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Criadores de gado vão resistindo à severidade da serra e aos desincentivos

Dezenas de exploradores pecuários, sobretudo em territórios de montanha (Soajo, Gavieira, Sistelo e Cabreiro) ainda fazem do pastoreio a sua principal fonte de sustento, mas as dores de cabeça e os desincentivos à atividade preocupam cada vez mais os criadores de gado.

Dizem-se marginalizados por residirem no “coração” do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), mas não desistem à primeira. Só que os ataques do lobo, a destruição das pastagens por incêndios suspeitos, a revisão em baixa dos subsídios e o não pagamento pelo Estado das indemnizações devidas têm vindo a desencorajar a atividade.

Ana Moura, de Paradela (Soajo), não abandonou a atividade, mas mudou-se da serra de Soajo para a da Labruja (“paredes-meias” entre Ponte de Lima e Paredes de Coura, a leste de Arcos de Valdevez), onde tira rendimento de 150 vacas, entre cachenas e barrosãs. À pergunta se compensa trabalhar no setor agropecuário, a produtora responde perentoriamente. “Sim, vale a pena, desde que se saiba fazer contas e na condição de se ter uma grande manada, como é o meu caso”, explica, reconhecendo que os pequenos produtores, por causa da “redução acentuada dos subsídios”, vão ter muitas dificuldades em resistir.

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Pela serra de Soajo mantém-se António Cerqueira, que tem 120 vacas, entre adultas e crias, 29 cabras e 15 cavalos. Ao todo, 164 cabeças, uma das maiores reses do concelho de Arcos de Valdevez. Conhece a serra como poucos e tem denunciado, quer na comunicação social quer em diversos fóruns, a restritiva e alheada gestão do PNPG, com consequências na floresta desordenada, na falta de corta-fogos e no farto material combustível.

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Já João Pereira, apesar de fazer contas de subtrair – “o rendimento baixou entre 20 e 30%” –, vai resistindo a custos cada vez elevados. “Tenho 33 vacas, todas cachenas, e 12 equinos, em regime semiextensivo, sendo que no inverno os animais vêm todos os dias ao estábulo, porque a serra de Soajo é muito fraca e por isso temos de lhes dar forragens, que estão cada vez mais caras”, constata o criador. Cada fardo de feno custa mais de três euros, e cada rolo só dá para alimentar três cabeças durante uma ceia.

Tendo em conta os custos associados, mais ainda no caso de se tratar de uma nova exploração, João Pereira desencoraja investimentos de raiz, a não ser que os empreendedores “gostem muito de gado e estejam cientes da carga de trabalho que a atividade implica”, sustenta.

Mas velhos e novos exploradores concordam que o PNPG tem um valor incalculável, sendo, no entanto, urgente delinear estratégias articuladas com a população, que tem de ser consultada pelos responsáveis do Parque para que as aldeias de montanha não fiquem irremediavelmente despovoadas.

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