Eduardo Dâmaso escreveu um editorial importante a 8 de janeiro. Nele define a presença crescente na política de Elon Musk e outros oligarcas norte-americanos como o triunfo dos porcos.
Conheci Eduardo Dâmaso em 2012, subdiretor do Correio da Manhã, quando me aconselhou a contactar a editora Objetiva (atualmente integrada na Penguin) para um livro que depois publiquei em conjunto, o Olá Consciência!
Quanto a mim, a perceção está correta mas pode ser completada pelo conceito de “política do porco”; alguém injeta dinheiro em campanhas, empresas, ou países – de forma legal – em troca de favores: popularidade, riqueza, acesso.
O norte-americano nascido na África do Sul e que não tem experiência política anterior gosta de se apresentar como um super-herói desde que comprou o X-Twitter e com uns trocos ajudou à derrota de Joe Biden.
Agora iniciou uma nova campanha contra os regimes europeus de centro-esquerda. Nas últimas semanas, chamou “idiota incompetente” ao chanceler Olaf Scholz, um homem chamado por Merkel a gerir o ministério das finanças em 2018. Considerou o primeiro ministro Keir Starmer, cúmplice da “violação da Grã-Bretanha” quando era procurador-geral, uma difamação sustentada por delinquentes. Sobre Volodmyr Zelensky ainda não teve uma fórmula, mas é claro que passou do apoio à hostilidade e em breve atacará.
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Sobre Justin Trudeau – que se indignou de maneira soft com a retórica de Trump sobre a invasão do Canadá – acaba de dizer no X-Twitter. “Miúda [sic]. Tu já não és governador do Canadá” . O que faz lembrar o recente editorial do The Economist de que o Canadá deveria aderir à Europa.
Musk é um imigrante com um visto H-1A, mas tornou-se entusiasta das forças anti-migração mais virulentas da Europa, desde a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni até Tommy Robinson, o ativista de extrema-direita a cumprir pena de prisão na Inglaterra e que inventou a atoarda sobre Keir Starmer
A resposta da Europa tem sido não alimentar o troll (disse Scholz) ou não responder a provocações ( disse Starmer) ” Como diz Giorgi Gotev no editorial de 8 de janeiro de The Brief é tempo de a Europa usar a sua caixa de ferramentas e travar os excessos do X.
Entre os políticos, Musk favorece Alice Weidel, a líder lésbica do partido ultra nacionalista AfD que quer retirar a Alemanha da Europa. A esta alucinada formada em Bayreuth, e cuja mulher e filhos adotados vivem na Suíça, Musk chama a “última centelha de esperança” da Alemanha.
Por que razão Musk, o homem mais rico do mundo e por enquanto nas boas graças do presidente de Mar-a-Lago – esse monumento de ostentação e mau gosto milionário – está tão obcecado com a Europa?
A resposta é simples: negócios. Pork-barrel politics. A Europa é o mercado-chave para os empreendimentos de Musk, desde a X à SpaceX e à Tesla, que tem 15% do mercado dos veículos elétricos.
A aliança de Musk com Meloni permite-lhe o acesso a políticos seniores. Roma está a negociar com a SpaceX um contrato de acesso seguro ao Starlink, o serviço de internet por satélite.
Musk, que terá sido um dos inventores da carreira política de JD Vance, o vice-presidente dos EUA, sabe o que é a pork-barrel politics. Vance já ameaçou retirar o apoio de Washington à NATO se os europeus tentarem controlar Musk.
Cada nação tem o Rasputin que merece. A Rússia teve o seu, um homem que viveu entre as orgias e o misticismo e com poderes que uns dizem hipnóticos. A América do Norte tem agora Elon Musk, o Rasputin 2.0 que dispara retórica em todas as direções que lhe favorecem os negócios.