Editorial

A CULTURA DA SATISFAÇÃO
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Joaquim Letria

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Joaquim Letria

Professor Universitário

O Mundo vive hoje – e em boa verdade desde sempre – um período caracterizado pelo lucro rápido, a especulação e a desigual repartição da riqueza e do bem estar.

Na minha modesta opinião, o problema transcende fórmulas de economia e reside talvez naquilo a que se pode chamar de autocomplacência. Este conceito serviu para urdir uma trama perfeita em que assenta um novo tipo de dominação classista, assente no medo e na incerteza, inimiga do estado do bem-estar, ferozmente egoísta e destruidora de tudo quanto se possa assemelhar a solidariedade.

Este estado de complacência corresponde à ascensão ao poder de uma minoria de privilegiados que não tem outro interesse para além do curto prazo no que respeita aos seus projectos políticos e financeiros e se faz servir por hordas de sicários brutais, medíocres e desprezíveis.

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Os resultados são temíveis.

Em nome da liberdade de mercado, o capitalismo está a destruir o próprio mercado e a mutilar-se a si próprio.

A tendência autodestrutiva do capitalismo moderno começa na grande empresa e acaba na perversão das finanças, nos destroços ecológicos, na exploração dos despojados, no abandono do investimento público, no crescimento do défice, na especulação e destruição da riqueza industrial, no desmoronamento do Estado – Previdência e, finalmente no desemprego endémico e no emprego frágil destinado à sub-classe dos desfavorecidos, dos imigrantes, dos desempregados, dos jovens e dos antigos operários.

A paisagem real é terrível: violência, drogas, guetos de miséria urbana e tráfico de seres humanos de um lado e, do outro, uma pequena minoria de privilegiados capaz de aforrar mais de metade do rendimento mundial.

A cultura da satisfação, ou da autocomplacência como lhe chamaram, converteu-se em sistema, com a sua antropologia, a sua moral própria, a sua filosofia apressada, os seus aparelhos políticos e as suas influências externas.

Hoje, a cultura da satisfação domina o mundo. O que vai ser o nosso futuro ninguém sabe. O único alívio que podemos encontrar para as nossas preocupações é que um dia surja uma maioria activa que eleja presidentes honestos, governos sérios e competentes e dirigentes de verdade que resolvam os verdadeiros problemas e dêem resposta às autênticas necessidades humanas.

 

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