente e fazem passeios fora do país com dezenas de elementos, prometem tudo para ludibriar o ZÉ e a fome é visível do Minho ao Algarve. Há pessoas que já caminham descalços e sabe-se que em muitos lares faz-se sopa sem batatas e sem azeite.

Falam e sempre falaram em paz social e em qualquer esquina se vê “guerrilha” e pedintes na rua a crescerem como ratos nos esgotos; falam e sempre falaram em serenidade, confiança, esperança num futuro melhor e a agitação social cresce através de organizações armadas, de sindicatos facciosos, irresponsáveis e que têm como meta o ódio, a mentira e o querer-se uma sociedade materialista a não produzir e a gastar.

Falam e sempre falaram na eficácia da justiça, na disciplina social e em qualquer ermo das cidades e dos centros comerciais se convida à compra de uma arma de fogo, onde o comprador, sente que é a melhor maneira de andar seguro. Sabe-se que nunca tantos portugueses – legalmente ou não – recorreram ao uso e posse de arma como no tempo que passa.

As autoridades policiais não actuam. Desviam-se dos problemas e só lhes falta dizer que têm cataratas. Têm medo de prender, porque presentes a Tribunal os insurrectos da sociedade, os Juízes a todos soltam de imediato, nas barbas das autoridades. Logo, estes profissionais da ordem e do respeito, têm dificuldades em analisar quanto ao seu êxito profissional, perante os superiores hierárquicos.

Comemoraram-se os dez anos do Abril em Portugal e os nossos pobres – não tanto os de pobreza económica – políticos deste país nem se apercebem de que nunca tantos clamaram tanto como hoje, por trabalho, ordem nas ruas da cidade, respeito por todos.

Talvez se sintam impotentes perante o caos em que meteram o país e quem sabe se preferiam empurrar o povo de forma indirecta para um novo 28 de Maio, fugindo às responsabilidades e tampar a democracia e a liberdade conquistadas. Se assim fosse – apesar de tanta agitação existente – muitas contas tinham de apresentar ao povo e sangue teria de escorrer calçada-abaixo, com certeza.

Portugal, porque muito tem sofrido e porque nada lhe é dado a ganhar, a ser e a ter, merecia melhor sorte, mais respeito e porque somos um povo com mais de oito séculos de existência.

Nunca tantos clamaram tanto, como nesta data!

Merecemos os melhores e os mais competentes políticos. Joguem-se às valetas da sociedade os oportunistas, os de vida rapace, os de acção normose, os incompetentes, os manipuladores, os subservientes e, de forma rápida e peremptória, os corruptos.

Busquemos gente que saiba honrar os pensamentos dos outros, de respeitar as limitações dos outros, gente que saiba (justamente) dar o que a cada um tiver direito, que seja gente, enfim, digna de ser cognominada de Estadistas, como pode ser um Adriano Moreira, um Veiga Simão, um Freitas do Amaral ou como foi um Sá Carneiro, brutalmente assassinado.

E porque é urgente recordar e acordar o povo; e porque é proibido esquecer de como vai este país… se escreveu o presente texto.

 

(Artur Soares – Abril de 1984)

 

 

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