Como utente habitual do Telegram, fiquei atento ao que se está a passar na plataforma após a ordem de detenção dada a Pavel Durov, cidadão da Rússia, de França e de, enfim, os Emiratos.
Quem usa fontes públicas de informação não pode ignorar a rede criada em 2011 onde coexistem os bons, os maus e os péssimos, malandros, idealistas e azeiteiros de todo o planeta e com 900 milhões de usuários ativos e cuja encriptação leva mais tempo a ser decifrada pela CIA, FSB e Mossad do que todas as redes americanas.
É também nesta plataforma, como nas americanas, que são traficadas uma quantidade de coisas más que agora se espalharam, uma vez postas à frente do ventilador, neste caso, a atividade da Surêté Française. Uma vez que esse submundo da fraude e do pequeno e médio crime participa à distância do governo dos atuais poderes e potestades, Moscovo, Nova Iorque e Paris deram sinais de grande preocupação.
O Telegram foi lançado em 14 de agosto de 2013. Apareceu como projeto experimental para testar o protocolo de criptografia MTProto em altas cargas. Com o tempo, tornou-se uma plataforma com serviços próprios, aplicações, monetarização e criptomoeda. Em 2015, os usuários passaram a dispor de canais públicos e privados, e também forneceram a desenvolvedores terceirizados uma API para a criação de bots. Os promotores lançaram jogos e serviços de namoro e os usuários podem ganhar dinheiro com os conteúdos.
No início de 2018, Durov criou no Telegram a plataforma blockchain chamada Telegram Open Network (TON) com a criptomoeda Gram. Seria um ambiente para diversas aplicações e serviços, e permitiria atrair recursos para manutenção de servidores e desenvolvimento de projetos. Um dos jogos mais populares é o Hamster Kombat, para a pequena, média ou grande burguesia que se entretém a pressionar o dedo em um hamster desenhado e acumular moedas virtuais. Talvez um dia, possa ser convertida em dinheiro real, mas ainda não está claro se isso acontecerá. Os promotores andam a debater quem foi o pai da ideia.
Em finais de 2019, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA proibiu a emissão de tokens Gram, pois a criptomoeda necessitava de um registo especial como título. Os criadores tiveram de devolver US$ 1,2 biliões aos investidores – 72% dos fundos arrecadados.
GOSTA DESTE CONTEÚDO?
- Não se esqueça de subscrever a nossa newsletter!
![](https://minhodigital.pt/wp-content/uploads/2023/10/minimanso-1.jpg)
Resumindo; o Telegram, muito mais do que uma rede social, é um instrumento de poder, pretensamente para além do bem e do mal, e é como tal que tem de ser tratado.
Durante muito tempo, o empresário investiu recursos próprios recebidos com a venda de uma participação na VKontakte no desenvolvimento da plataforma. E estamos agradecidos, nós , os usuários. Em 2018, para desenvolver o Telegram com fundos adicionais foi lançado o Telegram Open Network (TON), com a capacidade de criar miniaplicativos, incluindo os que utilizam os recursos da plataforma blockchain.
O lançamento da TON deu muitas dores de cabeça a Durov. Foi acusado de criar um “sistema financeiro descontrolado” pelo que o tentaram bloquear na Rússia em 2018. Em maio de 2020, Durov mudou a tática. Criou The Open Network – comunidade sem fins lucrativos – que assumiu o desenvolvimento do TON. E planeou uma OPV para melhorar a posição financeira da empresa, como noticiou o Financial Times em março de 2024. No entanto, após a detenção em França, será mais difícil implementar este plano num futuro próximo.
Segundo o próprio, Durov criou o Telegram com o irmão Nikolai, para permitir trocar mensagens com segurança. 2011 era o tempo dos comícios de oposição na Rússia com Boris Nemtsov, e o FSB exigiu ao VKontakte que removesse páginas oposicionistas. Durov recusou-se. Foi pressionado pelas forças de segurança. Sendo uma daqueles mentes brilhantes do século XXI decidiu ligar-se ao seu irmão mais velho, Nikolai” e… “foi assim que o Telegram apareceu.”
Do que Mr. Durov – tal como Mister Musk e o sr. Zuckerberg – não quer saber é que a consciência humana concebeu duas inovações que eles não aplicam nos cargos e empresas. Para conhecer estas inovações que se chamam o bem e o mal, é preciso aprender que mentir não está bem e que traficar órgãos, pessoas e pornografia é um mal e fazer assassinar por encomenda cibernética é o pior que tudo.
Com a ordem de detenção dada em França, e a fiança de uns míseros 5 milhões de euros, Monsieur Durov também teve de aprender, à sua custa, que a nacionalidade não é o mesmo que uma aplicação. Se ele quer francês que aprenda que há leis. Também não lavamos as mãos por muitos franceses mas não choramos lágrimas de crocodilo por nenhum empresário da net.
Seria útil que se inteirassem de mais algumas inovações que usa pouco: o apelo aos princípios pela consciência; o apelo à verdade pela filosofia; o apelo ao dever pelo direito; o apelo à equidade na punição; o apelo ao passado pela história; o apelo ao futuro pela lógica; o apelo à ação através da coragem; o apelo ao idealismo pelo pensamento; o apelo à ciência pela experimentação; o apelo à soberania do povo através do sufrágio universal; o apelo à humanidade pela educação gratuita. E já agora, em vez da liberdade da expressão, como diz o sr. Musk, o apelo à expressão da verdadeira liberdade que sabe o que é o bem e o mal.
C’est la vie, Monsieur Durov.