Zita Leal
Professora
(Aposentada)
Estou a referir-me àquela dama de balança numa mão, espada na outra, venda nos olhos, vestes compridas e que geralmente é feia como os trovões e noutras tem um ar elegante e simpático. As novas versões são assim. Estacionam sempre à porta dos tribunais, gigantes de pedra a impor respeito.
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Perguntava eu em miúda à minha mãe a razão da altura desmesurada daquela mulheraça de espada ameaçadora e a resposta nunca me convenceu: a altura era para que o povo se sentisse baixinho, tal como as paredes enormes das igrejas obrigavam a que nos sentíssemos humildes e respeitadores dos deuses. Então para mandar, corrigir, fazer respeitar as crenças era preciso ser tão mais alto? O povo só respeita quem o olha de cima abaixo? Nunca aceitei a explicação.
Correu o tempo e agora quase sem tempo pergunto: a Justiça (assim chamam à gigantona mal-acabada) será na verdade ceguinha para ajuizar sem olhar a quem? Ladrões de colarinho branco saem ilibados porque o tempo prescreveu e o ladrão de trazer por casa, sem alto gabarito é engavetado por ter cobiçado meia dúzia de euros?
Será que ela só vê para um lado?
Pais violam, admitem o crime e não são enclausurados, em nome de quê?
Cabeças humanas rolam pela praia, cadáveres estropiados aparecem nas matas, nos contentores, mas as provas de delito não são convincentes?
Ah, é porque é conveniente a culpa morrer solteira para que os euros se passeiem à vontade pelos corredores das Casas de Justiça?
Algo está podre no reino da Gigantona e ela não é cega não!