A Crónica da Água

Um dia, já lá vão uns bons anos, titulei assim um poema: “A vida é água que passa, mas mais vida há-de passar”. Hoje tenho sérias dúvidas que a galopante escassez do precioso líquido possa garantir “in perpetuum” a continuidade da vida no planeta. Este facto faz que seja crucial o que vai acontecer no século que vivemos.

Nos nossos dias já é comum falar-se de crise da água, e este é um cenário real

Os rios, fluxos de água doce indispensáveis à vida de todas as espécies viventes, nascem por norma entre escarpados penhascos implantados nos grandes relevos da terra, e vão engrossando o seu caudal com a contribuição da pluviosidade à medida que percorrem grandes espaços, até cumprirem a sua missão de se juntarem aos oceanos.

Desde tempos imemoriais que as civilizações procuravam as margens destes caudais de vida para se abastecerem do precioso líquido, quer para consumo pessoal, higiene, etc, como para irrigar as terras que cultivavam. Por isso esses espaços eram disputados e ainda hoje o são nalgumas regiões do mundo.

Entretanto construíram-se barragens, e armazenou-se a água em lagos artificiais, cisternas, e em todo o tipo de reservatórios para a canalizar para utilizações mais no interior dos territórios. Actualmente, grandes planos de engenharia permitiram levar a água a distâncias cada vez maiores. Mas tudo isto se tem apoiado nos caudais hídricos dos grandes rios, cujas ameaças climáticas, e outras, fazem agora prever que venham a ser cada vez mais reduzidos e poluídos.

Uma parcela significativa da água encontra-se em permanente circulação, sob a acção do calor do sol e dos ventos. Essa água  transforma-se em vapor, constituindo o chamado ciclo da água ou ciclo hidrográfico. A importância do ciclo hidrográfico é vital para a biosfera, a manutenção equilibrada dos ecossistemas, e naturalmente para a sobrevivência de todos os seres vivos da Terra.

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Parte desse vapor é produzido também pela transpiração dos organismos vegetais e animais. Para exemplificar, note-se que, num só dia, uma árvore de grande porte pode chegar a evaporar até 300 litros de água.”

Nos dias que correm, além da maior escassez das chuvas que alimentam esses prestimosos e ricos cursos de água, para eles convergem toda a casta de elementos poluentes que vão tornando venenosas as suas águas. São os resíduos das várias explorações de porcinos, de fábricas de rações, de industrias de celuloses, e outras altamente poluidoras; são as cinzas que escorrem das áreas ardidas; são as infiltrações de uma grande variedade de químicos fertilizantes, etc, etc.

 

À falta de chuva, as pastagens escasseiam quando a seca é severa ou mesmo extrema. 

 Os animais procuram então um fio de água para se dessedentar.

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Mas Tudo isto se passa em países que até agora não conheceram, ou começam agora a conhecer secas severas, e onde o bem estar social – a que não é estranho o beneficio da água – não conheceu ainda agravamentos significativos. Já quanto a outros…

Segundo a ONU, já em 2025  2,7 biliões de seres humanos podem ficar sem água se o consumo do planeta continuar nos níveis actuais. Estas pessoas irão viver em áreas onde a quantidade de água potável será insuficiente para suprir as suas necessidades mínimas.

A crise que se aproxima está sendo atribuída à má administração dos recursos hídricos, ao crescimento populacional e às mudanças climáticas por que passa o planeta.

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As áreas sob maior risco maior de enfrentar a falta de água localizam-se nas regiões semi-áridas da Ásia e da parte da África ao sul do deserto do Saara.

Tenhamos em conta que só cerca de 3% da água da Terra é potável, sendo que a maior parte disso   se enconra na forma de gelo polar ou em camadas profundas e por isso inacessíveis do planeta.

A quantidade de água potável que está acessível – seja em lagos, rios ou represas – representa menos de 0,25% do total do meio hidrico.

Quanto às energias alternativas – a extracção do petróleo e a queima de fósseis, responsáveis maiores pela emissão de gases tóxicos – o mundo parece finalmente estar no bom caminho, mas por enquanto ainda  é impensável, e constitui uma utopia, estimar-se que a dessalinização da água do mar possa vir a solucionar a crescente falta de água potável, como consequência das já irreversíveis alterações climáticas.

Para concluir a minha crónica conferindo-te, quiçá, um tom um pouco mais aligeirado, proponho que desfrute uma peça musical do “Cante Alentejano” que é considerada um clássico. Deixo-o com os versos que mais me marcam o que nela se diz face ao que acima exponho:

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Dá-me uma gotinha d’água

Dessa que eu oiço correr

Entre pedras e pedrinhas

Entre pedras e pedrinhas

Alguma gota há-de haver…

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Alguma gota há-de haver

Quero molhar a garganta

Quero cantar como a rola

Quero cantar como a rola

Como a rola ninguém canta! …

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