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Criação inédita da Designer Isabel Lima numa viagem pelo Alto Minho pitoresco

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A coleção de moda inédita que a estilista Isabel Lima apresentou na mostra 100% Alto Minho, no Centro Cultural de Viana do Castelo, constituiu uma viagem imagética pelos símbolos centrais da identidade de cada município do Alto Minho.

Com um novo olhar que nos proporcionou a criadora Isabel Lima na reinvenção da autenticidade do ser do Alto Minho, através da conjugação da criatividade artística no plano da moda com as mais profundas tradições das vestes regionais, surpreendeu. Cada peça criada ofereceu-nos um fragmento da narrativa histórica e etnográfica do Alto Minhocondensada numa palete cromática contrastante em sinais, códigos e imagens que nos desafiam ao exercício da interpretação e apelam às memórias sensoriais.

Com o objectivo de garantir uma abrangente e articulada temática de acção com peças que aproximem a arte e o património buscou a arquitectura granítica dos espigueiros do Lindoso e do Soajo, a tecelagem das mantas de trapos e os tecidos de lã e linho, a pesca artesanal, as laranjas do Ermelo, o lobo ibérico, o azevinho, as uvas, os jardins, o religioso artístico e os trajes.

Isabel Lima soube interpretar a essência telúrica de cada município do Alto Minho, compreendendo como a indumentária tradicional espelha modos de vida, estratégias de subsistência com raízes multisseculares e uma plena adaptação e harmonia das gentes com as condições ambientais locais.

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José Mattoso, Suzanne Daveau e Duarte Belo, no livro O Sabor da Terra  de 2010, sintetizam a génese da identidade do Minho e, por extensão, do Alto Minho, desta forma incisiva:

“Seja como for, a região a que se convencionou chamar o Minho tem uma identidade própria. Como sempre, é preciso começar a procurá-la na terra. No fecundo chão que os Minhotos pisam e donde tiram o sustento. Foi a partir das suas condições naturais peculiares que eles criaram os hábitos de trabalho, formas de organização, ocupações predominantes, padrões culturais, ritos e provérbios.”

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Sendo a aposta maior na minhota, que se orgulha do trabalho manual, realça o hábito do uso da capa pela castreja e a saia rodada de grande amplitude, como canta Kátia Guerreiro:

“Meu amor deu-me uma saia

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Que é da cor do açafrão

É uma saia rodada

Tem uma barra bordada

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Ai em forma de coração”

 

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Sabendo que o uso do lenço de merino, de tapete, franjado ou de outra gama é uma peça extremamente importante e fundamental na indumentária da minhota, puxou pela sensibilidade e fez uma contextualização da capa, da saia e do simbolismo do lenço.

Da passerelle para o mundo, num empreendedorismo criativo com a fruição da ideia, e o trabalho manual como técnica, numa abordagem nova e estimulante a pensar “globalmente e agir localmente” de forma consensual agregou e valorizou alguns dos muitos recursos da região, para numa linguagem moderna, com interesse artístico e cultural, dar brilho à arte de vestir com padrões do Minho.

Principiando a “viagem pelo Alto Minho Pitoresco” a partir do Município de Viana do Castelo, percorrendo os caminhos patrimoniais do Alto Minho e encontrou o que há de mais autêntico e genuíno e traçou um diagnóstico sectorial nos domínios das gentes, da agricultura, das pescas, do património, da história e turismo.

No Município de Viana do Castelo, o rio lima, o mitológico “Lethes”, rio do esquecimento, que vindo da Galiza atravessa os Municípios de Ponte da Barca e Ponte de Lima e desagua num estuário com protecção especial, nas suas margens férteis cultiva-se o milho e abundam os vinhedos dos afamados vinhos das Terras de Geraz do Lima.

Desta Ribeira Lima feita de campos entrançados de vinha e milheirais nos fala o poeta Limiano Delfim Guimarães nas estrofes de “Alma Portuguesa”, em 1927:

 

Ponte de Lima, berço de meu Pai,

Jardim encantador do nosso Minho,

É para ti que grande parte vai

Do meu carinho…

 

Tão engraçada, tão risonha e clara,

Toda em vinhedos, milheirais e pomares,

– Labruja, Freixo, Rebordões, Seara –

     Que belos ares!…”

 

O artesanato do município de Viana do Castelo, capital de distrito do Alto Minho, é muito rico, expresso no traje, nos bordados e nas faianças.

Inspirado no traje de Perre, freguesia entre a Serra e a planície aluvial do Lima, Cláudio Basto pinta-nos esta aguarela:

 

campo encarnado; grandes folhas e flores: rosas e lírios estilizados, o amarelo orlado a verde, e o róseo orlado a branco; botões de rosa vermelha, brancos e verdes”.

 

No município de Caminha, onde o rio Minho se encontra com o Oceano e estuário, também, com protecção especial, a afamada pesca da lampreia, da solha e do sável, torna o Minho também terra de pescadores.

Raul Brandão deixou-nos uma importante obra que constitui um documento histórico e etnográfico sobre a vida dos homens do mar portugueses, no princípio do século XX: Os Pescadores. Nela descreve-nos as artes da pesca entre Caminha e a Póvoa do Varzim:

 

“São maceiras, de fundo chato, tripuladas por dois homens, volanteiras ou lanchas de pescada por doze homens, e barcos de sardinha, que levam cinco ou seis peças de sessenta braças cada uma, e quatro homens. As redes têm nomes: peças as da sardinha, volantes as da pescada. Chama-se galricho a uma espécie de massa com que se apanha a faneca; rastão ao camaroeiro; patelo à rede que colhe o caranguejo ou mexoalho; e rasco à da lagosta. As redes da sardinha são do mestre, e as da pescada dos pescadores. Os quinhões dividem-se conforme o peixe.”

 

Raúl Brandão visita Caminha em 12 de agosto de 1921 e narra a forte impressão que esta paisagem do estuário do Minho lhe deixou:

 

“Caminha esta manhã é um sonho doirado – que tenho medo – se vai esvair na atmosfera. O rio azul, o grande monte fronteiriço, a água, o céu, não tem existência real. Sobre o esplêndido panorama diáfano e azul, sobre o cone imenso e compacto de Santa Tecla, sobre a Povoação de Campozando, sobre os pinheirais verdes e os campos verdes, sobre a água que não bole, passou agora mesmo um pincel molhado em tinta acabada de fazer”.

 

A este Município pertence a Serra d’Arga, sítio da Rede Natura 2000, onde as mulheres são excelentes tecedeiras de mantas de trapos, de lã ou do linho. 

A paisagem e o sossego da aldeia de Covas no Município de Vila Nova de Cerveira, rica em arvoredo, habitat da raposa, lobo ibérico e do cervo, com trilho interpretativo da ribeira do Coura, define-a como um destino de turístico da natureza.

A fortaleza que encontramos no Município de Valença indica-nos um Minho de fronteira com a Galiza, e no mesmo concelho, em Cristelo Covo, como todas as aldeias do Minho, a visita pascal “sem fronteiras”, é densa de simbologias, sendo a comensalidade (almoço da páscoa) um sinal marcante da época “cabrito assado no forno de lenha”.

Atravessar o Minho sem conhecer o Couto do Luzio, em plena serra, no município de Monção, que teve antigamente privilégios é encher os olhos com belas paisagens.

As vinhas segundo João Verde chamam a atenção:

 

“Quem vem a Monção e vê

Estas paisagens sem par,

Não sabemos bem porquê

Fica a olhar, a olhar, a olhar…” 

O rio Minho transpondo diagonalmente a Galiza e a partir de S. Gregório, município de Melgaço, forma a linha geográfica Espanha /Portugal, segundo afirma Estrabão é o maior da Lusitânia.

Sendo um rio lendário e místico devido à abundância de peixe e à fertilidade das suas margens, os galegos chamam-lhe Pai-Minho.

No planalto de Castro Laboreiro nasce o rio Laboreiro, afluente do rio Lima. Na proximidade deste vasto planalto pontuado por monumento megalíticos, existe um castelo medieval posicionado no alto do monte. A pastora  com a capa, guiando o rebanho, na companhia do cão, falam-nos de um Minho com queijo e fumeiro e povoações de brandas e inverneiras.

Miguel Torga, entusiasta de Castro Laboreiro e do seu modo de vida, descreve assim estas pastoras a quem chama de castrejinhas do monte:

 

Bonita, esbofeteada do frio, a cachopa vinha à frente dum carro de bois carregado de canhotas. Preparava a casa de inverno para quando chegasse a hora da transumância e toda a família —pais, irmãos, gados, pulgas e percevejos— descesse dos cortelhos da montanha para os cortelhos do vale, abrigados das neves”.

 

Nos Municípios de Melgaço e Monção realizam-se as Feiras mais importantes do vinho.

As uvas, que se transformam em vinho fazem do Minho um lugar privilegiado de festas, romarias e feiras.

Ao Município dos Arcos de Valdevez pertence a aldeia do Soajo e a reserva da biosfera com a biodiversidade de espécies, sendo uma delas o azevinho. Os pomares de laranjeiras, como canta Teresa Salgueiro, no Ermelo, laranjas pequenas, de casca fina e doces são “puras como Deus as dá”.

O Minho com história, do artístico e do religioso, associa-se ao românico da Igreja de Rubiães no município de Paredes de Coura e à Igreja de Bravães no município de Ponte da Barca.

No Lindoso existe uma das tradições mais antigas do Alto Minho, o enterro do Pai Velho, com o carro das ervas, é uma manifestação que define a despedida do Inverno e ao desejo de abundância nas sementeiras da Primavera,

No Município de Paredes de Coura, a paisagem protegida de Corno de Bico, dotada de valor ecológico, em tempos remotos serviu de local de culto, de espaço de defesa, de linha de fronteira e de pastagens e abrigo.

No mesmo Município, a Casa Grande Romarigães de Aquilino Ribeiro, fala-nos do barroco no Alto-Minho e de gente de valor.

Regressando ao vale do Lima, onde a agricultura é intensa e diversificada, na freguesia de Cabaços agradece-se todos os anos as boas colheitas e em Maio a Festa é da Flor.

E não esqueceu a Área de Paisagem Protegida das Lagoas de S. Pedro de Arcos e Bertiandos, ecossistemas estuário e lagunar, marcado pelos habitats húmidos e bosques caducifólios.

 

Isabel Lima termina esta viagem descendo o estuário do rio Lima até á sua foz, chegando na companhia de D. António da Costa em finais do século XIX:

 

 “À esquerda, a ponte extensa e vistosa. O Lima, largo e esbelto, corre à nossa vista a lançar-se no Oceano. Um cais imenso serve de margem direita ao rio. Ao lado direito do cais, acompanhado sempre a margem do Lima até à sua foz, a casaria da cidade…”.

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