Editorial

CRÓNICAS DE TRAZER POR CASA: Avó que eu julguei ser minha
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Zita Leal

Zita Leal

Professora

(Aposentada)

Agora que as avós e os avôs estão com tendência para desaparecer quais dinossauros de antanho, resolvi trazer para estas crónicas de trazer por casa a memória que ainda me resta do meu tempo de “ neta “.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Eis a primeira: “ Chamava-se Balbina, a rondar os setenta anos, vestida de castanho quase até ao chão, com gorgorões dourados a debruar o vestido e de bengala na mão. Confirmo a descrição com uma fotografia sépia metida numa moldura escura com cantinhos de prata. Hoje as minhas molduras são da loja dos trezentos…

Morava numa casinha de porta e janelas verde garrafa que ainda resiste ao tempo e que quem for a ” Peniche de cima “ encontrará no largo da Igreja. Esta igreja mais capela que igreja tem um Senhor de pedra deitado num túmulo que segundo a lenda estica e encolhe as pernas de 100 em 100 anos. Nunca assisti ao milagre mas a tentativa de ir ver o Jesus morto esticar ou encolher as pernas valeu-me algumas sapatadas no rabo. Não havia jardim escola, crianças também não que os moradores eram os faroleiros já idosos e eu tinha que me entreter com alguma coisa. Vamos a ver se quando chegar lá acima me aplicarão algum correctivo também…

Recordo uma estrada de terra batida, único caminho de ligação entre Peniche de cima chamado mais propriamente de Remédios, e Peniche de baixo todo modernaço nos dias de hoje. Esta estrada também está ligada à memória da avó Balbina porque nunca me deixou ir vê-la à conta de uma cobra gigante que a atravessava só com a cabeça!!! Morria de medo mas ansiava encontrá-la. Como a Lourinhã é naquela zona, creio que a lenda terá a ver com passeatas de dinossauros ou cobras gigantes que talvez vivessem por aí. Quem sabe!!!

Mais tarde descobri que a avó que eu conhecia e me contava estas histórias tão empolgantes para a minha idade, afinal não era minha avó. Era a terceira mulher do avô que não conheci. Mas gostei dela na mesma.

Quem é que me encaminhou para os milagres da imaginação? Quem me falou em senhores de pedra que esticam e encolhem as pernas? Quem me levou a imaginar cobras gigantes que atravessavam ruas só com o tamanho da cabeça?

E ainda há cérebros pequeninos que chamam peste grisalha aos avós deste tempo!!! Que falta fazem na vida de uma criança ainda que não sejam do mesmo sangue! Não deixem morrer os avós!

 

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