Editorial

Crónicas da Europa: A oposição russa precisa de um Politburo?
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Mendo Henriques

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A oposição política russa no exílio enfrenta duros desafios desde o 24 de fevereiro de 2022.

Teve de aprender a lidar com o isolamento do país, criar uma nova agenda e, após o assassinato de Alexei Navalny, lutar contra a depressão e o desespero. O ataque a Volkov, em março de 2024 próximo de Navalny, enviou uma mensagem de intimidação aos exilados. A libertação de Ilya Yashin e Vladimir Kara-Murza a 2 de agosto, trouxe de Putin uma mensagem de radicalização; não precisamos de vocês; 8 ou 80; a guerra irá até ao seu desenlace

No entanto, a oposição sobreviveu, apoiando a parcela independente da sociedade russa e transmitindo informações sobre o que sucede na Rússia, na Ucrânia e no mundo. Mas ao existirem e operarem isoladamente, sem se unir por uma causa comum, fazem bem ou fazem mal?

Existem várias estruturas ativas na oposição russa. 1) O FBK de Navalny continua a ser uma importante organização 2) Mikhail Khodorkovsky financia vários meios de comunicação e organizações; 3) Garry Kasparov do Fórum Rússia Livre organiza conferências de oposição e lançou o Reforum, desde 2020 como plataforma de debates; 4) A Fundação Rússia Livre, fundada por emigrantes em Washington em 2014, tem filiais em vários países (Casa da Rússia Livre) e faz lobby nos EUA e na Europa; 5) O “Congresso dos Deputados do Povo” de Ilya Ponomarev, ex-membro da Duma, apoia a oposição armada ao Kremlin; 6) A resistência feminista anti-guerra coliga ativistas no estrangeiro e na Rússia; 7) O “Clube Democrático Russo”, de Gennady (pai) e Dmitry (filho) Gudkov associa forças democráticas; 8) vários grupos defendem a independência das regiões num estado russo pós-Putin.

O líder da oposição russa Alexei Navalny, a sua esposa Yulia, e o político oposicionista Lyubov Sobol e outros manifestantes numa marcha no centro de Mocovo em 29 de fevereiro de 2020. (Foto de KIRILL KUDRYAVTSEV/AFP via Getty Images.)

 

A primeira questão na Rússia, conforme escreveu Tchernichevski, é sempre Que fazer? 

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Não cabe à oposição russa formar um governo no exílio, porque Putin não invadiu a Rússia nem derrubou o governo legítimo. Ao contrário do ditador bielorrusso Lukashenko, que cometeu o erro de permitir que Svetlana Tikhanovskaya participasse em eleições, Putin nunca tal permitiu.

Os governos ocidentais apreciariam ter um líder e uma organização para discutir os contornos de uma Rússia pós-Putin. Acreditam que a mensagem de uma oposição unida será mais poderosa e que a coordenação permitir trabalhar os planos para uma Rússia pós-Putin. Será assim?

Em 2022, Andrey Soldatov, Irina Borogan mostraram que a oposição russa concentrou-se em reforçar os meios de comunicação face à repressão e intolerância a qualquer atividade da oposição após a invasão em grande escala. O YouTube e as redes sociais são ferramentas poderosas de mobilização. Mais de 70 meios de comunicação no exílio têm uma audiência de milhões de pessoa.

Os jornalistas e ativistas da oposição têm trabalhado juntos; quando surge uma nova proposta ou investigação, é logo recolhida e discutida em todas as plataformas. Nas condições atuais, mais parece melhor; cada meio tem o seu público, na Rússia e na diáspora.

Houve um Conselho de Coordenação da Oposição na Rússia em 2012-2013 mas a maioria dos membros acabaram no exílio, na prisão ou mortos, como Nemtsov e Navalny. Um argumento dos defensores da oposição unida, é que é preciso criar um plano de revolta anti-Putin. É um trabalho já em andamento. O projecto de uma Nova Constituição russa foi publicado por Grigory Yudin, Evgeniy Roshchin e Artemy Magun e logo debatida pelos russos livres, no país e no exterior.

Na década de 1990, foi possível construir uma Rússia democrática, mas perante a inconsistência dos partidos livres, cresceu e impôs-se o pesadelo Putin. Nesta fase, mais do que uma plataforma política comum, os grupos da oposição livre precisam de trabalhar as suas agendas políticas. A imagem de membros idosos do Politburo a ouvir um dirigente supremo está impressa na consciência russa, mas como se vê, com maus resultados para a Rússia, a Ucrânia e o mundo.

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