Editorial

CRÓNICAS DE TRAZER POR CASA: Sai de cena quem não é de cena…
Picture of Zita Leal

Zita Leal

Não estou a falar de saídas ou entradas em palco. Essas deixo-as para quem sabe do assunto porque as minhas entradas em cena resumiram–se a uma declamação de há sessenta anos mais coisa menos coisa.

Foi a primeira apresentação do CETA ( Círculo Experimental de Teatro de Aveiro ) e mais nada me foi permitido. Os censores mais eficientes estavam no próprio seio familiar e uma menina pura e virgem aparecer encavalitada num andaime a elogiar a cidade, não parecia bem. Frustrada? Fiquei. A vingança servia-a quentinha contrariamente ao que se aconselha: dois anos passados, nem pura, nem virgem…

Esta “cena“ é outra e enquadra-se na tragicomédia de que todos somos actores. Por razões  de saúde, de amores mal amados, de tabus, de situações complicadas na vida, somos algumas vezes obrigados a “ sair de cenas “que julgávamos bem estruturadas. Nada é para sempre aprendemos na escola da vida e por muito que uma pessoa ache que com ela será para sempre, não é.

Estou a recordar aqueles almoços que abancavam os familiares mais próximos à roda do arroz de frango, das pataniscas, do sarrabulho com rojões e tudo, e nem sei onde ficaram. Eles e nós, os velhotes, fomos saindo de cena. Nem sempre percebíamos que estávamos a mais, mas estávamos. Aliás, já achamos normalíssimo o sushi, as pavlovas, os brownes darem um “ chega p’ra lá “aos tachos que também já vão saindo de cena. Se é assim, por que é que eu falo no assunto? É porque tenho falta da sopa à “ Gafanhão”, da raia de pitau, do arroz doce à moda de Ílhavo, do escabeche de chicharro e de tantas outras comidinhas que já foram no arrasto das coisas saborosas. E não as faz porquê??? Pois. É que as cruzes não deixam, as artroses armam-se em ditadoras de joelhos e pulsos e eu não tenho outro remédio senão “ sair de cena “ Já não faço parte desta cena . FUI!

Mais
editoriais

Junte-se a nós todas as semanas