Editorial

CRÓNICA DA EUROPA: Cuidado com os Idos de Março!

Partilhar

O historiador Suetónio narra que um vidente se aproximou de Júlio César em certo dia de fevereiro de 44. a.C e o avisou para ter cuidado com os Idos de Março que conforme o instável calendário romano ocorreria a 15 de março.

Na MSNBC, o ex-governador do partido republicano Chris Christie, conhecido por não ter papas na língua, fez algo parecido; declarou que Donald Trump não vai sobreviver politicamente a Março de 2025.

Mark Meadows foi unha com carne durante toda a campanha de 2020 e durante a fraude que se seguiu, incluindo o 6 de janeiro. Pertence agora com Cheney, Hutchinson, e poucos mais, àquele núcleo de republicanos contra Trump.  É certo que muitos políticos só são éticos, honestos e razoáveis quando lhes é vantajoso mas impoe-se uma pergunta.

Como se chegou aqui?

Desde que foi indiciado por algumas centenas de crimes, o presidente Trump sempre procurou adiamentos. Se estivesse seguro da legalidade das suas ações deveria apressar os julgamentos. Entretanto, foi condenado em Maio de 2024 por 34 crimes no caso da prostituta mas a execução da pena foi suspensa, Outros processos foram também suspensos. Sobre ele ainda pende o caso das chantagens eleitorais

A par da batalha judicial que lhe mudou o facies para aquele ar carrancudo da foto oficial, o presidente começou uma “guerra de tarifas” cheia de ambiguidades que exigem aos seus secretários de estado vir depois explicar o que o presidente queria dizer.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

As ambiguidades interpretativas que rodeiam estes acontecimentos são tão complexas como os próprios acontecimentos. Mas uma coisa destaca-se. Sabe-se pouco sobre como o próprio Trump encara as tarifas; aparentemente o “Homem das Tarifas” não tem uma interpretação coerente. Não se sabe se encara as tarifas como uma boa política económica a ser imposta independentemente das ações de outros países, ou se devem ser utilizadas apenas como uma ameaça para extrair concessões políticas ou económicas. Os acontecimentos suportam ambas as visões.

Entretanto decorrem golpes contra a república.

A gente, historicamente, sabia o que eram os golpes políticos. O centro do poder era um lugar físico. Ocupá-lo e expulsar os detentores de cargos, eliminá-los se necessário, era ganhar controlo.

Agora é diferente. Algums jovens engenheiros informáticos vão de repartição pública em repartição pública, vestidos à civil e armados com drives externas. Mediante jargão técnico e referências vagas a ordens vindas de cima, ganham acesso aos sistemas informáticos do governo federal. Feito isto, transmitam ao querido Líder o acesso à informação e o poder de iniciar e interromper todos os pagamentos governamentais.

Estão mandatados pelo DOGE, (Department of government eficiency) dirigido por  Elon e Vivek, um ex-candidato e milionário que fala como o Chatgpt. O Acrónimo DOGE parece copiado do nome da suprema autoridade da oligarquia de Veneza.

Na terceira década do século XXI, o poder é tão digital quanto físico. Os edifícios e os seres humanos abrigam computadores e, portanto, o funcionamento do governo como um todo, organizado e delimitado (em princípio) pela Constituição e direitos individuais.

Ao poder interromper os pagamentos do Departamento do Tesouro, o DOGE enfraquece a democracia. É o Congresso americano que aprova as leis sobre como gastar o dinheiro dos impostos. Se Musk tiver o poder de interromper este processo ao nível do pagamento, o Congresso tem pouca importância, e os  votos ainda menos.

A resistência ao golpe é a defesa do humano contra o digital e do democrático contra o oligárquico. Se Musk controlar estes sistemas digitais, os representantes republicanos eleitos ficarão tão desamparados como os democratas.  E o presidente Trump, também não poderá  fazer muita coisa sem os computadores do governo.

As ações do DOGE usurpam um poder a que não tem direito. Elon Musk não foi eleito para cargo algum e não há nenhum cargo que lhe dê autoridade para o que está a fazer. É também um golpe quanto aos efeitos pretendidos: anular a prática democrática e violar os direitos humanos. Ao obter dados sobre os americanos, Musk desrespeitou a noção de privacidade, e os acordos explícitos e implícitos feitos com o governo por quem paga impostos e pede empréstimos estudantis. E a posse destes dados permite chantagens e outros crimes.

Entreanto, a máquina de ordens executivas não tem parado nesta quinzena desde a eleição. Trump tem pressa, pois se aproxima o mês de Março

E o que vai acontecer em Março, segundo o governador Christie? Numa sala de tribunal em Washington DC, Donald Trump vai escutar Mark Meadows, seu antigo chefe de gabinete, a declarar que o presidente cometeu crimes “à minha frente”.

Durante sete anos, Christie teve experiência como advogado do estado de New Jersey e sabe uma coisa: o presidente Biden concedeu imunidade judicial a Mark Meadows por saber que este tem provas irrefutáveis para dar uma estocada politica mortal em Trump.

Cuidado com os Idos de Março!

 

 

 

1 comentário

  1. Excelente crónica. ! Que o “Idos de Março” possam mesmo ser um marco para o fim da insustentável situação .?

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Mais
editoriais

Também pode gostar

Junte-se a nós todas as semanas