Editorial

Crónicas da Europa: Tudo mudou com Kamala Harris

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Na América, tudo tem de ser em grande.

Há um mês era o pior debate político da história das campanhas.

Há duas semanas, era a tentativa de assassinato do candidato presidencial.  Agora, é a nomeação da vicepresidente Kamala Harris como candidata a Presidente pelo Partido Democrático e a crescente probabilidade de Trump ser derrotado por uma mulher, negra, mais jovem e, conforme os registo criminais, honesta.

Resta a escolha do candidato vice-presidencial. Kamala tem um trabalho fácil em escolher quem a ajude a ganhar nos estados da Rust Belt, alguém da sua geração ou mais novo, e talvez homem e branco para compor o perfil eleitoral. Alguém como Andy Beshear ou Josh Shapiro.

Para Donald Trump e J.D. Vance, a eleição tem conotações mais mórbidas. O primeiro deve querer morrer na Casa Branca, como seguro contra os múltiplos processos judiciais em que está atolado e que tem paralelos com o agarrar-se ao poder por parte de Putin e Xi Jinping, que também querem “morrer no cargo”.

Com o candidato  Vance, o caso é diferente. Foi a escolha dos oligarcas das novas tecnologias – Elon Musk, David Sacks ( PayPal e ++)  Peter Thiel  (Palantir e +). É também a opção preferida pelo Kremlin ao defender uma política externa de abandono da Ucrãnia. É o menino bonito  dos grandes oligarcas, não é um cliente de Trump mas este obtém fundos (por exemplo, a promessa de 45 milhões de dólares por mês de Musk), de quem pensa instalar o seu sucessor.

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Agora, com Kamala, tudo mudou. Os propagandistas russos já se estão a virar contra Vance. Os oligarcas gostariam de dirigir o governo americano mas,  se falharem, nada de especial lhes acontecerá. Até Musk nega ter prometido 45 milhões para Trump. Este tem  agora uma campanha muito difícil pela frente, a puxar a sua tribo apegada ao passado pré-Covid e pré-Ucrânia e a puxar Vance.

Vance ficou famoso quando se opôs a Trump apelidando-o de “idiota” e que podia ser o “Hitler da América”. Afirma que os governos devem ceder perante as liberdades individuais, o que não se coaduna com a fantasia do homem forte de Trump. Segundo Vance, os governos devem ser fracos, os oligarcas podem fazer negócios à vontade, enquanto os ditadores podem governar o mundo.

Mas os direitos reprodutivos serão fundamentais nesta campanha; Kamala Harris irá certamente afirmar que os direitos sobre o corpo da mulher não devem ser ditados pelos governo. Vance, em contraste, é famoso por apoiar a proibição nacional do aborto. Em Novembro de 2023, o Ohio codificou os direitos de reprodução na constituição do estado através de um referendo – com um voto de 57% a favor. Foi uma derrota pessoal para Vance, que caracterizou a maioria pró-escolha do Ohio como “sociopatas” que “assassinaram os seus próprios filhos”.

Vance tem agora de contemplar o que significará perder ao lado de Trump– numa eleição em que os republicanos furiosos foram treinados para a vitória esmagadora. No reino da estupidez política, iremos rir ou chorar nos próximos meses com este indivíduo. Choraríamos, se ele porventura ganhasse. Estou convicto que os restos de bom senso no eleitorado americano o derrotarão, a ele e a Trump que expulsou o bom senso do seu partido.

 

24 Julho de 2024

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