Por empatia com as vítimas da guerra e por formação profissional tenho prestado atenção à guerra da Ucrânia, todos os dias, durante quase três anos.
Sigo os media públicos tradicionais e os blogueiros, twiteiros, telegrameiros e youtubers de referência – sejam ucranianos, russos ou de outros países – além de outras fontes. Ninguém tem, nem pode ter, um quadro completo do que se passa, como explicou Léon Tolstoi em Guerra e Paz.
Sigo as informações de quem faz a cobertura da guerra diariamente, dos que entendem o que se passa e que o público em geral não pode entender, devido à tempestade de informações e de desinformações. A Rússia iniciou o colapso económico ou a Ucrânia entrou no declínio militar? Estamos à beira da terceira guerra mundial ou o pior já passou? A eleição norte-americana decide tudo ou é preciso que algo mude um pouco para que tudo fique na mesma?
Não adianta muito dar respostas antes de perceber que em 3 anos, a natureza da guerra mudou muito e que, por outro lado, há coisas que nunca mudam.
As minas terrestres e os drones com IA, e os vários tipos de HIMARS e ATACMS tornaram muito custosos os avanços no campo de batalha. Em um ano de ofensiva, e ao preço brutal de 400.000 baixas, Putin avançou 50 km no Donetsk. Mas a dinâmica da guerra mudou. A Rússia poderia ainda ter 10.000 tanques no exército mas já não chegaria nem ao rio Dniepr. Pode ter ainda uma marinha poderosa mas um país sem armada varreu-a do Mar Negro. Pode ter uma grande aviação militar mas ouve-se falar menos dela do que na 1ª guerra mundial
Ucranianos e russos estão a mexer e a experimentar novas tecnologias, a procurar vantagem no campo de batalha. Alguns exemplos dessas inovações tecnológicas em Janeiro de 2025 são (1) os drones de caça, com espingardas de tiro disperso, a abater outros drones; (2) Mísseis terra-ar em barcos não tripulados para abater helicópteros. (3) Embarcações porta-drones que lançam drones FPV que custam uns €350 para derrubar sistemas de defesa aérea russos que custam US$ 1 milhão.
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Na guerra de drones em curso, entre a grande variedade de veículos aéreos e avanços espectaculares na guerra eletrónica, surgiram os drones de fibra óptica. Quando milhares de drones de fibra ótica são usados, como sucede nos confrontos em Kursk, é como o covil da aranha no Senhor dos Anéis; milhares de cabos pendurados em árvores numa atmosfera bizarra, mas letal.
Os ucranianos, são pioneiros e por algum motivo mantêm-se há seis meses nos 1000km2 de território russo de Kursk. Mas os russos e chineses estão a observar e as tropas norte-coreanas estão no terreno para o ditador aprender os métodos atuais. Claro, que é muito assustadora, esta combinação de alta tecnologia com massas humanas dispostas a morrer por dinheiro ou lavagem de cérebro, o que nos traz ao segundo tópico motivo:o que nunca muda.
Por um lado, temos uma guerra brutal, terrível e desgastante e com sofrimento extraordinário e um avanço tecnológico que os media descrevem mas que mesmo as hierarquias militares e os políticos de serviço ainda estão a tentar compreender. Por outro lado, na Europa, entre 1945 e, digamos, 2012, tivemos o período mais pacífico de existência e que parecia ser o fim dos impérios.
Afinal, vemos que a era dos impérios é a condição humana natural, é para onde a natureza humana gravita. Em 10.000 anos de história, temos registos de mais de 10.000 guerras. A cultura humana é violenta e as sociedades recorrem ao império para se afirmarem. Para uns é a Nova Rússia, para outros a Gronelândia. Crescer, “ser outra vez grande”, atacar e matar o vizinho ou roubá-lo antes que ele cresça, nos ataque, mate e roube, é um terrível instinto humano.
Na guerra da Ucránia, os ucranianos e os amigos da paz procuram mostrar ao mundo que é preciso resistir ao instinto imperial, por muito que isso nos custe em tranquilidade, essa tranquilidade que ilusoriamente tomávamos por paz
2 comentários
“Na guerra da Ucránia, os ucranianos e os amigos da paz procuram mostrar ao mundo que é preciso resistir ao instinto imperial, por muito que isso nos custe em tranquilidade, essa tranquilidade que ilusoriamente tomávamos por paz” e ” para uns é a Nova Rússia, para outros a Gronelandia…”
Notável artigo; obriga a refexão! Incrível como há 3 abos, 30 e 70 anos se mantêm os preconceitos da Rússia como um país de bárbaros, tecnologicamente atrasados e que bastava a vetborreia e propaganda ocidentais para os impressionar e derrotar. As ilusões vendidas pelas legioes de comentadores nas redes sociais e jornais pertencentes aos mesmos donos, durante 3 anos, censurando acessos a fontes alternativas à contra informação; tentando apagar a Cultura Russa como parte da Cultura Europeia e o wokismo primário e ianque como solução e futuro para a UE… e os apelos do Vaticano e do Papa, dedde o início; mas, a realidade dos factos, no terreno ditarão as condições do cesaar fogo e os termos das negociações para a Paz. Morreu gente demais! Porquê? O imperialismo nunca desistiu…
Quem se lembra de Estaline e outros da Europa? Seguiu-se ditadura, fascista e social fascista.
Direita e Esquerda.
Interessa, vida social.
Ponto final.