Os populistas da UE estão entusiasmados com a vitória do primeiro criminoso que triunfou em eleições norte-americanas; mas em breve ficarão divididos quando Trump começar a lutar contra a Europa.
Durante quatro anos, Trump teve tempo para elaborar o seu plano para a América e o resto do mundo e ninguém esquece como agora chamou “inimiga” à Europa. Sabemos qual o seu plano. O agente provocador Steve Bannon tentou trazer o trumpismo para Bruxelas em 2019 tendo por objectivo dividir a Europa e enfraquecê-la como concorrente geopolítico e económico.
A lista de amigos que Bannon contactou em 2018 foram dos primeiros a felicitar Trump nesta quarta-feira; Viktor Orbán, Marine Le Pen, Giorgia Meloni. Para este admiradores, Trump derrotou o “sistema” das últimas décadas baseado no liberalismo, globalismo, multilateralismo e no respeito pela imprensa quando esta era livre.
Mas como reagirão estes admiradores europeus quando Trump iniciar a guerra comercial contra a EU, já esboçada durante o primeiro mandato? Que farão quando a União Europeia tiver de “pagar um preço elevado” por não “importar suficientemente” e “exportar demasiado” para os EUA? Quando o protecionismo americano começar a doer?
A soberania partilhada da UE é motivo de grande irritação para Trump que não compreeende este primeiro modelo de estado pósmoderno. Kissinger também já não compreendia.
As direitas europeias inspiram-se nas promessas de Trump de uma nova era de poder, na oposição à imigração, na admiração por dirigentes autocráticos como Vladimir Putin, disfarçada de “compromisso com a paz mundial” e acompanhada por uma “punhalada nas costas” a Zelensky.
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Este fascínio das direitas europeias pelo autoritarismo vai ser minado quando em 2025 começar a ficar claro que o autocrata americano quer destruir a unidade europeia.
Na UE, os idiotas úteis nas oposições direitistas lutam pelo seu momento Trump. Mas enquanto a AfD e a Le Pen ainda gozam de irresponsabilidade no poder, Giorgia Meloni terá de reagir duramente a Trump. Em nome da Itália e da Europa que se tem portado menos mal.
A União Europeia deu passos seguros a lutar contra a COVID-19, a emitir dívida conjunta e a apoiar a Ucrânia. Contudo, nunca teve dirigentes tão enfraquecidos. Está aí a nova crise política em Berlim e uma crise prolongada em Paris, duas guerras às portas e uma rivalidade EUA-China a estrangulá-la.
O grande escudo da Europa são as instituições políticas, mais concretamente, o Parlamento Europeu eleito em Junho e a Comissão Europeia de Ursula von der Leyen, que se encontra em processo de aprovação.
Trump conhece esta resiliência. Durante o primeiro mandato, descreveu assim o então presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker: “É duro, é desagradável, é um osso duro de roer”. E no meio da guerra comercial, Juncker disse que Trump o chamou de “assassino brutal”.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen acredita a sério na relação transatlântica, e a sua equipa levou a UE para mais perto dos EUA durante o primeiro mandato, graças a uma administração amiga em Washington.
Desta vez, será diferente. O Partido Democrata conseguiu perder o voto popular, o Senado, e a Cãmara dos Representantes. Trump agora está sem travões e vai nomear centenas de juízes conservadores e mais de 50 mil pessoas para posições-chave da sua administração..
O Partido Democrata, entretanto, entrou num jogo de passa-culpas. Em vez de eleger um candidato em convenção aberta, como recomendou Barack Obama, apresentou Kamala Harris. Como “candidata à mudança”, Kamala não conseguiu dar substância ao tema da economia. Em vez de escolherem para candidato a vice-presidente um Governador experimentado como John Shapiro, escolheram um homem de muitas profissões que também é Governador. E o que é mesmo dificil explicar é como o partido perdeu 15 milhões de votantes em relação a 2020.
A situação americana é tão melindrosa que um candidato que é um criminoso condenado e um narcissista doentio venceu as eleições. Trump representou a vitória dos que estão fartos do “sistema”, dizendo às pessoas para não acreditarem em nada senão nele.
Todos sabem que Trump promete ser o grande perturbador; que quer destruir o “sistema”. Os americanos aprenderão à sua custa que não compensa ser assim tão primário. Os Europeus já o sabem.